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O jejum está na moda. Infelizmente, no entanto, o jejum que está na moda não tem nada a ver com o Cristianismo. Encontrei centenas de websites explicando jejum como meio de fazer dieta, jejum como forma de melhorar a saúde (pressão alta, diabetes, câncer) e jejum como “detox” para o corpo e a mente. Infelizmente, o jejum cristão, por outro lado, continua em baixa e acredito ser possível dizer que a maioria dos cristãos, especialmente os mais tradicionais,  nunca fez um jejum em sua vida.

Eu não me lembro de ver na Bíblia um texto recomendando a prática de vigílias de oração (passar a noite toda acordado para orar). O jejum, por outro lado, é incentivado muitas vezes e por muitos motivos. Assim, o objetivo desse post é ver de forma introdutória o que a Bíblia tem a dizer sobre o jejum e incentivar a todos, a começar em mim, a prática dessa disciplina cristã.

Abordaremos o jejum em dois pontos principais: (1) em que situações a Bíblia recomenda o jejum e (2) quais são algumas das práticas com relação ao jejum.

1 – QUANDO FAZER JEJUM

Em uma análise baseada nas ocorrências da palavra jejum, encontrei 7 situações distintas em que o jejum é recomendado.

1.1 – Jejum em tempos de calamidade

A situação mais comum em que vemos jejum na Bíblia é em tempos de calamidade, situações de adversidade enfeitadas pelo povo de Deus como um todo ou indivíduos tementes a Deus. Os seguintes textos mostram essa situação:

2Crônicas 20.1-3 – Grande multidão da Síria vinha contra Israel, o rei Josafá proclamou jejum e, cantando, venceu a guerra.
Esdras 8.21 – Esdras e outros judeus estavam saindo da Babilônia, após o exílio, e precisavam do amparo de Deus no trajeto. Eles jejuaram, chegaram em segurança e reconstruíram Jerusalém.
Neemias 1:4 Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus. Essa foi a reação de Neemias ao ouvir a situação de abandono em que o povo de Deus se encontrava em Jerusalém.
Ester 4.3, 16 e 9.31 – Quando Hamã convenceu o Rei Assuero a baixar um decreto para que em todas cidades do império houvesse perseguição aos judeus, estes jejuaram, e o Senhor, através de Mordecai e Ester os livrou.
Salmo 35.13, 69.10 e 109.24 – Davi sendro duramente perseguido por seus inimigos e jejuou, Deus respondeu, livrando-o.
Joel 1.14, 2.12 e 2.15 – quando o povo sofreu grande carestia causada por gafanhotos, Joel proclamou um santo jejum. Naquele livro vemos a promessa do derramar do Espírito Santo de Atos 2.
2Samuel 12:16, 22-23 Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou Davi e, vindo, passou a noite prostrado em terra. Deus havia avisado que o filho fruto do relacionamento pecaminoso entre Davi e Bateseba iria morrer. Davi tentou impedir a situação com oração e jejuns. Deus não voltou atrás no que já havia dito que faria.
1Reis 21:27 Tendo Acabe ouvido estas palavras, rasgou as suas vestes, cobriu de pano de saco o seu corpo e jejuou; dormia em panos de saco e andava cabisbaixo. Elias havia anunciado tragédia contra Israel durante o reino do terrível rei Acabe. Este ora e jejua diante de Deus e Deus decide dar à terra mais alguns anos de paz.

1.2 – Jejum como confissão de pecados

Em Neemias 9.1, Jonas 3.5 e Daniel 9.3-4 vemos o jejum ser proclamado como forma de confissão de pecado a Deus. Tanto os judeus quanto os ninivitas jejuaram neste sentido e Deus os ouviu, perdoou e restaurou.

1.3 – Jejum nas batalhas espirituais

O jejum é apresentado no Novo Testamento como uma arma em meio às lutas contra o poder de Satanás e seus demônios. O próprio Jesus, antes de ser levado pelo Espírito para ser tentado por Satanás, se preparou com um jejum completo por quarenta dias!

Mateus 4:2 E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.
Mateus 17.21 e Marcos 9.29 vemos o Senhor Jesus ensinar sobre a necessidade de orar e jejuar se quisermos vencer as verdadeiras “batalhas espirituais”.

1.4 – Jejum como preparação para a obra misisonária

Atos 13.2-3 apresenta a igreja em jejum para entender quais deveriam ser os seus próximos passos na missão de Deus. Deus manda separar Paulo e Barnabé para uma viagem missionária. A igreja responde novamente com jejum e oração antes de impor sobre eles as mãos e despedi-los para a viagem:

Atos 13:2-3 E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram.

