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Não pergunte o que você pode fazer por Deus!

April 8, 2015 by João Paulo Thomaz de Aquino Leave a Comment

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Em seu discurso de posse, em 20 de janeiro de 1961, o presidente eleito John Keneddy conclamou seu povo: “Não pergunte o que o país pode fazer por você, mas, sim, o que você pode fazer por seu país”. Essa mesma atitude – o que eu posso fazer? – é a base da maioria das religiões, que ensinam que o ser humano deve fazer algo para se aproximar de Deus ou para se tornar melhor e mais puro. É como se o ser humano justificasse a sua existência ao fazer algo bom. Assim, naquilo que diz respeito a Deus ou a sua própria razão de ser, o ser humano quer fazer alguma coisa. O Cristianismo verdadeiro é a única religião que abre mão dessa iniciativa humana como forma de se relacionar com Deus ou auto-justificar. Cristianismo diz respeito primariamente àquilo que Deus já fez e, então, como podemos responder a Ele. É isso que encontramos em 1 Pedro. Logo no início de sua carta, Pedro aponta para a obra da Trindade feita em prol daqueles que crêem: o Pai os conheceu de antemão e elegeu, o Espírito os santifica e Jesus Cristo lhes concede a sua própria obediência e os purifica apergindo sobre eles o seu sangue. Assim, logo na definição de quem são os cristãos, temos os cristãos como agentes passivos em vez de ativos. Eles são os eleitos, conhecidos, santificados e aspergidos com o sangue de Cristo. O Cristianismo não diz respeito a fazer, mas a aceitar aquilo que já foi feito por Deus em nosso favor:

1 Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, 2 eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas. Πέτρος ἀπόστολος Ἰησοῦ Χριστοῦ ἐκλεκτοῖς παρεπιδήμοις διασπορᾶς Πόντου, Γαλατίας, Καππαδοκίας, Ἀσίας καὶ Βιθυνίας, 2 κατὰ πρόγνωσιν θεοῦ πατρὸς ἐν ἁγιασμῷ πνεύματος εἰς ὑπακοὴν καὶ ῥαντισμὸν αἵματος Ἰησοῦ Χριστοῦ, χάρις ὑμῖν καὶ εἰρήνη πληθυνθείη.

Nos versículos 1.3-5, Pedro apresenta uma eulogia, ou seja, uma palavra de louvor e exaltação a Deus. Novamente aqui, vemos a primazia da ação de Deus sobre a nossa. Deus é aquele que, por causa de sua muita misericórdia, regenerou (gerou novamente) os cristãos para 2 coisas: (1) uma esperança viva e (2) uma herança que não acaba. Além disso, Deus também é aquele que guarda os cristãos com o seu poder, mediante a fé destes, para uma salvação que ainda vai se revelar (volta de Cristo e estabelecimento do novos céus e nova terra). Note que para Pedro, mesmo a fé dos cristãos é algo sustentado pelo poder de Deus. Novamente, Deus é aquele que age e os seres humanos não o objeto da ação dEle:

3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, 4 para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros 5 que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. 3 Εὐλογητὸς ὁ θεὸς καὶ πατὴρ τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ, ὁ κατὰ τὸ πολὺ αὐτοῦ ἔλεος ἀναγεννήσας ἡμᾶς εἰς ἐλπίδα ζῶσαν διʼ ἀναστάσεως Ἰησοῦ Χριστοῦ ἐκ νεκρῶν, 4 εἰς κληρονομίαν ἄφθαρτον καὶ ἀμίαντον καὶ ἀμάραντον, τετηρημένην ἐν οὐρανοῖς εἰς ὑμᾶς 5 τοὺς ἐν δυνάμει θεοῦ φρουρουμένους διὰ πίστεως εἰς σωτηρίαν ἑτοίμην ἀποκαλυφθῆναι ἐν καιρῷ ἐσχάτῳ.

