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Um caso de amor entre um pastor e sua igreja (Filipenses 1.3-11)

Fotos da Capela de Santa Lidia

 

O relacionamento entre Paulo e os Filipenses foi intenso desde o início. Paulo estava no meio de sua segunda viagem “missionária”. O objetivo não era visitar novos lugares e plantar novas igrejas, mas fortalecer os novos convertidos e igrejas fundidas na primeira viagem (At 15.36). Quando Paulo chega na região da Frígia, no entanto, o Espírito Santo começou a impedir os planos originais de Paulo de ir para a Ásia e Bitínia (At 16.6-7). Tendo deixado claro onde Paulo, Silas e Timóteo não deveriam ir, com uma visão noturna, o Espírito Santo mostrou que seu plano para o grupo é que fossem para a Macedônia, região onde o evangelho ainda não havia sido pregado (At 16.9-10). A primeira grande cidade do distrito romano da Macedônia era Filipos, uma colônia romana (At 16.12).

Em Filipos, provavelmente não havia sinagoga dos judeus, assim, Paulo andou pela cidade e encontrou um grupo de mulheres judias orando. Paulo pregou o evangelho para aquelas mulheres e o resultado é que Lídia, uma mulher gentia temente a Deus, se converteu e foi batizada com toda a sua família, recebendo Paulo a comitiva missionária, juntamente com Lucas, em sua casa (At 16.13-15). Depois disso Paulo expeliu o demônio de uma jovem adivinhadora, causou alvoroço na cidade e, juntamente com Silas, foi espancado e preso (At 16.19-24). Paulo e Silas, na prisão, à meia-noite, cantavam e louvavam ao Senhor e, e, reposta, Deus enviou um terremoto que abalou as estruturas da prisão (At 16.25-26). Segue-se a isso a conversão dramática do carcereiro, que de madrugada foi batizado juntamente com toda a sua casa (At 16.27-34). No dia seguinte, depois de ser solto, Paulo e sua comitiva visitaram a pequena igreja que havia nascido em meio a tantos eventos espetaculares e sôfregos (At 16.35-40). Tudo isso aconteceu em torno de 51 d.C.

Somente em torno de 56 d.C, Paulo teve a oportunidade de voltar àquela igreja (At 20.1-6). Nesse interregno, mesmo enfrentando perseguição e dificuldades (Fp 1.27-30), a igreja se desenvolveu e nunca esqueceu do apóstolo, mas foi uma das poucas igrejas que participou ativamente do ministério de Paulo enviando-lhe ofertas sempre que possível e enviando até mesmo Epafrodito para ser uma espécie de ajudante do apóstolo enquanto este estava preso (Fp 4.14-18 e Fp 2.25-30).

Em torno de 61 d.C., dez anos após ter feito a primeira visita à Filipos e estando preso (At 28.30-31), Paulo escreve uma carta para a sua amada igreja de Filipos. A carta é uma forma de Paulo se fazer presente, mesmo estando preso, sem poder sair de Roma. Paulo quer fortalecer e animar os irmãos de Filipos, tão presentes em seu ministério. Paulo também quer agradecer-lhes pelas ofertas, informar-lhes de sua situação e ajudá-los ajudá-los a resolver o problema das divisões internas causadas por orgulho. A carta de Paulo para os Filipenses é cheia de Jesus Cristo, do evangelho, de comunhão e de alegria.

Na ação de graças de Paulo encontramos em semente vários dos assuntos que serão desenvolvidos no corpo da carta. O texto diz assim:

 

3 Agradeço a meu Deus toda vez que me lembro de vocês. 4 Em todas as minhas orações em favor de vocês, sempre oro com alegria 5 por causa da cooperação que vocês têm dado ao evangelho, desde o primeiro dia até agora.

6 Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus. 7 É justo que eu assim me sinta a respeito de todos vocês, uma vez que os tenho em meu coração, pois, quer nas correntes que me prendem, quer defendendo e confirmando o evangelho, todos vocês participam comigo da graça de Deus. 8 Deus é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês, com a profunda afeição de Cristo Jesus.

9 Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, 10 para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo, 11 cheios do fruto da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.

Podemos dividir a introdução de Paulo em três partes: gratidão, confirmação e oração. Em todas as partes, Paulo expressa claramente a grande afeição que tem pelos filipenses.

