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Seja fiel, a tua aliança principal é com Deus! (Malaquias 2.10-16)

03/02/2016 by João Paulo Thomaz de Aquino

Este é o quarto post no livro de Malaquias. O texto em Malaquias 2.10-16 apresenta a terceira resposta de Deus para a pergunta: “Em que desprezamos o teu nome?”, feita em Malaquias 1.6. O problema central deste texto é a deslealdade do povo. O termos hebraico para deslealdade é “בגד” (bagad) e ele aparece 5 vezes nesses versículos, sendo traduzido as vezes como desleal e às vezes como infiel. O problema é apresentado no versículo 10 e desenvolvido em duas áreas distintas nos demais versículos:

 

Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus? Por que seremos desleais uns para com os outros, profanando a aliança de nossos pais? (Malaquias 2.10)

 

Com essas perguntas retóricas, Malaquias (O Mensageiro de Yahweh) relembra o povo de Israel que Deus era o seu pai e criador e por decisão de Deus (ainda que eles não tivessem mérito nisso). Deus também havia entrado em uma aliança de amor com Israel. Vemos essa decisão de Deus, por exemplo:

 

Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel. (Êxodo 19.5)

 Mas a vós outros vos tenho dito: em herança possuireis a sua terra, e eu vo-la darei para a possuirdes, terra que mana leite e mel. Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos separei dos povos. Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus. (Levítico 20.24 e 26)

Quando o SENHOR, teu Deus, te introduzir na terra a qual passas a possuir, e tiver lançado muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os ferezeus, e os heveus, e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu; e o SENHOR, teu Deus, as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas; nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos… (Deuteronômio 7.1-3)

 

Esse texto mostra que a aliança de Deus estava sendo profanada pelos judeus daquela época em duas áreas específicas, nos casamentos mistos e na infidelidade conjugal:

 

1 – Profanação da Aliança no Casamento Misto (11-12)

 

Judá tem sido desleal, e abominação se tem cometido em Israel e em Jerusalém; porque Judá profanou o santuário do SENHOR, o qual ele ama, e se casou com adoradora de deus estranho. O SENHOR eliminará das tendas de Jacó o homem que fizer tal, seja quem for, e o que apresenta ofertas ao SENHOR dos Exércitos. (Malaquias 2.11-12)

 

O casamento de um judeu com alguém de fora de Israel era proibido por Deus, não por uma questão racial, mas por causa da desobediência e idolatria que vinham em consequência dos casamentos mistos. Deus advertiu sobre isso em textos como Êxodo 34.16 e Deuteronômio 7.4

 

e tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas filhas, prostituindo-se com seus deuses, façam que também os teus filhos se prostituam com seus deuses. (Êxodo 34.16)

…nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos destruiria. (Deuteronômio 7.3-4 )

 

Infelizmente, o povo que voltou do exílio não observou esse mandamento de Deus, o que vemos na época de Neemias e Esdras:

 

Então, Secanias, filho de Jeiel, um dos filhos de Elão, tomou a palavra e disse a Esdras: Nós temos transgredido contra o nosso Deus, casando com mulheres estrangeiras, dos povos de outras terras, mas, no tocante a isto, ainda há esperança para Israel. Agora, pois, façamos aliança com o nosso Deus, de que despediremos todas as mulheres e os seus filhos, segundo o conselho do Senhor e o dos que tremem ao mandado do nosso Deus; e faça-se segundo a Lei. (Esdras 10.2-3)

 Vi também, naqueles dias, que judeus haviam casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas. Seus filhos falavam meio asdodita e não sabiam falar judaico, mas a língua de seu respectivo povo. Contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os conjurei por Deus, dizendo: Não dareis mais vossas filhas a seus filhos e não tomareis mais suas filhas, nem para vossos filhos nem para vós mesmos. (Neemias 13.23-25)

 

Malaquias é mais ou menos contemporâneo de Esdras e Neemias e lida com o mesmo problema: a deslealdade do povo contra Deus ao se casarem com pessoas que não eram do povo de Deus e que, consequentemente, levavam o povo para longe do Senhor.

Mas havia um segundo problema: a infidelidade dos casados.

 

2 – Profanação da Aliança no Adultério (13-16)

 

Ainda fazeis isto: cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da vossa mão. E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. Não fez o SENHOR um, mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava a descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis. (Malaquias 2.13-16)

 

Em todo o livro de Malaquias, fica claro que o povo não estava vivendo uma rebeldia declarada contra o Senhor, pelo contrário, as aparências eram de um povo muito fiel a Deus. Eles continuavam prestando culto, dando ofertas, orando e se derramando em lágrimas diante de Deus. As atitudes externas de religiosidade eram muito boas, mas o problema estava no coração.

Nesse trecho Deus começa dizendo que não iria aceitar as ofertas deles e nem as suas orações chorosas. Por que? Deus reponde, porque vocês estão sendo infiéis no casamento de vocês. Essa infidelidade se mostrava em infidelidade conjugal, divórcios e violência dentro do casamento. Então, Deus apresenta 5 argumentos pelos quais eles não deveriam continuar sendo infiéis: (1) Eu, Yahweh, fui testemunha da aliança entre você e seu cônjuge; (2) A tua esposa é a mulher da tua mocidade, a tua companheira, a mulher da tua aliança; (3) eu, Yahweh, é quem uni vocês dois em um só e meu Espírito atuou nessa união; (4) meu objetivo, diz Deus, é levantar uma descendência abençoada por meio das famílias da aliança. (5) O quinto argumento é uma espécie de conclusão para todo o trecho: “Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis.”

 

Nesse texto Deus afirma que odeia o divórcio e coloca no mesmo nível a violência dentro do casamento. Cometer esses atos, portanto, é desafiar a Deus, aquele com quem temos a nossa principal aliança. Assim, Não adianta tentar manter a vida ‘espiritual’ em ordem se não estou sendo leal para com meu cônjuge. Deus não aceita sacrifícios de cônjuges que estão em pecado no casamento.

 

Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações. (1 Pedro 3.7)

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Conclusão

 

Deus está intimamente interessado em nossa vida matrimonial! A aliança entre um homem e uma mulher cristãos é, necessariamente, uma aliança diante de Deus e com o próprio Deus. A decisão de se casar, não pode ser irresponsável, como se Deus não se importasse com quem eu me caso. A principal aliança entre um homem e uma mulher, tem que ser feita dentro dos padrões da aliança espiritual que os cristãos tem com o Senhor. Assim, se você é um cristão solteiro, você não pode considerar a possibilidade de se casar com alguém que não ame a Jesus Cristo. Se você é um cristão casado, lembre-se que o mesmo Deus que foi testemunha do seu casamento, está avaliando como está o seu desempenho como cônjuge. E aqueles cristãos que, hoje, estão casados com alguém que não teme ao Senhor? A Bíblia fala que o bom procedimento do cristão santifica e pode até mesmo salvar aquele que não teme ao Senhor. Continue firme em oração e prática cristã (Leia 1 Coríntios 7)!

Solteiro(a), peça a graça de Deus para te ajudar a somente namorar e casar com alguém que seja fiel a Jesus Cristo e aja neste sentido. Casado(a), peça a graça de Deus para seu fiel a Ele como cônjuge e aja neste sentido. Se é pelo Senhor, o teu amado, qualquer sacrifício vale a pena.

 

Desafios Práticos

 

  1. Comece a ver a si mesmo como o maior problema do seu casamento. Confesse a Deus e ao seu cônjuge. Tome atitudes práticas de mudança.
  2. Faça a sua devocional diariamente.
  3. Faça o culto familiar.
  4. Termine qualquer relacionamento com o sexo oposto que não está agradando ao Senhor.

 

Leia mais sobre casamento misto aqui.

Leia mais sobre casamento aqui.

Leia sobre divórcio aqui.

 

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Sacerdotes humilhados e desprezados (Malaquias 2.1-9)

27/01/2016 by João Paulo Thomaz de Aquino

Vou jogar cocô na cara de vocês! Repulsivo, forte demais, exagerado, ridículo, humilhante… Você pode dar diferentes nomes para essa frase. A ameaça de alguém jogar excremento no rosto de outrem é algo profundamente humilhante e desafiador. O que é impressionante é que essa é uma ameaça feita por Deus contra os sacerdotes da época do profeta Malaquias! Se essa ameaça é repulsiva para você, para um sacerdote judeu ela provavelmente era muito mais repulsiva, pois além da humilhação e nojo, existia o aspecto da impureza cerimonial.