Depois de explicitar a primazia da obra de Deus, Pedro agora se volta para a ação humana, mas não ainda para apresentar imperativos e sim para descrever atitudes. É nesse sentido que Pedro afirma que aqueles cristãos, embora se necessário fossem entristecidos por diversas provações, ainda assim exultavam. Como resultado dessa alegria em meio à tribulação a fé é testada, louvor, glória e honra são estocados para o dia da volta de Cristo. Nos versículos 8-9, Pedro mostra resultados da ação de Deus na vida dos cristãos: amor, exultação com alegria indizível e cheia de glória e a salvação da alma. Em suma, a resposta humana para as ações de Deus são alegria (mesmo em meio à tribulações) fé e amor. Essas respostas não aparecem aqui como imperativos, mas como atitudes que “normalmente” estão presentes para aqueles que foram objeto das ações divinas descritas anteriormente:

6 Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, 7 para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; 8 a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, 9 obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma. 6 ἐν ᾧ ἀγαλλιᾶσθε, ὀλίγον ἄρτι εἰ δέον [ἐστὶν] λυπηθέντες ἐν ποικίλοις πειρασμοῖς, 7 ἵνα τὸ δοκίμιον ὑμῶν τῆς πίστεως πολυτιμότερον χρυσίου τοῦ ἀπολλυμένου διὰ πυρὸς δὲ δοκιμαζομένου, εὑρεθῇ εἰς ἔπαινον καὶ δόξαν καὶ τιμὴν ἐν ἀποκαλύψει Ἰησοῦ Χριστοῦ• 8 ὃν οὐκ ἰδόντες ἀγαπᾶτε, εἰς ὃν ἄρτι μὴ ὁρῶντες πιστεύοντες δὲ ἀγαλλιᾶσθε χαρᾷ ἀνεκλαλήτῳ καὶ δεδοξασμένῃ 9 κομιζόμενοι τὸ τέλος τῆς πίστεως [ὑμῶν] σωτηρίαν ψυχῶν.

No próximo parágrafo (1Pe 1.10-12), Pedro argumenta que essa salvação que ele está apresentando não é uma invenção nova, mas algo que foi anunciado pelos profetas no passado (Antigo Testamento), almejado pelos anjos, mas revelado claramente aos cristãos a partir da vinda de Cristo. Em meu entender, esse parágrafo aqui parece mais com um parênteses, mas no argumento que Pedro está desenvolvendo vai se provar importante como uma confirmação da importância das Escrituras (1Pe 2.2):

10 Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, 11 investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. 12 A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar. 10 Περὶ ἧς σωτηρίας ἐξεζήτησαν καὶ ἐξηραύνησαν προφῆται οἱ περὶ τῆς εἰς ὑμᾶς χάριτος προφητεύσαντες, 11 ἐραυνῶντες εἰς τίνα ἢ ποῖον καιρὸν ἐδήλου τὸ ἐν αὐτοῖς πνεῦμα Χριστοῦ προμαρτυρόμενον τὰ εἰς Χριστὸν παθήματα καὶ τὰς μετὰ ταῦτα δόξας. 12 οἷς ἀπεκαλύφθη ὅτι οὐχ ἑαυτοῖς ὑμῖν δὲ διηκόνουν αὐτά, ἃ νῦν ἀνηγγέλη ὑμῖν διὰ τῶν εὐαγγελισαμένων ὑμᾶς [ἐν] πνεύματι ἁγίῳ ἀποσταλέντι ἀπʼ οὐρανοῦ, εἰς ἃ ἐπιθυμοῦσιν ἄγγελοι παρακύψαι.

O resto do capítulo 1, versículo 13 a 25, é introduzido por uma conjunção que apresenta as conclusões que seguem logicamente aquilo que foi apresentado até então (Διὸ, por isso, portanto, assim). Os primeiros 4 imperativos da carta aparecem nessa seção, como uma resposta humana lógica ao que foi apresentado como obra de Deus, especialmente de Cristo, ate então. Os imperativos (no texto grego) são: (1) esperai inteiramente na graça; (2) tornai-vos santos; (3) portai-vos com temor e (4) amai-vos uns aos outros ardentemente. Mesmo aqui, em meio aos imperativos, Pedro relembra várias vezes a iniciativa de Deus: eles nos fez filhos da obediência, ele é o nosso Pai, fomos resgatados pelo sangue precioso de Cristo, o nosso Cordeiro pascal, fomos regenerados ela Palavra e fomos evangelizados.

