Rm 6:23 Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Esse pequeno versículo que conclui o capítulo 6 da carta de Paulo aos Romanos é um texto denso, concentrado e expressa a mensagem central do evangelho, a verdadeira proposta de Deus para a salvação da humanidade. Vamos observá-lo bem de perto e experimentar como um pequeno trecho da palavra de Deus pode conter uma mensagem poderosa.
1) O Salário do Pecado
Vamos iniciar nosso estudo abordando o primeiro seguimento desse versículo, que fala sobre o pecado, ou melhor, sobre o “salário do pecado”.
O “salário” é um pagamento que uma pessoa recebe por um trabalho que realizou. Normalmente o valor é combinado com o patrão e após o trabalhador ter completado sua atividade ele recebe o merecido pagamento pelo que fez. Quando o texto diz “salário do pecado”, está se referindo ao pagamento que uma pessoa recebe por realizar o trabalho do pecado, ou seja, por servir ao pecado. É importante compreender que o pecado não é apenas um conceito, mas uma força ativa, inerente á natureza humana, que leva uma pessoa a pecar. O pecado é o principio originador do ato de pecar. Todos os seres humanos estão sob o poder do pecado e por isso todos são pecadores. Todos têm em seus corações esse princípio interior que quando se expressa sempre leva a pessoa a praticar algo contra a vontade de Deus.
As leis e os mandamentos de Deus expressam a sua vontade para as diversas áreas da vida. Quando alguém pratica uma ação que quebra um mandamento, ele está agindo contra a vontade de Deus associada a esse mandamento e está cometendo uma transgressão. Ou seja, o ato de pecar é uma transgressão à vontade de Deus. Tudo que uma pessoa faz que não esteja de acordo com a vontade de Deus é uma transgressão produzida pelo pecado interior e precisa receber o devido pagamento. O merecido pagamento, ou salário, que todos os pecadores recebem pelos seus pecados ou transgressões é a morte.
Inicialmente, a morte entrou no mundo por causa do pecado de Adão, o primeiro ser humano, pois “por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte”. À medida que os seres humanos se multiplicaram “a morte passou a todos os homens, pois todos pecaram” (Rm 5:12).
De maneira geral, a morte pode ser física ou espiritual. A morte física é o fenômeno natural que todos os seres humanos enfrentam com a extinção da vitalidade do corpo. Ela provoca a separação entre o corpo e o espírito humano, encerrando a presença física da pessoa nesse mundo. A morte espiritual é a morte do espirito humano, que separa a pessoa da verdadeira vida, a vida espiritual, e produz o eterno afastamento de Deus. Sendo Deus a fonte de tudo que é bom, o afastamento de sua presença implica em depravação, maldade, pranto, medo, aflição, sofrimento e outros males espirituais. A morte espiritual coloca pessoa em uma situação seríssima, pois se ela chegar à morte física nessa condição, ela ficará eternamente afastada de Deus, um estado conhecido como morte eterna. Por isso, a morte provocada pelo pecado é muito mais grave do que a morte física e traz consequências eternas terríveis para aquele que comete pecados.
2) O Dom Gratuito de Deus
Rm 6:23 Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
A morte é o pagamento pelo pecado. Se o que uma pessoa faz é pecado, o pagamento que ela recebe pelo que faz é a morte. Por outro lado, há um “dom gratuito”, e quem concede esse dom gratuito é o próprio Deus. O pecado paga seus servos com a morte. Deus, porém, dá – não como pagamento, mas como dadiva – a vida eterna.
No texto acima, a expressão “dom gratuito” é a tradução da palavra grega charisma, que significa “aquilo que vem pela charis”. De modo que, para entender “charisma”, precisamos entender o significado de “charis”. Essa palavra aparece 156 vezes no Novo Testamento e significa generosidade, livre concessão, favor; sendo normalmente traduzida como graça. Assim, “aquilo que vem pela graça”, ou “o charisma”, é algo que não requer mérito algum da pessoa que recebe, pois é dado pela generosidade de quem o concede livremente, um presente. Vemos também que a vida eterna é charisma de Deus, ou seja, ela é dada livremente pela charis de Deus, é fruto de sua bondade e generosidade, não requer mérito algum os seres humanos.
O dom gratuito (charisma) que vem pela graça (charis), se opõe ao salário que vem do pecado, que é o merecido pagamento pela transgressão. Se o salário é pago pelo mérito do pecador, o dom gratuito é dado sem mérito algum. Se o salário que vem do pecado é a morte, o dom gratuito que vem pela graça é a vida. Esse princípio foi estabelecido por Deus desde a origem da humanidade e continua em vigor ainda hoje.
Gn 1:27-28 Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem- se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”.
Adão foi o primeiro ser humano a existir sobre a terra. Ele foi formado por Deus a partir do solo, dotado de espírito e possuía imagem e semelhança de Deus, sendo assim moralmente consciente e livre de qualquer maldade. Eva foi a primeira mulher a existir. Ela foi criada por Deus a partir do corpo de Adão e herdava todas suas qualidades, inclusive a imagem e semelhança de Deus. O homem e a mulher viviam num Jardim especialmente preparado na região do Éden e foram os geradores de toda a raça humana.
Gn 2:9 Então o Senhor Deus fez nascer do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no meio do jardim estavam a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
No Éden eles tinham todo tipo suprimento físico e espiritual que precisavam. A vida estava representada ali pela Árvore da Vida, que era a fonte da vida espiritual concedida livremente por Deus. Recorrendo a essa fonte de vida, o homem viveria para sempre e poderia cumprir o propósito para o qual fora criado. Essa vida se espalharia entre eles e seus descendentes e lhes permitiria encher a terra de uma multidão de pessoas moralmente semelhantes ao Criador.
Gn 2:16-17 E o Senhor Deus ordenou ao homem: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá”.
Havia um mandamento, porém, que não deveria ser quebrado: “não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal”. Violar essa ordem direta de Deus resultaria em morte. O “bem” e o “mal”, em sua essência, já existiam antes da criação do homem. A árvore, porém, oferecia o fruto, ou o resultado, de se conhecer o bem e o mal, de forma que o mandamento visava preservar o homem, impedindo que ele conhecesse o mal e se corrompesse.
Assim, o princípio estava estabelecido: A vida era oferecida gratuitamente pela bondade e generosidade de Deus, não havendo nada que o homem precisasse fazer, nenhuma exigência moral e nenhum mandamento a obedecer para desfrutar dela, de forma que podemos ver o dom gratuito (charisma) de Deus, presente desde a criação. A ordem que havia regulava o acesso à Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e a consequência por violar esse mandamento seria a morte, pois o homem inocente seria infectado pelo conhecimento do mal, atraindo sobre si a ira de Deus.
Continua na parte – 2
Recursos Logos utilizados:
Léxico de Strong
Strong, J. (2002). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.
New Bible dictionary
Dunn, J. D. G. (1996). Repentance. In D. R. W. Wood, I. H. Marshall, A. R. Millard, J. I. Packer, & D. J. Wiseman (Orgs.), New Bible dictionary (3rd ed.). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.