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Leônidas e a grande comissão

O que o rei Leônidas dos espartanos tem a ver com a grande comissão de Jesus?

Assista o vídeo do canal Aprenda Logos:

Em Mateus 28.18-19 temos o texto conhecido como a grande comissão – a ordem de Jesus para que seus discípulos façam outros discípulos de todas as nações. Esse é um texto muito usado quando se fala de fazer missões, de partir para outro lugar e pregar o evangelho de Jesus Cristo.

Até mesmo pelo fato de ser usado em diferentes enfoques para falar de missões, a sua leitura tem sido alvo de diferentes interpretações. O cerne do debate é a construção gramatical no início do texto em que temos dois verbos: vão e façam discípulos (πορευθέντες οὖν μαθητεύσατε). O primeiro verbo é um aoristo particípio e o segundo um imperativo. Portanto, se é esse o caso dos verbos no grego, nós poderíamos simplesmente ler “literalmente” (ou simplisticamente), traduzindo o primeiro verbo πορεύομαι no particípio, como indo. E então traduzir o segundo verbo μαθητεύω no imperativo, como façam discípulos.

Com essa leitura alguns usam a grande comissão para dizer que Jesus quer que estejamos caminhando e, ao mesmo tempo, fazendo discípulos. Essa leitura coloca um peso no ir tanto quanto no fazer discípulos. A questão é: será que ambos verbos têm o mesmo peso, a mesma ênfase e, devem ser lidos como “enquanto vocês praticam a primeira ação, façam a segunda”?

É nesse ponto que um artigo escrito pelo Mark Ward, para o Logos Talk (https://blog.logos.com/2020/05/tattoo-inspired-new-testament-exegesis/#more-105612) apresenta um ótimo argumento para deixar claro que a melhor leitura da grande comissão é entender que o verbo particípio πορεύομαι está apenas dando ênfase ao imperativo μαθητεύω. Façam discípulos é o ponto principal e, o vão apenas reforça o façam discípulos.

Mark Ward apresenta o texto da famosa frase do rei Leônidas, que encontramos na literatura grega clássica, em que ele diz ΜΟΛΩΝ ΛΑΒΕ, que numa tradução livre seria algo como “venha e pegue”. No contexto da história, os persas pedem para que os espartanos entreguem suas armas, e então Leônidas responde “venha e pegue as”. O importante desse texto clássico é que ele tem a mesma construção gramatical que a grande comissão. É baseado nisso que Mark Ward apresenta o cerne do seu argumento: Você pode imaginar que Leônidas quisesse dizer então aos persas: “vindo, peguem as armas”, ou “enquanto estiverem vindo, pequem as armas”? Ora, ninguém fala dessa forma e o contexto histórico evidencia que Leônidas não queria dar essa ideia e sim que o desafio é “vir pegar” e não “pegar enquanto vem”.

O mais legal disso é que você mesmo pode verificar essas ocorrências dentro do Software Bíblico Logos, tanto no texto bíblico quanto na literatura clássica.

Você encontra no Logos a Perseus Collection que é totalmente gratuita e oferece uma imensa biblioteca da literatura grega clássica (https://www.logos.com/product/9940/perseus-classics-collection). Nela você encontrará a citação sobre Leônidas e poderá conferir a morfologia grega.

Quanto ao texto do Novo Testamento, abra na Almeida Revista e Atualizada o texto da grande comissão e verifique a morfologia. Busque por outras ocorrências da mesma construção gramatical usando a pesquisa morfológica.

Para as diferentes ênfases e interpretações sobre essa construção gramatical, temos um excelente artigo escrito pelo Prof. Carl J. Bosma na Revista Fides Reformata: Missões e sintaxe grega em Mt 28.19 . Bosma demonstra gramaticalmente, depois de uma revisão precisa do debate, como o verbo particípio serve para dar ênfase ao verbo imperativo.

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nielsentomazini
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