13 Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. 14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; 15 pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, 16 porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo. 17 Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, 18 sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, 20 conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós 21 que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus. 22 Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, 23 pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. 24 Pois “toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; 25 a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente”. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada. 13 Διὸ ἀναζωσάμενοι τὰς ὀσφύας τῆς διανοίας ὑμῶν νήφοντες τελείως ἐλπίσατε ἐπὶ τὴν φερομένην ὑμῖν χάριν ἐν ἀποκαλύψει Ἰησοῦ Χριστοῦ. 14 ὡς τέκνα ὑπακοῆς μὴ συσχηματιζόμενοι ταῖς πρότερον ἐν τῇ ἀγνοίᾳ ὑμῶν ἐπιθυμίαις 15 ἀλλὰ κατὰ τὸν καλέσαντα ὑμᾶς ἅγιον καὶ αὐτοὶ ἅγιοι ἐν πάσῃ ἀναστροφῇ γενήθητε, 16 διότι γέγραπται [ὅτι] Ἅγιοι ἔσεσθε, ὅτι ἐγὼ ἅγιός [εἰμι]. 17 Καὶ εἰ πατέρα ἐπικαλεῖσθε τὸν ἀπροσωπολήμπτως κρίνοντα κατὰ τὸ ἑκάστου ἔργον, ἐν φόβῳ τὸν τῆς παροικίας ὑμῶν χρόνον ἀναστράφητε, 18 εἰδότες ὅτι οὐ φθαρτοῖς, ἀργυρίῳ ἢ χρυσίῳ, ἐλυτρώθητε ἐκ τῆς ματαίας ὑμῶν ἀναστροφῆς πατροπαραδότου 19 ἀλλὰ τιμίῳ αἵματι ὡς ἀμνοῦ ἀμώμου καὶ ἀσπίλου Χριστοῦ, 20 προεγνωσμένου μὲν πρὸ καταβολῆς κόσμου φανερωθέντος δὲ ἐπʼ ἐσχάτου τῶν χρόνων διʼ ὑμᾶς 21 τοὺς διʼ αὐτοῦ πιστοὺς εἰς θεὸν τὸν ἐγείραντα αὐτὸν ἐκ νεκρῶν καὶ δόξαν αὐτῷ δόντα, ὥστε τὴν πίστιν ὑμῶν καὶ ἐλπίδα εἶναι εἰς θεόν. 22 Τὰς ψυχὰς ὑμῶν ἡγνικότες ἐν τῇ ὑπακοῇ τῆς ἀληθείας εἰς φιλαδελφίαν ἀνυπόκριτον, ἐκ [καθαρᾶς] καρδίας ἀλλήλους ἀγαπήσατε ἐκτενῶς 23 ἀναγεγεννημένοι οὐκ ἐκ σπορᾶς φθαρτῆς ἀλλὰ ἀφθάρτου διὰ λόγου ζῶντος θεοῦ καὶ μένοντος. 24 διότι πᾶσα σὰρξ ὡς χόρτος καὶ πᾶσα δόξα αὐτῆς ὡς ἄνθος χόρτου• ἐξηράνθη ὁ χόρτος καὶ τὸ ἄνθος ἐξέπεσεν• 25 τὸ δὲ ῥῆμα κυρίου μένει εἰς τὸν αἰῶνα. τοῦτο δέ ἐστιν τὸ ῥῆμα τὸ εὐαγγελισθὲν εἰς ὑμᾶς.