Antes de voltarmos ao texto, vamos rever o esboço do que aconteceu no livro até aqui:

  • Deus afirma que ama o seu povo
  • O povo pergunta (no coração) Em que nos tens amado?
    • Deus responde: amei a Jacó e Odiei a Esaú
  • Deus afirma que o povo, especialmente os sacerdotes, têm desprezado o seu nome
  • Eles perguntam: Em que desprezamos o teu nome?
  • Deus responde apresentando três áreas principais:
    • Sacrifícios Defeituosos (1.6-14)
    • Sacerdotes Infiéis (2.1-9)
    • Infidelidade no Casamento (2.10-16)

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Deus ameaça humilhar os sacerdotes caso eles não o ouçam (1-4)

 

1 Agora, ó sacerdotes, para vós outros é este mandamento. 2 Se o não ouvirdes e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei sobre vós a maldição e amaldiçoarei as vossas bênçãos; já as tenho amaldiçoado, porque vós não propondes isso no coração. 3 Eis que vos reprovarei a descendência, atirarei excremento ao vosso rosto, excremento dos vossos sacrifícios, e para junto deste sereis levados. 4 Então, sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que a minha aliança continue com Levi, diz o SENHOR dos Exércitos.

Os sacerdotes não estavam obedecendo o mandamento de Deus relacionado à sua obrigação como sacerdotes de Yahweh. Eles eram parcialmente culpados pelo povo desprezar a Deus no coração a na prática com sacrifícios defeituosos. Deus deixa claro que o problema com os sacerdotes também dizia respeito ao coração. As consequências da deobediência deles seriam: maldição (Ml 2.1), reprovação dos filhos! (Ml 2.2), atirar cocô no rosto (Ml 2.3), ser descartado fora do arraial como eram os restos do sacrifício (Ml 2.3).

Embora essa maldições e ameaças sejam terríveis, o objetivo delas não é descartar aqueles sacerdotes, mas trazê-los à uma posição de arrependimento, de forma que eles se lembrassem de suas responsabilidades espirituais como guias do povo de Deus.

O Novo Testamento afirma que na Nova Aliança todos os cristãos são sacerdotes, doutrina que, na Reforma, ficou conhecida como o sacerdócio universal de todos os crentes. Eis alguns dos textos que dão base para esse ensino:

1 Pedro 2.9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;

Apocalipse 1:6  e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!

Apocalipse 5:10  e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.

Apocalipse 20:6  Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos.

Êxodo 19.5-6 Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.

 Em suma, esse texto tem uma aplicação para todos os cristãos. Se nós não honramos o Senhor e não levamos outros a o honrarem como deveriam fazer, devemos sentir o impacto desse desafio. O Deus que te ama não vai deixar você se afastar dele sem consequências! Ele fará o necessário para trazer de volta todos aqueles a quem Ele ama. Ele vai agir para que você viva para a glória dEle e, ao fazê-lo, encontre a mais profunda alegria possível.
Existe também uma aplicação especial desse texto para os pastores e aqueles responsáveis (por dons e ordenação) de ensinarem a verdade de Deus ao povo de Deus. O acerto de contas de Deus para com esses é ainda mais sério e urgente, pois os sacerdotes eram os responsáveis principal por ensinar o povo e não o estavam fazendo.

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Afinal, o que exatamente Deus quer dos sacerdotes? (5-7)

 

5 Minha aliança com ele foi de vida e de paz; ambas lhe dei eu para que me temesse; com efeito, ele me temeu e tremeu por causa do meu nome. 6 A verdadeira instrução esteve na sua boca, e a injustiça não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão e da iniquidade apartou a muitos. 7 Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do SENHOR dos Exércitos.

Nos versículos  1 e 4 Deus fala do mandamento dos sacerdotes, mas até ali esse mandamento não havia sido apresentado em Malaquias. São os versículos 5-7 que mostram qual era o mandamento que Deus queria que os sacerdotes observassem. Levi foi um dos filhos de Jacó. Por ser violento, ele recebeu a punição de não ter terra em Israel. O que era maldição, no entanto, se transformou em bênção quando Deus escolheu os filhos de Levi (a tribo de Levi) para ser o povo especial que serviria o Senhor de tempo integral. Eles seriam os porteiros, auxiliares, carregadores do tabernáculo, cantores e sacerdotes: “Eis que tenho eu tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo primogênito que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus” (Números 3.12). Ao longo da história bíblica vemos diversos momentos em que os levitas em geral desempenharam bem as suas responsabilidades:

 

Números 25.9-13 Os que morreram da praga foram vinte e quatro mil. Então, disse o SENHOR a Moisés: Finéias, filho de Eleazar, filho de Arão, o sacerdote, desviou a minha ira de sobre os filhos de Israel, pois estava animado com o meu zelo entre eles; de sorte que, no meu zelo, não consumi os filhos de Israel. Portanto, dize: Eis que lhe dou a minha aliança de paz. E ele e a sua descendência depois dele terão a aliança do sacerdócio perpétuo; porquanto teve zelo pelo seu Deus e fez expiação pelos filhos de Israel.

Êxodo 32.26 pôs-se em pé à entrada do arraial e disse: Quem é do SENHOR venha até mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi

 

A vontade revelada de Deus para os levitas em geral e para os sacerdotes em particular é que eles deveriam temer a Deus e tremer diante dele (v. 5), deveriam ensinar a verdade ao povo de Deus (v. 6, 7), deveriam ter uma vida santa, compatível com o que ensinavam (v. 6) e, ao fazê-lo, deveriam ser instrumento nas mãos de Deus para que muitos se afastassem do mal (v. 6). Tudo isso é resumido no versículo 7 na expressão de que eles deveriam ser mensageiros de Yahweh.

Enquanto os levitas muitas vezes acertaram no cumprimento de suas obrigações, infelizmente as famílias sacerdotais por diversas vezes cometeram erros graves, como nos casos de Nadabe e Abiú (Números 10), de Eli e seus filhos, Hofni e Finéias (1 Samuel 2), e de Urias (2 Reis 16).

Deus exige santidade de todo o seu povo, mas ele exige um compromisso especial daqueles a quem ele mesmo chama para guiarem o seu povo. Vários sacerdotes sofreram as consequências disso.

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O Senhor dos Exércitos humilha os sacerdotes infiéis (8-9)

 

8 Mas vós vos tendes desviado do caminho e, por vossa instrução, tendes feito tropeçar a muitos; violastes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos. 9  Por isso, também eu vos fiz desprezíveis e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos e vos mostrastes parciais no aplicardes a lei.

 

Na época de Malaquias os sacerdotes, ignorantes da grandeza e santidade de Deus, estavam fazendo o seu serviço de maneira relaxada e, ao fazê-lo, estavam conduzindo o povo para longe de Yahweh. Algumas das consequências que Deus promete já estavam presentes, mas ainda eram um convite de arrependimento, antes que Deus decidisse desprezá-los de vez. O desvio deles do caminho correto (descrito nos versículos anteriores) estavam resultando no tropeço do povo e perpetuação de injustiças. O resultado imediato é que os sacerdotes estavam perdendo o respeito do povo, assim como, infelizmente, acontece com o ministério pastoral em nossa época. Deus nos chama a todos para uma auto avaliação de como temos desempenhado o nosso sacerdócio. Se não houver arrapendimento e uma maneira nova de viver, ele poderá nos rejeitar, assim como fez com Hofni e Finéias:

 

1 Samuel 2.30-35  Portanto, diz o SENHOR, Deus de Israel: Na verdade, dissera eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram, honrarei, porém os que me desprezam serão desmerecidos. Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais velho nenhum em tua casa. E verás o aperto da morada de Deus, a um tempo com o bem que fará a Israel; e jamais haverá velho em tua casa. O homem, porém, da tua linhagem a quem eu não afastar do meu altar será para te consumir os olhos e para te entristecer a alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão na flor da idade. Ser-te -á por sinal o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e Finéias: ambos morrerão no mesmo dia. Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre.

