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Você está satisfeito?

Você já reparou como algumas pessoas nunca admitem estar com uma boa condição financeira? O colega te conta que comprou um carro novo e logo já fala que foi uma oportunidade maravilhosa e que todo o dinheiro acabou. A amiga fala das luzes caríssimas que fez e logo fala sobre o tremendo esforço financeiro para tornar isso possível. O amigo conta sobre o sofrimento econômico ao mesmo tempo em que vive um estilo de vida que não revela nenhuma dificuldade!

Há muitas pessoas que tem uma tendência enorme de apresentar uma imagem de que o dinheiro está curto, quando na verdade não está. As razões para essa atitude variam: medo de que outros peçam emprestado (ou “acampem”), medo de perder alguma vantagem que somente seria oferecida aos mais pobres, e, principalmente, insatisfação, ou seja, o desejo de ter mais acompanhado de um senso de mérito e uma ingratidão por aquilo que já se tem.

Vivemos em um mundo que depende de nossa insatisfação. Todo o marketing comercial visa a criar uma insatisfação generalizada. Por exemplo, a apresentação maravilhosa do iPhone 7, seguida de comerciais em todo o tipo de mídia, visa a te deixar insatisfeito, mesmo que você tenha um iPhone 5 ou 6, funcionando em perfeitas condições e mesmo que até um dia antes do lançamento do novo modelo o seu celular satisfazia plenamente as suas necessidades (e muito além).

Em geral, não nos sentimos satisfeitos e alegres porque achamos que merecemos mais e focamos nossa atenção naqueles que tem mais. Raramente agradecemos de forma genuína pelo que já temos e focamos naqueles que tem menos do que nós. Nossos filhos acham que tem direito de ter celular, tablet, roupas, tênis e acessórios de marca e são bombardeados com novas necessidades à medida em que midiaticamente interagem com famosos e famosas. Conseguimos detectar o problema neles e temos boas respostas, mas via de regra não percebemos que nós também vivemos com o mesmo desejo constante por aquilo que não temos – e não precisamos. Outro problema é que, como nos achamos pobres, não estamos dispostos a ajudar aqueles que tem menos do que nós.

Há muitos textos e doutrinas bíblicos que abordam o problema da insatisfação. Quero focar aqui na conclusão de Paulo da carta aos Filipenses: Paulo estava preso por pregar o evangelho. Embora estivesse em uma prisão domiciliar (Atos 28), o apóstolo dependia de pessoas que comprassem comida, roupas etc. e trouxessem para ele.

Condoídos pela situação do apóstolo Paulo, os filipenses, que em geral eram pobres, enviaram ao apóstolomais uma vez, uma oferta e, juntamente com ela, Epafrodito, um líder da igreja que serviria Paulo em suas necessidades (Filipenses 3). Um dos motivos pelos quais Paulo escreve essa carta é exatamente para agradecer os filipenses pela sua parceria (koinonia) em seu ministério, desde o início. Ao mesmo tempo, Paulo aproveita para lhes ensinar sobre a verdadeira satisfação:

 

10 Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. 11 Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. 12 Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; 13 tudo posso naquele que me fortalece. 14 Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação. 15 E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; 16 porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades. 17 Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito. 18 Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus. 19 E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades. 20 Ora, a nosso Deus e Pai seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém! (Filipenses 4.10-20)

 

Paulo afirma aos filipenses que a oferta que eles enviaram foi motivo de grande alegria para ele. O motivo de toda essa santa alegria, no entanto, não era o dinheiro em si, mas a atitude dos filipenses! A oferta dos Filipenses confirmava a comunhão espiritual (koinonia nos v. 14 e 15) entre os Filipenses, Paulo e Jesus Cristo. Além disso, a oferta aumentava o crédito dos filipenses diante de Deus (v. 17). Finalmente, Paulo se alegrava muito pela oferta dos filipenses porque tal oferta era, na verdade, um sacrifício a Deus, glorificando-O e tornando-O satisfeito com aquela igreja. É por isso que Paulo está seguro de que Deus supriria cada uma das necessidades dos filipenses e louvava a Deus tão efusivamente pela vida deles (v. 19-20).

Embora a gratidão de Paulo seja intensa, de certa forma parece que o apóstolo despreza a oferta em si. Porque ele faz isso? Paulo explica isso nos versículos 11 a 13. O motivo é que Paulo havia aprendido a viver contente, satisfeito (αὐτάρκης) em toda e qualquer situação. Visto que Deus era aquele que o fortalecia (dava poder), Paulo sabia ser capaz de enfrentar qualquer situação, tanto de abundância, quando de escassez; tanto de honra, quanto de desonra. Em qualquer situação ele estaria bem, pois Deus era a sua força. Paulo não dizia isso apenas da boca para fora, mas já havia experimentado de forma prática as mais diversas e adversas situações e havia aprendido que, de uma forma ou de outra, Deus cuidava dele e o fortalecia. Paulo sabia inclusive que “o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9).

Assim, ao receber a oferta dos filipenses, Paulo não pede mais, não se apresenta como um sofredor, não fala quanto tempo duraria aquela oferta, mas afirma que recebeu tudo, tinha abundância e estava suprido (v. 18). Ao mesmo tempo ele lembra os filipenses de que a satisfação não depende de ter uma situação financeira favorável, mas de ter o poder de Deus que vem por meio de Jesus Cristo. É esse poder que traz satisfação e alegria em todo o tipo de situação. Na pobreza ou riqueza, “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” e “tudo posso naquele que me fortalece”.

Tanto Paulo quando os filipenses, mesmo em meio a tribulação e pobreza, usufruíam uma alegria verdadeira que nenhuma compra pode gerar. Paulo dá testemunho disso aos Coríntios: “Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade” (2 Coríntios 8.1-2).

Você está satisfeito? Quanto você reclama e quanto você agradece? Você é um daqueles ou uma daquelas que vive reclamando de barriga cheia? Analise friamente as suas condições em Cristo e você chegará à conclusão que tem tudo o de que precisa para ser satisfeito e alegre! Analise a sua situação financeira à luz daqueles que são realmente pobres e você provavelmente chegará à conclusão de que tem o suficiente inclusive para investir na obra missionária, na igreja local, em instituições cristãs sérias e auxiliar financeiramente irmãos em Cristo que realmente estão enfrentando dificuldades financeiras. Lembre-se, você pode tudo naquele que te fortalece e Ele mesmo te convida a viver satisfeito nele. Você topa?

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João Paulo Thomaz de Aquino
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Criado por João Paulo Thomaz de Aquino