O que temos nesse primeiro capítulo de Pedro, portanto, é uma descrição do que Deus já fez por nós em Cristo e como nós respondemos. É evidente a primazia que Pedro dá à ação de Deus e como ele coloca mesmo as nossas ações como sendo produzidas pelo próprio Deus. Podemos resumir aquilo que Pedro diz que Deus fez por nós nos seguintes atos:

• Deus nos elegeu • Deus nos conheceu • O Espírito nos santifica • Cristo sofreu por nós • Cristo se sacrificou por nós • Cristo aspergiu seu sangue sobre nós • Cristo ressuscitou dos mortos • Deus nos tem dado um novo nascimento • Deus nos deu a sua Palavra • Deus nos preparou uma salvação futura

As ações humanas apresentadas por Pedro de forma alguma podem ser vistas como ações primárias humanas. Fazendo justiça à maneira que Pedro as apresenta e à teologia que as sustenta, somente podemos ver essas ações como uma resposta humana à ação primária e determinativa de Deus em direção aos seres humanos. Em resumo, essas respostas são:

• Creia em Cristo • Ame a Cristo • Alegre-se em Cristo • Coloque a tua esperança em Cristo • Não se conforme aos seus mais desejos do passado • Em vez disso, seja santo em tudo o que você faz • Vive em reverente temor • Ame ao teu próximo profundamente

Assim, a partir de Pedro, podemos dizer que o Cristianismo, diferente de todas as demais religiões e cosmovisões não diz respeito àquilo que nós podemos fazer, mas àquilo que já foi feito por nós. A situação moral e identitária humana é tão degradada por causa do pecado, que não há nada que nós mesmos possamos fazer para nos aproximar de Deus, sermos melhor ou para justificar nossa existência. Só podemos levantar as mãos vazias para receber aquilo que Deus já fez por nós em Cristo. Assim, não pergunte o que você pode fazer por Deus; pergunte o que Ele já fez por você e responda ao que ele já fez amando a Cristo e vivendo para ele.

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A melhor exegese, o melhor exegeta

April 1, 2015 by João Paulo Thomaz de Aquino 1 Comment

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Uma das matérias mais temidas nos estudos teológicos é a exegese. Exegese é o estudo aprofundado de um texto bíblico (um parágrafo, perícope) que faz uso de diversas ferramentas a fim de lançar luz sobre o texto. O que nem sempre lembramos é que o conceito “exegese” pode ser encontrado na própria Bíblia.

No parágrafo de abertura do evangelho de João (o prólogo, João 1.1-18), Jesus Cristo é apresentado por meio de vários de seus atributos. O último versículo desse texto (Jo 1.18), fala exatamente que Jesus é aquele que faz uma exegese do Deus invisível para nós.

 

 

Grego UBS: “θεὸν οὐδεὶς ἑώρακεν πώποτε· μονογενὴς θεὸς ὁ ὢν εἰς τὸν κόλπον τοῦ πατρὸς ἐκεῖνος ἐξηγήσατο” (exegesato).

NVI: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido“.

ARA: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou“.

ARC: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer“.

NTLH: “Ninguém nunca viu Deus. Somente o Filho único, que é Deus e está ao lado do Pai, foi quem nos mostrou quem é Deus”.

 

Esse texto mostra de forma clara o que é fazer uma exegese! O Pai é invisível para nós e, portanto, desconhecido. Para resolver esse problema de nossa ignorância com relação a Deus, Jesus Cristo veio como a melhor e mais perfeita exegese (explicação, revelação, apresentação) de Deus. No ótimo dicionário BDAG, esses são os significados do verbo e do substantivo ligados à palavra exegese: “O verbo grego ἐξηγέομαι significa “1. relatar em detalhe, dizer, reportar, descrever… 2. colocar diante em grande detalhe, expor. O substantivo, ἐξήγησις, significa: “1. narração de provê uma descrição detalhada, narrativa, descrição… 2. colocação algo adiante em grande detalhe, explicação, interpretação” (BDAG, p. 349 et seq.)”.

Porque precisamos de exegese? Uma exegese se faz necessária porque algo (evento, coisa, pessoa, texto) é desconhecido, está oculto ou não está claro o suficiente. Jesus é o melhor exegeta e a melhor exegese porque de forma perfeita (ainda que não exaustiva por causa das nossas limitações) ele nos revela o Pai. Ele é a melhor exegese por vários motivos, segundo o texto de João 1.1-18:

1. Jesus é a palavra (Jo 1.1-2): conhecemos a Deus não apenas por meio de sentimentos impossíveis de se explicar, mas Jesus Cristo é a própria palavra encarnada. Ele é palavra inteligível, Ato comunitativo que cria, anima, repreende, promete, consola e explica de forma inteligível.