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Conclusão

 

Nós somos os sacerdotes do Reino de Jesus Cristo. Como temos agido em nosso ofício sacerdotal? Deus nos chama para uma auto avaliação. Ele não faz isso como um chefe ávido para ver nosso tropeço, nem como um senhor de escravos pronto para derramar a sua ira sobre nós. Ele faz isso como aquele que começou esse livro dizendo: “eu vos tenho amado”.

 

Sacerdotes Infiéis Levitas fiéis
  • Desviaram-se do caminho
  • Fizeram tropeçar a muitos
  • Parciais na aplicação da Lei
  • Maldição sobre vós
  • Amaldiçoarei vossas bênçãos
  • Atirarei excremento no vosso rosto
  • Para junto destes sereis levados
  • Desprezíveis e indignos ao povo
  • Temeu e tremeu por causa do meu nome
  • Verdadeira instrução em sua boca
  • Injustiça não se achou em seus lábios
  • Andou comigo em paz e retidão
  • Da iniquidade apartou muitos

 

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Cadê a minha Honra? (Malaquias 1.6-14)

20/01/2016 by João Paulo Thomaz de Aquino

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Em Malaquias Deus questiona um povo praticante de religiosidade externa por causa dos pensamentos que estavam no coração deles. Embora praticassem sacrifícios, os animais eram defeituosos. Embora fossem ao templo, faziam-no apenas por obrigação. Eles não tinham admiração por Deus, questionavam o seu amor e achavam uma chatice ter que cultuá-lo. Deus traz tudo isso à tona em Malaquias 1.6-14. Eis o texto:

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Estudando esse texto no Logos, marquei em verde aquilo que Deus fala acerca de Si mesmo, em vermelho o que Ele fala que o povo sentia a respeito dele e seu culto e em amarelo o que ele diz ao povo como resposta ao desprezo deles.

O Senhor dos Exércitos

A principal maneira que Deus usa para falar de si mesmo neste texto é Senhor dos Exércitos. Uma pesquisa dessa expressão na Biblia Hebraica apresenta 245 ocorrências do termo, 23 dessas em Malaquias, um livro pequeno em relação a outros que também usam o termo.

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Deus não é qualquer um. Deus não é um amigão carente a quem podemos desprezar e que sempre voltará correndo quando lhe dermos atenção. Deus é o Senhor dos Senhores, o Yahweh dos Exércitos. Ele manda nos exércitos humanos, nos exércitos de estrelas e nos exércitos angelicais. Ele é o Senhor do Universo. Ele também se apresenta nesse texto como aquele que merece a honra devida a um pai e o respeito devido pelos escravos ao seu senhor e dono. Ele é o Grande Rei e o nome dele é Terrível Entre as Nações!

Todo o problema é que os sentimentos e atitudes dos judeus daquela época não eram compatíveis com a grandeza de Deus. Os teus são?

Deus Sabe

A Bíblia afirma que enquanto os homens só conhecem as atitudes exteriores, Deus conhece o coração dos humanos (1 Samuel 16.7). É por isso que nesse texto, Deus diz aos judeus que Ele sabia que eles o estavam desprezando (v. 6), profanando (v. 7), que eles achavam a mesa do Senhor desprezível e imunda (v. 7 e 12) e achavam o culto uma canseira (v. 13). É por causa dessas atitudes do coração, somada aos fatos de que eles não sentiam o amor de Deus e nem o amavam (Malaquias 1.1-5) que, na prática, eles davam a Deus o resto e o pior de suas posses e de si mesmos. Os animais oferecidos em sacrifício eram os piores imagináveis, a sobra, os defeituosos que ninguém queria. Se era para Deus podia ser o resto. É assim que eles pensavam e agiam.

Deus Responde

Deus é muito amoroso (Malaquias 1.2), mas quando desprezado, sendo o Rei dos reis e Senhor dos senhores, Ele responde com deprezo. O Deus que sabe amar como ninguém também sabe desprezar. Esse é um aspecto ignorado a respeito de Deus em nossos dias em que se super enfatiza o amor de Deus em detrimentos dos seus outros atributos. Ao mesmo tempo em que desprezava a Deus em seu coração, aquele povo buscava o favor de Deus com suas orações (v. 9). Qual era a resposta de Deus? Deus não os aceita (v. 9), deseja que as portas do templo fossem fechadas (v. 10), Deus sente desprazer neles  (v. 10), Ele não aceita as suas ofertas (v. 10). Para deixar claro o Seu desprezo santo, Deus promete àquele povo que um dia ele extrairia louvor da boca de outros povos e deles receberia culto (promessa a respeito da igreja. No Hebraico, essa frase não tem verbos com tempos verbais). Em suma, eu não preciso de vocês! Vocês podem dizer o mesmo?

Além de todas essas atitudes de desprezo, no versículo 14 Deus diz: “maldito seja o enganador, que, tendo um animal sadio no seu rebanho, promete e oferece ao SENHOR um defeituoso“. Qual é a resposta do Deus grandioso para aqueles que o desprezam? Deus os despreza (não ouve, não aceita ofertas, não sente prazer neles) e amaldiçoa.

Conclusão

Deus é o Senhor dos Exércitos e o nome dele é Grande Entre as Nações. Ele é o único Deus e Senhor do Universo. Ele é digno de toda adoração, louvor, glória, admiração, elogios, culto, ofertas e muito mais. Ele é merecedor de que dediquemos nossas vidas para Ele. Ele não vai ficar satisfeito com menos do que isso, e dará um jeito de extrair isso de nós, por amor ou por meio de sofrimento. E Ele faz isso porque nos ama (Malaquias 1.2). Qual é o tipo de religiosidade que você tem vivido: externa ou verdadeira? Qual é o tipo de sentimentos que você tem para com Deus? Você O trata como servo ou Ele é o teu Senhor?

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Uma Brevíssima Teologia da Fala em Gênesis 1—3

13/01/2016 by João Paulo Thomaz de Aquino

Lighting up a Dead Star’s Layers. From http://www.jpl.nasa.gov/spaceimages/wallpaper.php?id=PIA01903.

 

Ao ler Gênesis 1—3 novamente, chamou-me a atenção o número de vezes que o texto se refere ao ato da fala, tanto por parte de Deus, quanto dos seres humanos, quanto da serpente. Uma pesquisa morfológica no Logos dos temas falar (אמר) e chamar (קרא) apresenta 30 e 11 ocorrências, respectivamente. Há também uma ocorrência importantíssima da expressão “a voz de Yahweh Deus” (ק֨וֹל יְהוָ֧ה אֱלֹהִ֛ים) que é ouvida por Adão e Eva no final do dia quando eles pecaram. É evidente que Moisés quis enfatizar o papel da fala tanto na criação quanto na queda. O que podemos aprender a partir dessas ocorrências?

  • A fala foi o meio pelo qual Deus liberou poder criativo (Gn 1.3, 6, 9, 11, 14, 20)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus deu nome àquilo que estava criando (Gn 1.5, 8, 10)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus organizou aquilo que ele estava criando (Gn 1.6, 9)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus atribuiu capacidade de produção à criação (Gn 1.11, 24)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus determinou a função daquilo que ele estava criando (Gn 1.14-15, 20)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus abençoou suas criaturas, incluindo o homem. Essa bênção de Deus inclui capacidade de reprodução e o dever do domínio, no caso do ser humano (Gn 1.22, 28)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus deliberou consigo mesmo sobre a criação do homem e a função deste, bem como a deliberação para criar a mulher depois de afirmar que a solidão não era boa para o homem (Gn 1.26; 2.18)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus deu diretivas ao ser humano (Gn 1.29-30)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus deu mandamentos ao ser humano (Gn 2.16-17)

 

  • O homem usa a fala pela primeira vez para dar nomes aos animais (Gn 2.19-20)
  • O homem faz poesia quando vê a mulher que Deus lhe fizera (Gn 2.23)

 