1.5 – Jejum como meio de adoração a Deus

Além de ser um recurso em meio às calamidades, uma forma intensa de arrependimento, uma arma nas batalhas espirituais e uma forma forma de se envolver na obra missionária, o jejum também pode ser feito simplesmente como uma maneira de adorar a Deus. Parece que uma das ideias por traz do jejum é que ele seja uma declaração para Deus de que Ele é mais importante em nossa vida até mesmo do que a comida. Veja o exemplo de Ana:

Lucas 2.36-37 – Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações.

1.6 – Jejum como meio de fortalecimento da igreja e de sua liderança

Jejum e oração são disciplinas espirituais muito comuns no livro de Atos. O mesmo Paulo que foi separado em jejum e oração para a obra missionária é o mesmo que em jejum e oração elegia os nossos oficiais das igrejas recente plantadas e orava e jejuava para que Deus fortalecesse os irmãos.

Atos 14:23 E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.

1.7 – Jejum como espera da volta de Cristo

O texto abaixo é muito interessante, pois mostra que a época em que Jesus estava presente na terra não era época para apresentar um certo tipo de jejum diante de Deus. Jesus estava se referindo  ao jejum que expressa tristeza pela auseência dele no mundo. O próprio Jesus entretanto deixa claro que viriam dias em que ele (o noivo) estarianausente e, então, seria hora de jejuar a sua ausência!

Marcos 2.18 (Mateus 9.15 e Lucas 5.24) Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram alguns e lhe perguntaram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam? 19 Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar. 20 Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão.

A Bíblia não nos apresneta apenas as situações nas quais fazer jejum é apropriado, mas também fala como não fazer e como fazer jejum, tanto atitudes práticas quando intenções de coração.

 

2 – COMO FAZER JEJUM E AS BÊNÇÃOS ADVINDAS DESSA PRÁTICA

2.1 – Quanto tempo e jejum de que?

Não existe uma regra fechada nas Escrituras a respeito de quantas horas se deve fazer jejum, mas encontramos algumas indicações que podem ser úteis. O final do livro de Juízes conta a história macabra do estupro e esquartejamento da concubina do levita. À medida que todo o Israel ficou sabendo disso e subiu à guerra contra os homens da tribo que havia feito aquele mal, um jejum de um dia foi convocado: “Então, todos os filhos de Israel, todo o povo, subiram, e vieram a Betel, e choraram, e estiveram ali perante o Senhor, e jejuaram aquele dia até à tarde; e, perante o Senhor, ofereceram holocaustos e ofertas pacíficas.”  (Juízes 20.26) Lembre-se de que o dia em Israel ia das 18h às 6h do dia seguinte.

Alem do jejum de um dia, encontramos na Bíblia algumas indicações de jejuns de 3 dias. Ester pediu a Mordecai que convocasse todo o povo para um jejum de 3 dias sem comer nem beber: “Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais, nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci“. (Ester 4.16)

Os moradores de Jabes-Gileade, após recuperarem o corpo de Saul dos filisteus e enterrarem-no de maneira própria, fizeram um jejum de 7 dias (cf. 1 Samuel 31.13). Não dá para saber se esse jejum foi espiritual ou somente causado por luto.

Finalmente, em duas ocasiões encontramos jejuns na Bíblia de 40 dias. Quando Moisés recebeu a lei no monte Sinai, ele ficou diante de Deus quarenta dias e quarenta noites sem comer, nem beber: “E, ali, esteve com o Senhor quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água; e escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras.” (Êx 34.28). Jesus também ficou 40 dias sem comer quando se preparava para o seu ministério e para ser tentado por Satanás: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, 2 durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome” (Lc 4.1-2)

O que vemos nesses textos é que existe jejum de 1 dia, 3, 7 e até 40 e que normalmente o jejum implica em abstinência total de comida e bebida. Isso não significa que alguém só possa fazer jejum nesses padrões, mas parece que há certa liberdade na maneira que se pratica essa disciplina espiritual. Um texto na Bíblia aponta para a possibilidade de fazer jejum de outra coisa que não seja comida e bebida. Paulo falando sobre o dever do casal cristão fazer sexo abre a possibilidade de uma espécie de “jejum de sexo” para se dedicar a oração. O apóstolo dia claro que isso era uma concessão e não um mandamento: “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência” (1Co 7.5).

Parece para mim que a Bíblia abre a possibilidade de fazermos jejum de outras coisas que não alimento e bebida, mas a declaração mais forte que alguém pode dar a Deus é: o Senhor é mais importante para mim do que comida e bebida e “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (João 4.34).

 

2.2 – Como não fazer jejum

Os fariseus da época de Jesus gostavam de praticar disciplinas espirituais na frente de todo o povo como uma forma de mostrar a sua piedade e superioridade espiritual diante de todos. Jesus abordou esse assunto em Mateus 6.16-18.