2. Jesus estava com Deus (Jo 1.1-2): Jesus Cristo pode nos apresentar e explicar o Deus invisível porque ele estava com ele desde o princípio. Ele conhece a Deus perfeitamente.

3. Jesus é Deus (Jo 1.1-3): Jesus Cristo, a palavra (o logos, o verbo), pode nos mostrar a Deus porque ele mesmo é Deus. Ele é o Emanuel (Deus conosco) prometido.

4. Jesus é a luz verdadeira que ilumina a todo homem (Jo 1.4-9): No começo da história, o Diabo colocou todos os homens na escuridão do pecado. A luz de Cristo começou a brilhar já em Gênesis 3.15, em forma de promessa. Jesus é a única luz que pode conduzir o homem ao Deus desconhecido. E ele pode fazer isso qualquer um.

5. Jesus transforma em filhos de Deus a todos que o recebem (Jo 1.10-13): Jesus veio para o seu mundo que ele mesmo criou. O seu próprio povo o rejeitou. Aqueles, entretanto, que o receberam e o recebem, ou seja, aqueles que creem nele, recebem o poder de serem adotados por Deus. Jesus é a melhor exegese de Deus porque ele transforma aqueles que o aceitam em filhos adotivos do Deus invisível. De desconhecido ele se torna nosso pai. De rebeldes e inimigos, nós nos tornamos seus filhos.

6. Jesus se fez carne e acampou entre nós (Jo 1.14): Ninguém jamais havia visto a Deus. Jesus é o melhor exegeta porque ele mesmo, sendo Deus, também se fez ser humano a fim de poder nos mostrar Deus, “porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9).

7. Jesus mostra a glória de Deus (Jo 1.14): Com seus feitos e palavras; e com sua vida, morte e ressurreição, Jesus nos mostra a glória de Deus. A beleza dos atributos perfeitos e santos do Deus infinito podiam ser vistos no Jesus histórico, revelado a nós de forma especial nos evangelhos.

8. Jesus é cheio de graça e de verdade (Jo 1.14, 17): Nós somos dados a extremos. Somos mais tendentes à graça ou a verdade. Dificilmente encontramos o balanço apropriado entre essas caracetrísticas em nós mesmos, em nossa maneira de nos relaiconarmos com os outros em em nossa maneira de vermos a Deus. Jesus é a melhor exegese de Deus pois ele mostra como graça e verdade existem de maneira inesgotável e harmoniosa em Deus.

9. Jesus nos dá graça sobre graça (1.15-16): Somos pecadores. Deus é santo. Como é possível, então, que ao conhecer o Deus invisível não sejamos consumidos como alvos de sua ira justa? Isso só é possível porque na cruz Jesus conquistou salvação para nos dar de graça. Recebemos a lei por meio de Moisés. A graça que salva, no entanto, encontramos somente em Jesus Cristo.

10 Jesus é o Filho-Deus unigênito de Deus (1.14, 18): Finalmente, Jesus é a melhor exegese e o melhor exegeta porque ele é o próprio Filho unigênito de Deus. Ele nunca foi criado. Ele não é um ser inferior ao Pai. Ele é o próprio Deus Filho. É isso que os pais da igreja confessaram no Credo Niceno (325 AD): “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos Deus de Deus, Luz da luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, da mesma substância do Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas”.

 

Jesus é a melhor exegese e o melhor exegeta de Deus. Na verdade, Jesus Cristo é a única exegese autorizada por Deus e único caminho que leva ao Pai. Somente ele pode tirar o ser humano das trevas. Para conhecer o Deus invisível, só há uma forma: aceitar, conhecer e amar esse Jesus Cristo.

E o que isso tudo tem a ver com a exegese que se ensina nos seminários e que os pastores devem fazer para pregar? Tudo. Se Jesus é a única exegese autorizada de Deus o nosso papel como exegetas é encontrar Jesus em cada texto das Escrituras. Devemos usar todas as ferramentas que estão à nossa disposição (história, gramática, linguística, análise social, estudos das formas, retórica, estudos literários mais diversos) a fim de tornar claro, explicar, revelar como o Cristo que revela a Deus se apresenta naquele trecho das Escrituras e como, a partir dele, podemos conhecer a Deus, entrando em um relacionamento filial com ele.