  • A serpente usa a fala para enganar a mulher (Gn 3)
  • A serpente confunde a fala de Deus (Gn 3.1)
  • Eva cita a palavra de Deus aparentemente sem precisão (Gn 3.2-3)
  • A serpente nega a fala de Deus e usa a fala para manchar o caráter de Deus (Gn 3.4-5)
  • Uma vez que a palavra de Deus foi desprezada, o sentido da visão tomou precedência na queda (Gn 3.6, 7)

 

  • Interessantemente, no entanto, é a voz de Deus (ק֨וֹל יְהוָ֧ה אֱלֹהִ֛ים) que chama a atenção de Adão e Eva e os faz fugir (Gn 3.8).
  • A fala foi o meio pelo qual Deus procura novamente o homem e lida com a situação, fazendo primeiro uma acareação dos fatos (Gn 3.9, 11, 13)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus amaldiçoou a serpente e a terra, trouxe sofrimentos à mulher e ao homem e anunciou a morte física (Gn 3.14-19)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus prometeu a vinda do Messias (Gn 3.15)
  • A fala foi o meio pelo qual Deus deliberou consigo mesmo proibir o acesso do homem à árvore da vida (Gn 3.22)

 

  • O homem responde a Deus que o procura no jardim (Gn 3.10, 12, 13)
  • É curioso que Eva tem a noção já neste ponto de ter sido enganada pela serpente, o que, aliás, aconteceu, por meio da fala. (Gn 3.13)
  • O homem dá nome à mulher (Gn 3.20)

 

A Palavra de Deus cria, nomeia, organiza, capacita, abençoa, comanda, procura, amaldiçoa e promete. A palavra da serpente confunde e engana. A palavra do homem nomeia, elogia, responde à serpente, responde a Deus

Essa ênfase na fala (por parte de Deus) e na audição (por parte do homem) é muito comum na Bíblia. A visão é comumente apresentada como insuficiente e enganosa. Ainda que vivamos na época dos estímulos visuais, temos que lembrar que Deus continua dando prioridade à Palavra! Por outro lado, outras palavras virão para tentando nos afastar da Palavra de Deus. A serpente continua misturando verdade (sereis conhecedores do bem e do mal) com mentira (sereis como Deus) para tentar afastar homens e mulheres da Palavra de Deus. O ser humano deve ouvir e obedecer a voz de Deus e desprezar vozes contrárias à de Deus. Jesus Cristo é a Palavra de Deus, o meio pelo qual o Pai criou o universo e se relaciona com o homem (João 1, Hebreus 1, Colossenses 1—2)

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Eu te amo! (Malaquias 1.1-5)

06/01/2016 by João Paulo Thomaz de Aquino

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O profeta Malaquias (Mensageiro de Yahweh) escreveu em torno do ano de 450 a.C., próximo da época de Neemias, Esdras, Ageu e Zacarias, pregando ao povo que havia voltado do exílio Babilônico. Se por um lado Israel não mais se prostrava diante de ídolos abomináveis, por outro, o coração também não estava totalmente entregue ao Senhor. Aqueles que voltaram o exílio cumpriam suas obrigações religiosas, mas suas prioridades estavam mais na reconstrução da própria vida e satisfação dos próprios prazeres do que em agradar Yahweh.

É nesse contexto que Deus chama Malaquias para montar um tribunal onde o Israel pós-exílico seria julgado. É por isso que o texto. É por isso que o título que Malaquias deu ao livro é “Sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel, por intermédio de Malaquias” (Malaquias 1.1, ARA). A primeira acusação que Deus faz contra o povo é: Embora eu ame vocês, vocês teimam em duvidar do meu amor. Deu vai apresentar outras acusações práticas contra o povo, mas a primeira acusação traz à tona a razão pela qual o povo não estava andando por caminhos que agradavam a Deus. Era um problema de amor.

Quando você diz: “eu te amo”, o que você espera como resposta? É claro que todos esperam um “eu também te amo”, ou palavras semelhantes de afirmação de amor. Não era assim com o Israel pós-exílico. Deus dizia, “Eu amo vocês” e a resposta do coração deles era, “Em que o Senhor nos ama?”. Havia uma falta de amor por parte do povo porque havia dúvidas com relação ao amor de Deus. Na prática eles não amavam a Deus porque não acreditavam que Deus os amasse. Todos os demais pecados: o desprezo pelo culto, a infidelidade conjugal, o roubo nos dízimos e outros, tinham como origem o problema da falta de amor do povo para com Deus e, esta, era gerada pelo questionamento da bondade amorosa de Deus.

Assim como filhos que duvidam do amor paterno quando disciplinados, Israel tinha dificuldade em acreditar no amor de um Deus que os havia mandado para o exílio e ainda os mantinha subjugados a outros povos. Ao olhar a destruição de Jerusalém e lembrar das cenas terríveis de violência, era difícil confiar no amor de Deus. Deus poderia ter relembrado o povo de que o sofrimento era consequência dos seus próprios pecados e idolatrias, mas não foi esse argumento que Deus resolveu apresentar no tribunal.

Em vez disso, Deus os chamou a considerar as diferenças no relacionamento entre Deus e Israel e Deus e Edom: “Esaú e Jacó eram irmãos, no entanto, eu tenho amado Jacó e os seus descendentes, 3 mas tenho odiado Esaú e os seus descendentes.” (Malaquias 1.2-3, NTLH). Deus convoca o povo a comparar a maneira que ele tem tratado Israel com a maneira que ele trata Edom.

A nação de Edom é uma das mais importantes na história bíblica. Quando Jacó volta da casa de Labão, seu irmão Esaú se muda para uma região montanhosa que com seus descendentes se transforma na nação de Edom. Sempre que Deus fala de Edom na Bíblia, é para falar de sua punição e destruição. Em nosso texto, Deus promete destruir Edom tantas vezes quantas eles se reconstruíssem. Em Obadias, Deus promete destruí-los pelo tanto que eles fizeram Israel sofrer. Ao longo das páginas da Bíblia é possível confirmar, Deus odeia Edom e por isso mesmo, a nação foi totalmente destruída  e tudo o que resta lá hoje são ruínas e sítio arqueológico. Eles, de fato, viraram o “Povo-Contra-Quem-O-Senhor-Está-Irado-Para-Sempre”.

O que fica claro, no entanto, tanto nas biografias de Jacó e Esaú, quando na história de Israel e Edom é que um não era melhor do que o outro. Ambos eram pecadores idólatras. Mas é Deus mesmo quem diz: “E ainda no eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de -Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú”. (Romanos 9.11-13).

O argumento de Deus é: quando Eu odeio um povo eu o destruo completamente (vejam Edom), o fato de vocês terem voltado do exílio e estarem se reconstruindo é prova do meu amor por vocês. Deus desafia o povo a comprovar essa verdade no futuro, quando Edom já não mais existisse e então: “Os vossos olhos o verão, e vós direis: Grande é o Senhor também fora dos limites de Israel”.

Qual é o objetivo de Deus com esse primeiro oráculo (ou sessão de julgamento)? O objetivo era o povo de Israel comparar a maneira que Deus os tratava com a maneira que tratava Edom e concluir que Deus é grande! Deus quer que sua glória e poder sejam reconhecidos. Deus quer ser o motivo maior de admiração, devoção e amor do seu povo, pois ele nos ama e quer nos dar o que Ele tem de melhor: Ele mesmo.

Nós também tendemos a duvidar do amor de Deus, às vezes formalmente e normalmente, na prática, especialmente quando estamos sofrendo. Deus te chama ao seu tribunal e te convoca a abrir os olhos para o que Ele tem feito em tua vida e a maneira que tem te preservado mesmo em meio às dores. O objetivo de Deus é que reconheçamos a grandeza dele. Ele faz isso por amor. O mesmo amor que fez com que Deus Filho morresse em uma cruz pelos nossos pecados, é o amor que perseguirá os seus até mesmo com sofrimento, se necessário for, a fim de que vejamos e proclamemos: “Grande é o Senhor também fora dos limites de Israel”.

 

Se você quer ler mais a respeito da maneira de Deus tratar Edom na Bíblia, veja: Gênesis 25—28; 32—36; Números 20; 1 Reis 11.14-22; 2 Reis 8.22; 2 Crônicas 21.10; 25.11-14; Salmo 60.8; 108.9; 137.7; Isaías 34.5—17; Jeremias 49.7-22; Ezequiel 25.12-14; 35; Joel 3.19; Amós 1.11-12; Obadias; Mal 1.1-5; Romanos 9.11-16; Hebreus 12.14-17.

