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O Pão Nosso de Cada Dia (Mateus 6.11)

É impressionante como podemos estudar a Bíblia extraindo lições dela sem que apliquemos à nossa própria vida! Depois de um dia inteiro escrevendo e pensando sobre esse texto em meio a outros afazeres, dirigindo para casa me recordei do quanto ultimamente tenho me preocupado com a alta do dólar, o sustento da família, os planos para o futuro. De repente a ficha caiu… “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”.

 

Enquanto os três primeiros pedidos da oração do Pai Nosso estão relacionados com Deus e com o seu reino, o quarto pedido é o primeiro que diz respeito às necessidades do ser humano.[1] Jesus nos ensinou a orar: “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia” (Τὸν ἄρτον ἡμῶν τὸν ἐπιούσιον[2] δὸς ἡμῖν σήμερον).[3] Há várias lições nessa pequena frase:

 

  1. Transcendência: a nossa preocupação com a nossa própria subsistência e necessidades deve ser colocada em segundo plano em relação ao nome de Deus, ao reino de Deus e à vontade de Deus. As coisas transcendentes são mais importantes do que as preocupações e necessidades do dia a dia. Mais à frente nesse mesmo sermão Jesus ensinará: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Embora tudo à nossa volta e dentro de nós queira nos preocupar, deixar ansiosos e correndo atrás de nossa própria vida, e Senhor nos convida a nos preocuparmos com as coisas dele e nos garante que ele cuidará de nós.
  2. Subsistência: não precisamos de muitas coisas para sobreviver. Deus promete suprir as nossas necessidades e, de fato, ele nos tem dado tudo o de que precisamos para a vida é para a piedade (2Pe 1.3). Assim, não devemos cair na tentação de queremos sempre mais e nunca estarmos satisfeitos. Em Timóteo 6.8 somos relembrados: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”. Alguns versículos adiante, no mesmo sermão do monte, Jesus diz “não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?” (Mt 6.25). Se temos o suficiente para a nossa subsistência, estejamos felizes. Se Deus nos tem dado mais do que o necessário, louvemos e compartilhemos. Craig Blomberg, citando Tiago 4.3, nos lembra de que esse pedido contempla as nossas necessidades e não a nossa ganância.[4]
  3. Interdependência: assim como o Pai, o pão é comunitário, não é meu nem teu, é nosso. Eu não devo me preocupar somente com as minhas necessidades pessoais. Você não deve pensar apenas na comida que suprirá a tua própria mesa, mas com um senso de comunidade devemos pedir a Deus pão para nós mesmos e para os nossos irmãos. Devemos nos lembrar daqueles que têm sofrido com escassez, especialmente os da família da fé.
  4. Imprevidência: um dos assuntos mais falados no mundo hoje é a previdência. Vários governos estão com um grande déficit visto que as pessoas estão vivendo por mais tempo. Com isso, somos levados a pensar na aposentadoria, previdência privada, e nas nossas necessidades para o futuro próximo e distante. “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” é evidentemente um pedido para o hoje, não para o mês, para o ano ou para a aposentadoria. Não temos aqui um libelo à irresponsabilidade (veja Pv 6.6; 2Ts 3.10), mas um lembrete de que não precisamos estocar e poupar tanto, porque o nosso Pai tem cuidado de nós a cada dia (Tiago 4.13).[5]
  5. Dependência: temos aqui um pedido, ou seja, um lembrete para reconhecermos que não conseguimos nem mesmo o pão se não for por Deus.[6]Alguns têm uma enorme tendência para a auto-suficiência: não gostam de depender de ninguém e se orgulham das ‘próprias’ conquistas. Calvino nos relembra de que isso se aplica tanto ao pobre quanto ao rico, pois ambos dependem igualmente da provisão diária de Deus.[7] Lembre-se é Deus que, dá o pão, o emprego, a energia, as capacidades e a vida.eresses do ser humano. é Deus que, dá o pão, o emprego, a energia, as capacidades e a vida.eresses do ser humano. é Deus que, dá o pão, o emprego, a energia, as capacidades e a vida.eresses do ser humano. : é Deus quem dá o pão, o emprego, a energia, as capacidades e a vida. Tudo vem dele e deve voltar para ele em gratidão, adoração e contínua dependência.é Deus que, dá o pão, o emprego, a energia, as capacidades e a vida.eresses do ser humano.

 

Oração: Senhor, obrigado porque fielmente tens suprido o pão de cada dia. Ajuda-nos a descansar em ti. Dá-nos, hoje, o pão de que precisamos. Em Cristo Jesus, o pão vivo que desceu do céu. Amém!

[1] Até agora os pedidos têm sido a respeito das grandes causas de Deus e do seu reino; nesse ponto a atenção de Jesus se colta para as necessidades pessoais do adorador. Morris, Leon. The Gospel According to Matthew. Grand Rapids, Mich: William B. Eerdmans Publishing Co, 1992, 146.

[2] O pai da igreja, Orígenes, diz que essa palavra foi criada pelos evangelistas. A palavra é derivada de ἐπὶ (para, em direção à) mais οὐσία (essência, substância, ser). BDAG sugere: “necessário para a existência”. A tradução mais comum dos primeiros intérpretes é diário, de cada dia. Alguns estudiosos sugerem que a palavra pode ser entendida como o pão nosso ‘de amanhã’, neste caso derivado de ἐπιοῦσα, que significa dia seguinte. Sobre essa palavra veja também: Nolland, John. The Gospel of Matthew: A Commentary on the Greek Text. Grand Rapids: Erdmans, 2005, 289.

[3] Na versão de Lucas, o pedido é “O pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia.”   (τὸν ἄρτον ἡμῶν τὸν ἐπιούσιον δίδου ἡμῖν τὸ καθʼ ἡμέραν·)

[4] Blomberg, Craig. Matthew. Nashville, Tenn: Broadman Press, 1992, 119-120.

[5] Esse texto nos apresenta “Deus como o provedor de cada necessidade física, mas ele também relembra aquele que pede a confiar em Deus para prover à medida em que as necessidades aparecem e não necessariamente com antecedência. Compare isso com a lição que Israel teve que aprender durante os quarenta anos de maná diário; qualquer excesso estragava no dia seguinte”. Weber, Stu, and Max E. Anders. Matthew. Nashville, TN: Broadman & Holman, 2000, 82.

[6] A oração encoraja uma continua dependência de Deus; ela não admite uma situação em que o discípulo pede a Deus suprimento por um longo período de tempo, e depois de tal oração ele pode passar um tempo se se lembrar de Deus. Ele depende de Deus constantemente e essa dependência é expressa nessa oração. Morris, Leon. The Gospel According to Matthew. Grand Rapids, Mich: William B. Eerdmans Publishing Co, 1992, 147.

[7] Essas palavras nos relembram de que a menos que Deus nos alimente diariamente o acúmulo de coisas necessárias à vida não terá nenhum proveito. Embora possamos ter abundância de milho e vinho e tudo o mais, a menos que eles sejam regados pela bênção secreta de Deus eles desvanecerão de repente ou nós seremos privados de usá-los, ou eles perderão o poder natural de nos sustentar de tal forma que morreremos de fome mesmo em meio à abundância. Calvin, Jean, and William Pringle. Commentary on a Harmony of the Evangelists, Matthew, Mark, and Luke. Grand Rapids: W.B. Eerdmans Pub. Co, 1949, 1324-1325.

Criado por
João Paulo Thomaz de Aquino
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