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Lei ou Evangelho?

Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram (Salmo 85.10)

 

“O conhecimento desse tópico, a distinção entre lei e evangelho, é necessário no mais alto grau, pois ele contém um sumário de toda a doutrina cristã”.[1] Com essa frase Oden abre um capítulo sobre lei e evangelho em seu livro sobre aconselhamento bíblico.

Lei e evangelho/graça são dois conceitos bíblicos riquíssimos, importantes e um tanto complicados no que diz respeito ao relacionamento entre a velha e a nova aliança.[2] O que vamos fazer aqui nesse post é somente “arranhar a tinta do assunto”, esperando que outros se empolguem e o apliquem e desenvolvam.

A partir da Reforma Protestante, lei e evangelho passaram a ser estudados juntos e se tornaram muito importantes para a leitura da Bíblia e a prática da vida cristã por parte dos reformadores.[3] Para os reformadores, a Bíblia como um todo, Antigo e Novo Testamentos, contém lei e graça. Segundo Childs, Barth também afirmava que a Bíblia toda contem lei e evangelho e defendia que a lei é uma forma de evangelho.[4]

A compreensão que muitos cristãos tem de lei e evangelho, no entanto, é contraria a dos reformadores, podendo ser demonstrada da seguinte forma:

 

Antigo Testamento: Lei (obras)

Novo Testamento: evangelho (graça)

 

Essa é uma maneira errada de olhar para as Escrituras e para a vida cristã. Como os reformadores, devemos entender lei e evangelho como dois grandes temas que abrangem toda a revelação especial de Deus, inclusive Antigo e Novo Testamentos. Na verdade, o Deus que é luz (1Jo 1.5) e também é amor (1Jo 4.8) quer que nós andemos em seus caminhos (lei) como filhos amados (adoção). Assim, ele mesmo nos transforma (justificação e santificação) e possibilita que vivamos de maneira agradável para ele, em Cristo.

É por isso que João, em sua primeira carta, une conceitos aparentemente antagônicos como amor e mandamentos: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos” (1Jo 5.3). Em 1 João, o apóstolo usa conceitos como ‘mandamentos, verdade e luz’ para focar mais no aspecto legal da revelação e temas como ‘amor, amar, comunhão e conhecer’ para enfatizar o evangelho. É muito comum, no entanto, encontrarmos esses temas misturados e unidos no mesmo versículo.

Assim, como acontece no resto das Escrituras, lei e evangelho devem ser utilizados para interpretarmos 1 João e toda a vida cristã. A resposta humana apropriada à santidade de Deus (Deus é luz) é o temor. A resposta apropriada ao amor de Deus (Deus é amor) é o nosso amor de volta para ele (porque ele nos amou primeiro). Por outro lado, o exagero de um desses dois temas na vida cristã, gera um coração atribulado e oprimido pela lei (caso de alguns leitores de João) ou uma atitude irresponsável e libertina para com os mandamentos de Deus (caso de alguns falsos mestres que estavam rondando a igreja de João).

Qual é a tua tendência natural: enfatizar a lei ou a graça de Deus? Aplicar mais a lei ou a graça de Deus para si mesmo? Qual dos dois você aplica mais em seus relacionamentos?

Espero falar mais sobre o assunto alguma hora dessas. Para tentar facilitar as coisas, entretanto, fiz a tabela abaixo e espero que seja útil.

Bênçãos,

 

 

Atributos de Deus

Revelação Como se apresentam Modo Verbal Resposta humana correta Resultado quando exagerado

Temas em 1 João

Deus é Luz Lei Mandamentos Imperativos Temor Culpa irreparável mandamento, verdade, luz.
Deus é amor Evangelho/Graça Promessas Indicativos Amor Libertinagem amor, amar, comunhão, conhecer.

 

[1] Thomas C. Oden, Pastoral Counsel (Classic Pastoral Care; New York: Crossroad, 1989), 199.

[2] Veja: https://www.logos.com/product/16624/five-views-on-law-and-gospel

[3] Robert Kolb, “Law and Gospel”, The encyclopedia of Christianity (Grand Rapids, MI; Leiden, Netherlands: Wm. B. Eerdmans; Brill, 1999–2003), 216.

[4] Brevard S. Childs, Biblical Theology of the Old and New Testaments: Theological Reflection on the Christian Bible (Minneapolis, MN: Fortress Press, 2011), 552.

Criado por
João Paulo Thomaz de Aquino
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