Na gratidão (Fp 1.3-5), Paulo lhes diz que agradece a Deus quando ora por eles e o faz com alegria (um dos temas centrais da carta). O motivo da gratidão alegre do apóstolo é a comunhão dos filipenses com respeito ao evangelho desde o primeiro dia até à época da escrita da carta (ἐπὶ τῇ κοινωνίᾳ ὑμῶν εἰς τὸ εὐαγγέλιον ἀπὸ τῆς πρώτης ἡμέρας ἄχρι τοῦ νῦν). A palavra grega para comunhão é koinonia, que aponta em Paulo para uma comunhão sobrenatural que pessoas têm entre si por causa de Cristo Jesus. Em suma, Paulo era grato porque os filipenses haviam se convertido verdadeiramente e em sua comunhão comum com Cristo ele e os Filipenses, mesmo distantes, continuavam se abençoando mutuamente. Que pastor! Que igreja!

Chamamos a segunda parte da ação de graças paulina de confirmação (Fp 1.6-8). No grego não existe um novo parágrafo aqui, mas um particípio que aponta para a modo como Paulo agradece: estando certo… A NVI para facilitar a compreensão começa um novo parágrafo aqui. A primeira confirmação que Paulo faz ao filipenses é da salvação final deles! Por causa da koinonia deles com respeito ao evangelho, Paulo afirma que estava persuadido de que a mudança que havia ocorrido na vida deles era obra de Jesus Cristo é que este mesmo Jesus iria completar a obra na vida deles no dia de Sua vinda (Fp 1.6). A segunda confirmação que Paulo faz é que os filipenses eram fundamentais na sua vida. O apóstolo expressão seu amor (eu tenho vocês em meu coração), e o reconhecimento de que eles o suportaram tanto na prisão (nas correntes que me prendem) quanto no ministério missionário (na defesa e confirmação do evangelho). Assim, Paulo coloca os filipenses no mesmo nível que ele, pois juntos eles são co-participantes (co-comungantes, “co-koinonos”, συγκοινωνούς) da mesma graça que salva e capacita para o trabalho. Paulo conclui a seção reafirmando seu amor pelos filipenses, expressando seu profunda desejo de estar com eles e relacionando este desejo aos sentimentos mais profundos (literalmente, entranhas) de Cristo Jesus.

A última parte da ação de graças é a oração (Fp 1.9-11). A oração de Paulo é como um trem de ideias. Em primeiro lugar ele pede a Deus que o amor fraternos dos filipenses creça cada vez mais, mas ele pede que isso aconteça não somente baseado em sentimentalismo, mas baseado em conhecimento e discernimento. O apóstolo, então, pede a Deus (e de quebra exorta os filipenses) que esse discernimento deveria aparecer de forma explícita na escolha de coisas puras e na produção de frutos por meio de Jesus Cristo. Paulo pede que isso aconteça até o dia de Cristo e ao final, redunde para a glória e louvor de Deus. Basicamente, então, Paulo pede a Deus que os filipenses tenham amor, conhecimento, pureza e boas obras e reconhece que isso é obra de Cristo neles.

Paulo e os filipenses tiveram um “casamento perfeito”. Isso só foi possível por que a comunhão sobrenatural do próprio Jesus Cristo os aproximou. O verdadeiro evangelho da graça transformou os filipenses de forma tão profunda, que, mesmo em sua pobreza e perseguição, eles se tornaram os maiores parceiros do apóstolo Paulo. Paulo agradece, confirma que isso era obra de Deus, confirma o seu profundo amor por eles e ora para que Deus complete a obra que estava fazendo neles.

As lições desse texto para hoje são diversas. Aprendemos sobre o relacionamento en re um pastor (missionário, plantador de igreja) e suas ovelhas. O relacionamento que há entre Paulo e os filipenses é profundamente afetuoso. Paulo reconhece que é um relacionamento baseado em Cristo Jesus em que ambas as partes por obra de Cristo se abençoam mutuamente. Quem dera obreiros e igrejas vissem assim uns aos outros!

Por mais que os filipenses já demonstrassem grande avanço na fé, ainda havia espaço para melhorarem e Paulo tem como certo de que eles melhorariam. Se estamos na fé, devemos olhar para nós mesmos da mesma forma. Sim, é possível que Deus já tenha feito muito por teu intermédio, mas certamente ainda há espaço para que você se torne mais amoroso com teus irmãos em Cristo, mais conhecedor da verdade, mais puro em pensamentos e atitudes e um praticante mais assíduo de boas obras. Cristo em você torna isso possível. Cristo em você torna isso sua responsabilidade. Assim, gratos e alegres por aquilo que ele faz no corpo e conscientes do que ele tem feito em nós, busquemos maturidade cristã para a glória daquele que começou boa obra em nós.

 

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João Paulo Thomaz de Aquino
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