Com a ajuda do Espírito, nós fazemos exegese do texto bíblico e encontramos a Cristo. No processo, o Espírito faz uma exegese de nós. Conhecendo mais a nós mesmos e a Cristo, por meio do Espírito, somos levados à comunhão com Deus. Nessa dinâmica relacional gerada pela Palavra inspirada de Deus, apresentamos o fruto de nossa exegese às pessoas a fim de que elas também, pelo mesmo Espírito, sejam trazidas a essa comunhão sobrenatural com Deus, em Cristo.

Jesus é a melhor exegese e o melhor exegeta. Nele, podemos apresentar exegeses que honrem a Deus.

 

Leia mais sobre exegese em: http://issoegrego.com.br/exegese/

 

 

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Filed Under: Exegese Tagged With: Exegese, exegeta, Jesus, João 1

O Que Significa “Arrependimento”

December 2, 2014 by Ricardo Meneghelli 1 Comment

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Mt 4:23 Jesus foi por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças entre o povo

Mc 1:14-15 Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. “O tempo é chegado”, dizia ele. “O Reino de Deus está próximo. Arrependam- se e creiam nas boas novas

Jesus andava por toda parte pregando o evangelho do Reino de Deus, convocando as pessoas ao arrependimento. Essa convocação era parte integrante de sua mensagem e também um requisito para o reino (Lc 13:35). Se era parte do evangelho de Jesus, deve também ser parte do evangelho que pregamos hoje; e se Jesus exigia arrependimento de seus seguidores, certamente o faz também hoje. Porém, a palavra “arrependimento” nem sempre é bem compreendia. Muitos a associam com “remorso”, palavra de origem latina, que traz o sentido de remorder, pesar; sentimento de vergonha ou a reprovação da consciência por haver cometido um erro.

No entanto, o arrependimento bíblico tem um significado muito diferente. Diferente de um sentimento negativo, arrependimento é uma atitude positiva. Usando software Logos, podemos clicar sobre o texto de Mc 1:15 e “abrir” o versículo usando o Guia Exegético. Isso irá expor cada palavra que consta no texto grego e os detalhes semânticos e sintáticos, para que possamos encontrar o significado correto do arrependimento requerido por Jesus.

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A ferramenta apresenta todas as informações sobre o termo usando diversos Léxicos da biblioteca, inclusive o Léxico de Strong em Português. Clicando no TAG de cada Léxico podemos ver a definição completa de cada termo. Em suma, percebemos que arrependimento, no contexto bíblico, não é o mesmo que remorso. Ele tem um significado importantíssimo para explicar o que deve acontecer quando alguém se torna um cristão.

Arrependimento vem da palavra grega metanoeo, que significa mudança de mente, mudança de coração ou mudança de atitude interior.

Sendo a atitude interior, ou o coração, o agente determinante do comportamento de uma pessoa, o arrependimento requerido pelo evangelho é fundamental para que ela tenha uma nova maneira de viver.

Adicionalmente, o New Bible Dictionary acrescenta que o uso de metanoeo no Novo Testamento é muito influenciado pelo significado do termo equivalente hebraico šûḇ, usado no A,T., que significa voltar, converter, uma mudança básica na motivação e na vida de alguém.

Desse modo, vemos que o arrependimento é uma mudança positiva na atitude e na motivação de uma pessoa pela qual ela se converte de sua antiga maneira de viver, voltando-se exclusivamente para Deus. Isso explica por que o arrependimento é parte integrante da mensagem de Jesus e tão necessário no evangelho que pregamos atualmente.

Recursos Logos Utilizados:

Guia Exegético

Logos Bible Software
https://www.logos.com/features#Guides

Léxico de Strong

Strong, J. (2002). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.

New Bible dictionary

Dunn, J. D. G. (1996). Repentance. In D. R. W. Wood, I. H. Marshall, A. R. Millard, J. I. Packer, & D. J. Wiseman (Orgs.), New Bible dictionary (3rd ed.). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

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Filed Under: Devocionais, Exegese Tagged With: arrependimento, Estudo Bíblico, Exegese

O Mistério da Vontade de Deus

November 3, 2014 by Ricardo Meneghelli 1 Comment

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Ef 1:4-6 Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.