Mateus 6.16-18 Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. 17 Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, 18 com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

Vemos o mesmo tipo de repreensão quando Lucas conta a história do fariseu e do publicano. O fariseu usava o jejum como argumento diante de Deus para comprovar a sua superioridade espiritual: “jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.”  (Lucas 18.12).

No Antigo Testamento temos o exemplo de Jezabel, que proclamou um jejum quando acusou falsamente Nabote a fim de que seu marido, o rei Acabe, ficasse com a vinha de Nabote: “E escreveu nas cartas, dizendo: Apregoai um jejum e trazei Nabote para a frente do povo.” (1 Reis 21:9).

Ou seja, embora o jejum seja uma arma espiritual poderosa para ser usada em diversas ocasiões, ele também pode ser praticado de maneira indevida, para falsear espiritualidade.

2.3 – Como fazer jejum

Deus nos proveu nas Escrituras com um texto bem detalhado explicando quais devem ser as atitudes daqueles que querem fazer um jejum que seja agradável a Deus. Colocarei alguns títulos explicando A porção do texto e os próprios versículos falarão por si mesmos.

 

Situação do povo
1 Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados.

Falsa religiosidade e cobrança a Deus
2 Mesmo neste estado,
ainda me procuram dia a dia,
têm prazer em saber os meus caminhos;
como povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus, perguntam-me pelos direitos da justiça,
têm prazer em se chegar a Deus, 3 dizendo:
Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso?
Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?

Erros no jejum que o povo fazia
Eis que, no dia em que jejuais,
cuidais dos vossos próprios interesses e
exigis que se faça todo o vosso trabalho.
4 Eis que jejuais para contendas e rixas
e para ferirdes com punho iníquo;
jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto.
5 Seria este o jejum que escolhi,
que o homem um dia aflija a sua alma,
incline a sua cabeça como o junco e
estenda debaixo de si pano de saco e cinza?
Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao SENHOR?

Deus ensina qual é o jejum que lhe agrada
6 Porventura, não é este o jejum que escolhi:
que soltes as ligaduras da impiedade,
desfaças as ataduras da servidão,
deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?
7 Porventura, não é também
que repartas o teu pão com o faminto,
e recolhas em casa os pobres desabrigados,
e, se vires o nu, o cubras,
e não te escondas do teu semelhante?

As bênçãos decorrentes do Jejum que agrada a Deus

8 ENTÃO,
romperá a tua luz como a alva,
a tua cura brotará sem detença,
a tua justiça irá adiante de ti,
e a glória do SENHOR será a tua retaguarda;
9 ENTÃO,
clamarás, e o SENHOR te responderá;
gritarás por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui.

Aplicação: Proposta divina

SE
tirares do meio de ti o jugo,
o dedo que ameaça,
o falar injurioso;
10 SE
abrires a tua alma ao faminto
e fartares a alma aflita,
ENTÃO,
a tua luz nascerá nas trevas,
e a tua escuridão será como o meio-dia.
11 O SENHOR te guiará continuamente,
fartará a tua alma até em lugares áridos
e fortificará os teus ossos;
serás como um jardim regado
e como um manancial cujas águas jamais faltam.
12 Os teus filhos edificarão as antigas ruínas;
levantarás os fundamentos de muitas gerações
e serás chamado reparador de brechas
e restaurador de veredas para que o país se torne habitável.

13 SE
desviares o pé de profanar o sábado
e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia;
SE
chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra,
e o honrares
não seguindo os teus caminhos,
não pretendendo fazer a tua própria vontade,
nem falando palavras vãs,
14 ENTÃO,
te deleitarás no SENHOR.
Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra
e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai,

Garantia Divina

porque a boca do SENHOR o disse.

 

CONCLUSÃO

O jejum não é um recurso espiritual para ser usado apenas raramente. Ao contrário, a vontade revelada de Deus é que os cristãos façam jejum com certa regularidade, a fim de crescerem espiritualmente e demonstrarem a sua dependência de Deus em adoração a ele. Junto com a oração, o culto dominical, a comunhão cristã e a leitura das Escrituras, o jejum é um meio de graça que deve ser usado por todos os  cristãos que desejam ter uma vida espiritual mais frutífera a abençoada por Deus.

Ficar totalmente sem comer e beber é mais difícil do que ficar sem comer chocolate ou sem beber coca-cola. Ficar sem comer um dia inteiro é mais difícil e em certo sentido valioso do que fazer um jejum de apenas algumas horas. Também não precisa começar com um jejum de 3 dias. Decida fazer jejum e comece com pouco tempo (um dia inteiro e comer somente à noite?), a fim de conhecer as reações do seu corpo. O importante é começar e cuidar para que as motivações do seu coração sejam santas e agradáveis diante de Deus. Vamos jejuar?

Criado por
João Paulo Thomaz de Aquino
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1 comentário
  • Ótimo estudo. Deus seja louvado por sua vida e ministério!

Criado por João Paulo Thomaz de Aquino