 

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Ana Sorriu

29/12/2015 by João Paulo Thomaz de Aquino

Ana estava muito triste. Mais um ano havia se passado. Os tratamentos não haviam dado resultado mais uma vez. Ela se sentia desprezada e diminuída, pois não conseguia engravidar. Penina, a outra esposa do seu marido, tinha filhos e filhas, mas Ana, mesmo depois de tantas tentativas, tabelinhas, tratamentos e orações passara mais um ano sem o tão esperado filho. Dessa forma, pensava, não valia a pena viver. Ela se sentia amaldiçoada por Deus, apesar de ser tão amada pelo seu esposo.

Havia chegado mais uma vez aquela época do ano em que ela teria que se encontrar com “a outra” para irem ao templo, onde Elcana, o marido de Ana, sacrificava e depois oferecia um grande churrasco. Essas ocasiões eram terríveis, pois Ana teria que conviver de perto com Penina e aguentar as suas piadas sarcásticas e risos de canto de boca. Foi depois de um comentário ferino que Ana desistiu de comer. Elcana era muito amoroso, mas nem ele conseguia entender o sofrimento dela.

Ana se sentia tão sozinha. Ela não aguentava mais aquela situação. Era como se todos a desprezassem. E Deus? Onde estava Deus? O que acontecera com todas as suas promessas? Não é o Deus de Israel que fez questão de ser conhecido como aquele que “faz que a mulher estéril viva em família e seja alegre mãe de filhos”? (Salmo 113.9).

Esgotada, Ana foi ao templo sem que ninguém soubesse. Orava e chorava silenciosa. Ela estava derramando toda a sua angústia e revelando o seu coração diante do Senhor. Ana resolveu fazer um voto: “Se o Senhor me der um filho eu o devolverei para o teu serviço, ele será consagrado ao Senhor”.

Eli, o sacerdote, vendo Ana mexer os lábios freneticamente sem que nenhuma palavra fosse ouvida, pensou que ela estivesse bêbada e a repreendeu. Envergonhado, o sacerdote ouviu que ela estava orando e colocando a sua ansiedade diante do Senhor. O representante de Deus disse à mulher: “Vai-te em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste”. Ana saiu renovada da casa de Deus. Ana creu. Ela foi revigorada pela palavra do Senhor. Ana comeu. Ana não se incomodou mais com as investidas de Penina. Ana sorriu.

(Leia a história completa em 1 Samuel 1)

 

 

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Para falar a verdade, 2016 provavelmente nem será tão bom assim…

25/12/2015 by João Paulo Thomaz de Aquino

Nós gostamos de pensar que o novo ano será maravilhoso, cheio de conquistas maravilhosas, com estabilidade financeira e sem tragédias naturais e terrorismo. Infelizmente, no entanto, essa esperança não tem fundamento. Ainda que haja um novo partido, a velha corrupção continuará presente. A não ser que Jesus Cristo volte, pessoas descobrirão que tem câncer, novos ataques terroristas acontecerão ao redor do mundo, haverá crianças sequestradas, famosos e anônimos morrerão de overdose, militares e civis serão desfigurados em guerras, famílias serão desfeitas e todas as outras consequências trágicas do pecado continuarão a apresentar as suas garras feias deixando marcas nos corações e na terra.

Esse mundo injusto e louco só faz sentido à luz do livro escrito pelo Criador. Isaías 11 apresenta uma esperança verdadeira para nós. Na época de Isaías 11, Judá ainda vivia sob o reinado de Acaz, um rei caprichoso, idólatra e injusto (veja 2 Reis 16 e 2 Crônicas 28). A necessidade de pagar a dívida com a Assíria gerava ainda mais injustiça social: os pobres eram cada vez mais oprimidos e o socorro era buscado nas nações vizinhas e Deus ficava cada vez mais distante do seu povo.

Esse texto começa no verso 10.33 com a expressão “הִנֵּ֤ה” (eis) e segue até o verso 11.8 com ininterruptos “וְ” (e, mas). Apenas no verso 9, conclusivo, essa estrutura muda. Os versos 11.10-11, começam com a expressão וְהָיָה֙ בַּיֹּ֣ום הַה֔וּא (e acontecerá naquele dia). As divisões foram feitas com base na mudança de assunto: Is 10.33-34: usa metáforas extraídas da agricultura e tem Yahweh como sujeito causador (não necessariamente com relação às pessoas verbais). 11.1 a 5: são uma descrição do rebento, nascido como fruto da poda anterior, sendo ele sempre sujeito ou objeto dos verbos. 11.6 a 9: após um “וְ” consecutivo descrevem um estado de harmonia que imperará a partir do reinado do rebento. As divisões do texto são:

1 A intervenção de Yahweh, o grande agricultor (10.33-34)

2 A capacidade real do rebento de Jessé (11.1-5)

3 Shalom em decorrência do conhecimento de Yahweh (11.6-9)

 

1 A INTERVENÇÃO DE YAHWEH, O GRANDE AGRICULTOR (10.33-34)

 

A grandeza desta cena descrita por Isaías só pode ser sentida olhando para a cena anterior:

 

ARA

Bíblia de Jerusalém

28 A Assíria vem a Aiate, passa por Migrom e em Micmás larga a sua bagagem. 29   Passa o desfiladeiro, aloja-se em Geba, já Ramá treme, Gibeá de Saul foge. 30 Ergue com estrídulo a voz, ó filha de Galim! Ouve, ó Laís! Oh! Pobre Anatote! 31 Madmena se dispersa; os moradores de Gebim fogem para salvar-se. 32 Nesse mesmo dia, a Assíria parará em Nobe; agitará o punho ao monte da filha de Sião, o outeiro de Jerusalém. 28 Ele chegou a Aiat, passou por Magron, em Macmas depositou a sua bagagem. 29 Passou a desfiladeiro, Gaba será o nosso acampamento noturno, Rama estremecveu, Gabaá de Saul fugiu. Ergue a tua voz, Bat-Galim, toda atenção, ó Laísa! Responde-lhe, ó Anatot! 31 Madmena fugiu; os habitantes de Gebim procuraram abrigo. 32 Ainda hoje, detendo-se em Nobe, meneará a mão contra o monte da filha de Sião, contra o outeiro de Jerusalém.

 

Sendo um texto de difícil preservação, tradução e interpretação, existem algumas traduções/interpretações diferentes possíveis. Fica claro, no entanto, que, seja quem for que está fazendo esta entrada em território de Israel/Judá, seja o Exército Assírio ou o próprio Yahweh [através do exército assírio], quem quer que seja, está se aproximando de Sião de forma mui rápida e violenta. As cidades Aiate, Migrom, Micmás, Geba, Rama, Gibeá, Galim, Laís, Anatote, Madmena, Gebim e Nobe estão cada vez mais perigosamente próximas de Sião, nenhuma consegue resistir a entrada do exército assírio, então, este se prepara para a próxima investida militar: balança os pulsos para ceifar Sião.

Essa passagem pregada em Jerusalém tem o efeito de um barulho longínquo e até agradável, enquanto o território atingido pertence aos inimigos de Israel. O problema é que o barulho vai se tornando cada vez mais incômodo e próximo até ao ponto de ser insuportável e amedrontador. É como a notícia de um furacão que se forma no oceano e vai se aproximando cada vez mais de uma cidade grande deixando destruição por onde passa. Assim estavam os habitantes de Jerusalém frente ao exército assírio: havia angústia, desespero e senso de impotência. Haveria ainda alguma possibilidade de salvação?

 

33 Mas eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos,

 

A NVI traduz assim: Vejam! O Soberano, o Senhor dos Exércitos… Não dá para minimizar o sentimento transmitido por essa frase. Como crianças que vem o próprio pai libertar a família das mãos de ladrões violentos, de forma ainda mais dramática, Isaías mostra a entrada de ninguém menos do que Adonai Yahweh Tsebaot, O Senhor Yahweh dos Exércitos, o único com poder para resistir e vencer o grande e temível inimigo assírio.