Um mistério é algo que está escondido. Algo que ninguém sabe o que é, a não ser o detentor do mistério. A vontade de Deus também é um mistério, oculto nele e, desse modo, somente ele a pode revelar. Por isso, nós seres humanos, temos muitas indagações com relação ao que  esta no coração de Deus. Qual a sua intenção para com a humanidade? Por que ele nos criou? Por que ele enviou Jesus? Qual seu plano para a Igreja? Essas perguntas são respondidas quando passamos a conhecer a vontade de Deus, o mistério que só ele pode revelar. O texto acima nos mostra que a vontade de Deus está ligada a um propósito – na verdade um “bom propósito” –  motivo pelo qual ele nos adotou como filhos por meio de Jesus. Cumprindo sua vontade Deus atingirá seu propósito.

Ef 1:9-10 E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos.

Deus revelou o mistério da su vontade e já não há mais segredo. Conforme o texto nos diz, Deus quer “fazer convergir em Cristo todas as coisas”. Sendo a vontade de Deus algo tão importante e central, ligada a seu propósito para toda a raça humana, quando encontramos um texto como esse precisamos focar nossa atenção nele para descobrir o seu significado com precisão. Olhando com atenção, vemos que ele nos apresenta duas ações principais:

  • “revelou”: ação no passado, que informa que o mistério da vontade de Deus já foi desvendado.
  • “fazer convergir”: ação no infinitivo, que expressa o que Deus está fazendo para cumprir sua vontade.

“Fazer convergir” é o ponto central para compreendermos esse tema, e assim, vamos ver como o Software Logos pode nos auxiliar a compreender melhor o significado dessa expressão. Fazendo  uma rápida pesquisa no Guia Exegético, podemos ver que essa expressão é a tradução de uma única palavra grega: ἀνακεφαλαιώσασθαι/anakephalaiosastai. Adicionalmente, o “Theological Dictionary of the New Testament” (electronic ed., Vol. 3, p. 682) nos diz que essa é uma palavra rara tanto no N.T. quanto na literatura extra-bíblica, sendo difícil escolher entre seus diversos significados – razão pela qual temos vária traduções diferentes desse termo tanto nas bíblias em português quanto em inglês.

Tendo seu significado derivado de κεφαλαιον/kephalaion, que significa o mais importante, a coisa principal; anakephalaiosastai traz a idéia de “colocar todas as coisas juntas sob um princípio unificador ou uma pessoa” (segundo o “Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong), que aponta para a intenção de Deus de fazer Cristo o ponto principal e mais importante de tudo o que existe. No entanto, seu significado ainda é mais rico e podemos ter mais clareza sopre o que o apóstolo Paulo pretendia comunicar ao usar essa palavra se analisarmos o contexto no qual ela está inserida, que se desenvolve desde 1:9 até 1:23.

Ef 1:22-23 Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância.

Aqui vemos que Deus designou Cristo como o “Cabeça” (κεφαλὴ /kephale) de todas as coisas, trazendo a ideia de autoridade, comando e governo. Como o “Cabeça” do corpo, Jesus comanda e governa a Igreja com suprema autoridade. Acrescentando isso ao nosso estudo, devemos considerar que kephale é a raiz tanto de kephalaion quanto de anakephalaiosastai, de modo que, seu significado deve ser acrescentado pela força do contexto

kephale -> kephalaion -> anakephalaiosastai

Assim concluímos que:

A vontade de Deus é fazer Cristo o governante supremo de todas as coisas, reunindo tudo debaixo do seu reino (e esse é um processo contínuo, caracterizado pela prefixo “ana”) até o final dos tempos.

Essa análise concorda plenamente com outros textos bíblicos como:

Fp 2:9-11 Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.

Recursos Logos usados:

  • Guia Exegético
  • The Greek new Testamente: SBL Edition
  • Theological Dictionary of the New Testament
  • Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (em Português)

 

 

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