 

cortará os ramos com violência, as árvores de alto porte serão derribadas, e as altivas serão abatidas. 34 Cortará com o ferro as brenhas da floresta, e o Líbano cairá pela mão de um poderoso.

 

Na descrição do livramento de Adonai Yahweh Tsebaot,  Isaías volta a utilizar uma metáfora muito presente no seu livro: a do Agricultor. Deus é o grande agricultor, os países são florestas, e ele, Yahweh, segundo o seu poder e sabedoria, poda, derruba e deixa brotar. Israel é vinha consumida por seus próprios líderes (Is 3.14) e destruída em disciplina por Yahweh (Is 1.30; 5.1-7). A Assíria é machado nas mãos do Senhor para disciplinar a floresta de Israel (Is 10.15), mas também será floresta queimada por causa do seu próprio orgulho (Is 10.18-19).

Assim, é neste contexto literário que os versos 10.33 e 34 comparam a poderosa nação assíria com seu temível exército a galhos (ramos), árvores altas e a uma floresta em que o Senhor entra como um poderoso e violento agricultor, que, com seu afiado instrumento faz a poda, cortando, derrubando e abatendo as árvores orgulhosas. Quais clarões vistos na floresta amazônica, assim o grande agricultor transformará a floresta chamada Assíria. Qual é o saldo desta violenta poda? Como a NVI coloca: “O Líbano cairá diante do Poderoso”.

O próximo ponto apresenta o resultado dessa poda da Assíria para Israel:

 

A CAPACIDADE REAL DO REBENTO DE JESSÉ (11.1-5)

 

1 Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo.

 

Após Israel ter sido quase totalmente destruída pelo exército assírio que como um machado fez a derrubada da vinha do Senhor, agora, do meio da destruição começa nascer a esperança. Um ramo, um broto, um renovo cuja origem é a mesma do grande rei Davi. Um segundo Davi! Não nascido de uma família real corrompida, mas da mesma fonte de Davi. A esperança trazida por este verso pode ser comparada à de Noé quando viu a folha de oliveira no bico da pomba. Renascimento após destruição. Ainda havia esperança.

Os próximos versículos apresentam uma descrição da capacidade real do rebento do tronco de Jessé.

 

2 Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR.

 

Além de ter uma linhagem real pura, o rebento seria ungido não apenas com óleo, mas de uma maneira ainda não vista, seria ungido com o sétuplo Espírito Santo de Deus:

  • Espírito de Yahweh: a terceira pessoa da Santa Trindade.
  • Espírito de Sabedoria – aquele que dá capacidade de agir adequadamente em diferentes situações.
  • Espírito de Entendimento – profundo conhecimento quanto a eventos e pessoas necessários para o bem governar
  • Espírito de Conselho – capacidade de para fazer planos (cf. Is 9.6)
  • Espírito de Força – poder de executar planos
  • Espírito de Conhecimento – aquele conhecimento de amor e experiência de relacionamento com Yahweh.
  • Espírito de Temor de Yahweh – muito diferente do atual rei Acaz, é prometido que este rei vindouro teria plena comunhão com Deus.

 

3 Deleitar-se-á no temor do SENHOR; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos;

 

Tendo o Espírito de uma maneira completa, o novo rei teria capacidade plena para fazer justiça. É este o assunto mais enfatizado nessa apresentação do renovo: sua capacidade e competência para julgar corretamente. Por causa do Espírito, não haveria necessidade de confiar apenas nos sentidos humanos.

 

4 mas julgará com justiça os pobres e decidirá com eqüidade a favor dos mansos da terra;

 

Ao invés de pender para os ricos e poderosos, tendência comum nos líderes, este rei, no poder do Espírito, faria justiça aos pobres, necessitados, fracos e mansos da terra.

 

ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso.

 

E como justiça não é feita sem punição, com Espírito de poder este rei tem plenas condições de julgar justamente, condenar e fazer valer as sentenças aos perversos e ímpios, exterminando-os.

 

5 A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade, o cinto dos seus rins.

 

O cinto era, para as vestes bélicas da época, aquele que enfeixava as demais roupas e também o protetor dos órgãos considerados vitais. Portanto, numa época que padecia a falta de governantes justos, este renovo da raiz de Jessé teria na justiça e na fidelidade suas mais importantes atitudes como rei. O que um reino como esse traria como resultado:

 

SHALOM (PAZ) EM DECORRÊNCIA DO CONHECIMENTO DE YAHWEH (11.6-9)

 

6 O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. 7 A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. 8 A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco.

 

Quem olha a descrição do rei feita nos versículos 11.1-5 espera um reino justo onde os desamparados recebem justiça. O que os versículos 11.6-9 apresentam, no entanto, perpassa em muito aquilo que um rei meramente humano poderia fazer: shalom de amplitude cósmica. A palavra hebraica shalom não aparece no texto, mas, ainda assim, é impossível não vê-la presente em ação.

O reino do rebento será tão justo e reto que até os animais mais próximos e antagônicos na cadeia alimentar, viverão juntos em harmonia. Até os animais mais carnívoros violentos vão pastar juntamente com seus antigos pratos prediletos.

Crianças brincarão entre os filhotes e até mesmo a cobra, responsável direta pela queda humana, nenhum mal fará ao menor ser humano que invadir a sua cova com a mão.

O que temos nesse texto é uma apresentação de um reino perfeito, um paraíso, a restauração do Éden. Isso não aconteceu na época de Isaías, mas se tornou uma esperança vindoura para o povo de Deus. “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.” (2 Pedro 3.13)

 

9 Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar.

 

Como conclusão e explicação da shalom cósmica descrita nos versos 6 a 8, a profecia se conclui com a promessa de que em todo o monte do Senhor haverá conhecimento do Senhor. Sião, Jerusalém, a habitação de Yahweh, de onde sai a Torá para todos os povos (cf. Is 2.1-4; 7.25; 8.18; 10.12) espalhará o conhecimento de Deus pelo mundo todo.

A causa de tudo isto é que o Rei, sobre o qual repousa os 7 Espíritos de Deus (dentre os quais sabedoria, entendimento, conselho, conhecimento e temor) causará que a terra se encha do conhecimento de Yahweh (aquele conhecimento no sentido hebraico do termo, conhecimento de amor, experiência própria, deleite) como as águas cobrem o mar.

 

Conclusão

 

Os primeiros ouvintes desta profecia estavam sob o reinado injusto de Acaz, e as conseqüências de tal reinado eram total ausência de paz e constante iminência de guerra. A injustiça social era presente, até mesmo pela necessidade de pagar a Assíria para obter o apoio na guerra contra Israel e Síria.

O nascimento do reformador Ezequias e a maravilhosa vitória na guerra contra os assírios estando às portas de Jerusalém (cf. 2 Crônicas 32.21-23) foi um grande cumprimento deste texto para os seus primeiros ouvintes. No entanto, como o próprio texto deixa transparecer, estas qualidades reais apontavam para alguém ainda maior que Ezequias.

Cristo é o perfeito cumprimento desta profecia: oriundo da raiz de Davi (e Jessé – Apocalipse 5.5; 22.16), Jesus é aquele que foi capacitado de maneira perfeita e completa pelo Espírito de Deus (Apocalipse 3.1; 5.6, Mateus 3.16). Jesus foi aquele que julgou muitos em sua época, não pela aparência de profundidade religiosa ou fama, mas porque lhes conhecia os pensamentos (Mateus 9.4; 12.25; 22.18). Jesus Cristo, o Senhor, é também aquele que virá, para julgar os vivos e os mortos com justiça e então instaurar para sempre um reino de shalom (Apocalipse 20.11 a 22.5).

Não espere um 2016 perfeito. A não ser que Jesus Cristo volte para instaurar um reino perfeito, 2016 continuará tendo corrupção, injustiça social, tragédias e mortes. Nenhum governante terreno pode mudar o verdadeiro problema humano, o pecado e suas consequências.

Assim, devemos olhar para Jesus Cristo como o único que realmente pode mudar a situação do nosso País. Jesus é a solução pois ele tem origem real, exerceu sua obra no poder do Espírito e voltará. Julgou e julgará com perfeita justiça e verdade, e não segundo os falhos sentidos humanos. Cristo, aquele que venceu e voltará para reinar sobre essa terra restaurada, deve ser a nossa única esperança de restauração do mundo inteiro, não somente para os homens, mas para toda a natureza que geme e suporta angústias (Rm 8.22) esperando este momento.

Viva de tal forma a antecipar esse reino vindouro: conheça o Senhor Jesus, viva de forma justa, desfrute da paz de Cristo e, em meio à injustiça, tenha esperança verdadeira que nunca se frustrará, e no tempo certo virá o reino. Então “O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. 7 A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. 8 A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. 9 Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar.” (Isaías 11.6-9)

 

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Esperança Natalina para o Brasil e o Mundo

18/12/2015 by João Paulo Thomaz de Aquino

Infelizmente o Brasil vive uma crise institucional e política como há anos não se via. O gigante havia acordado (1), mas infelizmente aquilo que parecia um vôo seguro rumo a um país mais desenvolvido e igual se tornou em uma decolagem desastrada (2) que vitimou o sonho, a esperança e as promessas de um país mais sério, instalando descrédito generalizado.

Alguns colocam a sua esperança no partido X, no próximo governo, no candidato Y. Outros desistem do país e consideram a melhor saída aquela do aeroporto. Outros se entregam a vandalismos e à desonestidade exemplificada por engravatados que deveriam cuidar do país em vez de espoliá-lo.

Há esperança?

Sim! Há esperança porque ela não depende de partidos, governos, homens, mulheres, filosofias ou avanço científico. A esperança de um país e mundo melhor só existem “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso.”

Na época em que as nações eram governadas por reis, havia uma alegria especial quando o rei tinha um filho homem. Era a garantia da continuidade daquela dinastia e o evento era comemorado por todos. Os capítulos 7—11 de Isaías colocam o foco no nascimento de crianças. A salvação virá por meio do filho da virgem chamado Emanuel (Deus conosco) e do rebento de Davi.

O capítulo 8 termina falando de caos, desgoverno, fome, angústia e opressão, resultados de uma nação que buscava respostas no ocultismo de necromantes. O capítulo 9 começa com uma boa notícia: “Contudo, não haverá mais escuridão para os que estavam aflitos… O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz.” (Isaías 9.1-2).

O que mudaria a situação de opressão de forma tão radical? O nascimento de um menino, um príncipe, cujo reino será interminável e de paz. Se a solução não pode estar vinculada aos homens que se corrompem, porque esse há esperança nessa criança?

Há esperança porque ele não é corrompido como um de nós. Ele não coloca os seus interesses próprios à frente dos interesses do povo, mas até mesmo em seu nome anuncia suas credenciais. Ele se chama “Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz”.

Sendo Maravilhoso Conselheiro, ele tem a palavra certa de consolo e de restauração em meio às tribulações e pecados. Sendo Deus Poderoso ele tem poder sobre as forças da natureza, do corpo e espirituais. Sendo o Pai Eterno ele tem poder sobre a morte, o céu e o inferno. Sendo o Príncipe da Paz ele instaurará Shalom (harmonia cósmica) no tempo oportuno e pode trazer shalom existencial para você hoje, enquanto ele não instaura o seu reino visível na terra.

Jesus é o rei esperado. Ele é aquele cujo nome é “Maravilhoso Conselheiro[1], Deus Poderoso[2], Pai Eterno[3], Príncipe da Paz[4]”. A esperança não está na direita, nem na esquerda. Não existe esperança verdadeira do fim da corrupção no Brasil e no mundo enquanto os governantes forem pecadores como nós.

O menino-rei nasceu, cresceu, viveu, morreu e ressuscitou. Deus garante que Ele voltará. Então, será instaurado um reino perfeito com justiça e retidão que procedem da verdade. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso. “Cantai e exultai, o Messias chegou!” Jesus Nasceu! Ele voltará! Feliz Natal!

 

 

 

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João Paulo Thomaz de Aquino é casado com Juliana, pai de João Jr., Maria Eduarda e Gabriel. É pastor presbiteriano e professor do Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper (CPAJ), doutor em ministério pelo CPAJ/RTS e doutorando em Novo Testamento pela Trinity Evangelical Divinity School.

[1] Leia sobre Jesus como Maravilhoso Conselheiro: Lucas 12.22-32 (não andeis ansiosos) - A seguir, dirigiu-se Jesus a seus discípulos, dizendo: Por isso, eu vos advirto: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes. Observai os corvos, os quais não semeiam, nem ceifam, não têm despensa nem celeiros; todavia, Deus os sustenta. Quanto mais valeis do que as aves! Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Se, portanto, nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras? Observai os lírios; eles não fiam, nem tecem. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais tratando-se de vós, homens de pequena fé! Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações. Porque os gentios de todo o mundo é que procuram estas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas. Buscai, antes de tudo, o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas. Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino.
João 8.10-11 (perdão de pecados / restauração) - Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.
Mateus 11.28-30 (descanso) - Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.
João 14.16-18 (consolo) - E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros.


[2] Leia mais sobre Jesus como o Deus Forte: Mateus 8.23-27 (Poder sobre a Natureza) - Então, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia. Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: Senhor, salva-nos! Perecemos! 26 Perguntou-lhes, então, Jesus: Por que sois tímidos, homens de pequena fé? E, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar; e fez-se grande bonança. 27 E maravilharam-se os homens, dizendo: Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?
Lucas 9.37-43a (Poder sobre  o Sobrenatural) - No dia seguinte, ao descerem eles do monte, veio ao encontro de Jesus grande multidão. E eis que, dentre a multidão, surgiu um homem, dizendo em alta voz: Mestre, suplico-te que vejas meu filho, porque é o único; um espírito se apodera dele, e, de repente, o menino grita, e o espírito o atira por terra, convulsiona -o até espumar; e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado. Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam. Respondeu Jesus: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei? Traze o teu filho. Quando se ia aproximando, o demônio o atirou no chão e o convulsionou; mas Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai. E todos ficaram maravilhados ante a majestade de Deus.
Mateus 8.1-4 (Poder sobre as doenças) - Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou -o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo.
Mateus 28.1-7 (Poder sobre a morte) - No findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que houve um grande terremoto; porque um anjo do Senhor desceu do céu, chegou-se, removeu a pedra e assentou-se sobre ela. O seu aspecto era como um relâmpago, e a sua veste, alva como a neve. E os guardas tremeram espavoridos e ficaram como se estivessem mortos. Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: Não temais; porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia. Ide, pois, depressa e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis. É como vos digo!


[3] Jesus como Pai da Eternidade: Mateus 24.29-31 (Jesus voltará) - Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.
Mateus 25.31-43 (Julgará e levará os seus) - Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me. E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.
João 11.25 e 26 (Quem crer nele não morrerá) - Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?
Lucas 23.39-43 (Ladrão foi para eternidade) - Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu -o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.


[4] Lucas 1.78 e 79 (nos guiará pela paz) - graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.
Lucas 24.36 (paz seja convosco) - Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco!
João 14.27 (minha paz vos dou) - Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
João 14.1-3 (não fiquem perturbados) - Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.
Apocalipse 21.1-7 (Nova Jerusalém) - Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho.
Apocalipse 22.1-5 (Nova Jerusalém) - Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos. Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos.

 

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Exegese Visual: Uma breve análise de Apocalipse 17

18/11/2015 by João Paulo Thomaz de Aquino

Vivemos em uma época visual. Há telas por todos os lados e gostamos de ver e interagir com elas. Algumas pessoas têm maior facilidade de aprender vendo, em vez de ouvindo ou lendo. Existe alguma forma de usarmos recursos visuais para nos ajudar na interpretação de um texto bíblico (exegese)?

Eu estou escrevendo atualmente um trabalho sobre Apocalipse 17. Além de usar os comentários bíblicos, análise morfológica e sintática e buscas do Logos, resolvi usar também alguns recursos visuais. Veja um pouco do resultado.

Primeiro, usei o recurso nuvem de palavras para encontrar quais palavras gregas mais apareciam no texto. O resultado foi o seguinte:

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As palavras que mais aparecem no capítulo 17 de Apocalipse são: o verbo ver (8x), mulher (8x), assentar (4x), imoralidade sexual (7x), animal/besta (9x), reis (7x), dez (5x), chifres (4x), sete (8x) e cabeça (3x). Como podemos interpretar esses dados?

João enfatiza que o que ele está relatando é uma visão (17:3, 6, 8, 12, 15, 16, 18). Ele vê uma mulher (17:3, 4, 6, 7, 9, 18) caracterizada por imoralidade sexual (17:1, 2 [2x], 4, 5, 15, 16) e pela ação expressa pelo verbo assentar (17:1; 3; 9; 15). Esse verbo é importante em Apocalipse, pois é usado para alguém que se assenta no trono para governar, é um símbolo de governo, como fica claro no capítulo seguinte falando sobre a mesma personagem: “porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha.” (Ap 18.7). Ainda mais frequente do que mulher em Apocalipse 17, a palavra besta mostra o quando essa mulher está intimamente conectada com esse animal fantástico (17:3, 7, 8, 11, 12, 13, 16, 17). Tanto a mulher quando o animal estão intimamente associados com os reis da terra (17:2, 9, 12, 14, 18).

Além de descobrir as palavras mais usadas em Apocalipse 17, fiz uma comparação entre quantas vezes essas palavras aparecem neste capítulo e no resto do livro. Os resultados foram os seguintes:

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Essa comparação carrega consigo diversas possibilidades exegéticas que tem que ser confirmadas na leitura do texto e do livro como um todo. Mais do que em outros momentos, João quis caracterizar esse relato como uma visão profética. Isso aponta para o caráter simbólico do texto. Para a visão fazer sentido, ela tem que ser interpretada como uma figura e não como um relato de algo que vai acontecer literalmente conforme visto por João.

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Esse capítulo está de alguma forma conectado com o capítulo 12, cujo personagem central também é uma mulher. Considerando que a mulher do capítulo 12 é apresentada como pura e perseguida pelo dragão, o relacionamento que existe entre os dois capítulos é de antítese. A mulher do capítulo 12 é o oposto da mulher do capítulo 17. Enquanto aquela é perseguida e será salva por Deus, essa será completamente destruída. Assim, se aquela mulher do capítulo 12 representa a igreja (a noiva de Ap 21–22), essa, que é uma prostituta, possivelmente representa o oposto da igreja (falsas religiões, idolatrias humanas). A mulher representada no capítulo 17 é a Babilônia e a do capítulo 12 é a Nova Jerusalém.

 

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Aqui vemos que o capítulo 17 está ligado intimamente também (pelo conceito animal/besta) ao capítulo 13. Provavelmente os dois capítulos se referem ao mesmo animal, um símbolo possivelmente para um poder político universal que aparecerá no final dos tempos e que, na época de João, era o Império Romano (e que no passado havia sido a Babilônia). Haverá uma submissão massiva dos reis da terra a esse poder político universal.

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O texto também mostra a importância das sete cabeças e dos dez chifres. Números tem uma importância simbólica muito grande no Apocalipse, mas eu ainda não analisei esse texto ao ponto de arriscar uma interpretação aqui. Lição central de Apocalipse 17? Ainda que as falsas religiões enganem a muitos e pareçam vitoriosas quanto comparadas ao Cristianismo, um dia o próprio Deus vai destruir toda a falsa religião em seu processo de criar um novo céu e uma nova terra onde habita a justiça.

Na interpretação bíblica, nada substitui a leitura da própria Biblia. Há ferramentas, no entanto, que podem ser muito úteis e certamente as ferramentas visuais do Logos estão entre essas.

 

 

 

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A Bíblia e as Drogas

12/11/2015 by João Paulo Thomaz de Aquino

A palavra “farmácia” é derivada da palavra grega φαρμακεία (farmakeia). Como é possível ver na foto, a palavra continua em uso na Grécia.

Imagine uma época em que uma pessoa ajuntava em si as prerrogativas de sacerdote, médico e feiticeiro. Imagine esse curandeiro tendo a capacidade de fazer poções a partir de plantas e outras matérias primas que poderiam fazer uma pessoa entrar em transe, curar uma doença ou deixar alguém doente. Esse é o contexto do desenvolvimento dessa palavra.

Assim, na língua grega, φαρμακεία (farmakeia) significa feitiçaria, artes mágicas; φαρμακεύς (farmakeus), fazedor de poções, mago; o verbo φαρμακεύω (farmakeuo) significa fazer poções, praticar magia; φάρμακον (fármakon) significa droga nociva, veneno, droga usada como um meio de controle, poção mágica, encanto, remédio, droga; e, finalmente, φάρμακος (fármacos) é aquele que é competente na prática do uso de ervas ou drogas; aquele que envenena, aquele que faz coisas extraordinárias pelo uso de meios ocultos, feiticeiro, mago.[1]

A Bíblia usa todas essas palavras. A versão grega do Antigo Testamento apresenta os magos do Egito como pessoas que usavam farmakeia (traduzido como ciências ocultas, Êx 7.11; 22; 8.14; 9.11). Isaías diz que parte do castigo de Deus seria devido à “farmakeia” (feitiçarias) do povo (Is 47.9, 12).

 

É no Novo Testamento, entretanto, que temos um maior uso dessa palavra, especialmente no livro de Apocalipse:

 

Gálatas 5.19-23 Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, 20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, 21 invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. 22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, 23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.

Apocalipse 9.20-21 Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar; 21 nem ainda se arrependeram dos seus assassínios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos.

Apocalipse 18.23 Também jamais em ti brilhará luz de candeia; nem voz de noivo ou de noiva jamais em ti se ouvirá, pois os teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as nações foram seduzidas pela tua feitiçaria.

Apocalipse 21.7-8 O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. 8 Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.

Apocalipse 22.14-15 Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida e entrem na cidade pelas portas. 15Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira.

 

O que temos como resultado desses textos? Podemos afirmar que a Bíblia fala sobre drogas. É evidente que o contexto bíblico é mais amplo, pois envolve a questão religiosa e de forças ocultas. Não podemos ignorar o fato, entretanto, de que se naquela época pessoas usavam drogas como um meio de aproximar-se de algum falso deus, as drogas na nossa época também são um meio de conseguir prazer ou consolo à parte do Deus que promete suprir aquele que o busca.

Deus humilhou os feiticeiros do passado (Êxodo 7—9) e fará o mesmo com aqueles que fascinam outros para o caminho das drogas. Deus lançará os feiticeiros no lago de fogo e enxofre (Apocalipse 21-7-8). A manipulação das potencialidades de plantas e outros elementos com fins danosos é chamada de obra da carne (Gl 5.19-23). Aqueles que tem o Espírito conseguirão dele amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio, sem necessariamente precisar recorrer às drogas.

Em suma, existe um aspecto espiritual no uso das drogas. Para ser mais claro: a dependência de drogas é pecado. Da mesma forma que aqueles que apelam para o sexo impuro, assassinato, mentira e idolatria como motivação, razão e prática definidora de suas vidas estão negando a Deus, assim também aqueles que se entregam às drogas (lícitas ou ilícitas, prescritas ou não) estão negando a Deus em prol de um substituto. Reconheço os aspectos da existência real de doenças, estruturas fisioquímicas que facilitam o vício e me condoo com o sofrimento dos dependentes e de seus familiares. Ainda assim, existe um aspecto em que a dependência de drogas, sendo um substituto para a dependência de Deus, é idolatria.

Há esperança, entretanto! Mesmo com o seu altíssimo poder de transformação do cérebro, escravização e destruição, as drogas não são mais fortes do que o Deus que criou as matérias primas das quais elas são feitas. Em Jesus Cristo há solução para as drogas. Nele há esperança para se reerguer novamente depois de uma recaída ou várias. Ele morreu e ressuscitou para nos livrar dos poderes do mundo, da carne e do diabo. Basta que a confiança e a esperança últimas do coração sejam depositadas totalmente nele. Por meio de discipulado, igreja, oração, leitura bíblica e demonstrações divinas e soberanas de poder, Deus ainda hoje faz aquilo que impossível para os homens.

 

 

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[1] Definições extraídas de: William Arndt, Frederick W. Danker, and Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (Chicago: University of Chicago Press, 2000), 1049-50.

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