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Não nos deixe cair em tentação!

καὶ μὴ εἰσενέγκῃς ἡμᾶς εἰς πειρασμόν,

ἀλλὰ ῥῦσαι ἡμᾶς ἀπὸ τοῦ πονηροῦ.

E não nos deixes cair em tentação;

mas livra-nos do mal.

 

Após pedir perdão pelos pecados cometidos, “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mateus 6.12), na última petição da oração dominical, aprendemos a reconhecer a nossa incapacidade de nos mantermos firmes na luta contra o pecado sem o auxílio de Deus. No pedido anterior pedimos perdão, neste pedimos por santificação. No anterior reconhecemos as nossas falhas do passado, neste reconhecemos que, mesmo convertidos, ainda temos uma natureza pecaminosa, desejos, motivações, pensamentos e ações incompatíveis com a nova natureza que o Espírito está criando em nós. Nós somos tentados pelo mundo, pela a carne e pelo diabo.

A Bíblia chama de “mundo” a soma das pessoas, instituições e produções humanas influenciadas pelo diabo que alimentam e produzem umas às outras ampliando cada vez mais o seu poder de sedução e influência. Somos constantemente influenciados pelo mundo ou “presente século”. Meios de comunicação, aulas na universidade, conchavos políticos, redes sociais, conversas informais, mercado de trabalho e outros compõem esse complexo filosófico-prático que a Bíblia chama de mundo. O apóstolo do amor nos orienta: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1 João 2.15-17).

A segunda fonte de nossa tentação e provação nesse mundo é a nossa carne. O termo “carne” tem acepções diferentes na Bíblia, pode se referir à nossa parte material (carne = corpo humano), à carne de comer (carne = carne de ovelha, boi) ou ao pecado que habita em nós (carne = velho homem, pecado que habita em nós). É nesse último sentido que a carne é um grande inimigo. Tiago diz: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tiago 1.13-14). O irmão do Senhor também diz: “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?”. Curiosamente, embora pareça mais fraca que o mundo e que o diabo, a carne é o fator determinante nos nossos pecados. Podemos ser externamente tentados pelo mundo e pelo diabo, mas se a carne não ceder ao pecado, continuaremos firmes pela graça de Deus.

Finalmente, o terceiro inimigo que temos é o diabo, Satanás. Ele tentou a Jesus (Mateus 4, Lucas 4), oferecendo-lhe suprimento para as suas necessidades físicas, poder e riquezas em troca de sua adoração. Ele faz o mesmo conosco. Ele rouba a Palavra de Deus dos corações (Lucas 8.12, Gn 3.1-4) e influencia pessoas para se colocarem contra Jesus Cristo (Jo 8.44; 13.2). Ele é enganador, inimigo de toda justiça e influencia pessoas para serem da mesma forma (Atos 13.10). Ele acusa os filhos de Deus visando afastá-los do Amado (Ap 12.10) e usa armadilhas para derrubar os servos de Deus (1Tm 3.7; Jo). É por isso que temos instruções bíblicas para não dar lugar ao diabo (Ef 4.27), para usarmos a armadura de Deus (Ef 6.11), para resistirmos ao diabo (Tiago 4.7). Temos também o exemplo de Jesus que venceu as tentações satânicas respondendo com a Palavra. Pedro diz: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1 Pedro 5:8).

Assim, quando Jesus nos exorta a orar para que Deus não nos conduza, leve ou induza à tentação (significados da palavra εἰσενέγκῃς), ele leva em consideração a nossa fraqueza e extrema necessidade do cuidado, da preservação e uma consciência clara da soberania de Deus. É um pedido para que Deus nos preserve de tal forma a que não aconteça conosco o que aconteceu com Jó. O pedido se completa com “mas livra-nos do mal” (ou do maligno). Deus tem poder para nos preservar. Ainda assim, por vezes ele permitirá que sejamos tentados e nós teremos que usar as armas que o próprio Deus nos proveu para vencermos: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia. Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1Co 10.12-13). “Porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo” (2Pe 2.9).

O diabo quer danar a sua alma e usará as armas dele para isso. O mundo em que você vive é um ambiente que tenta te conformar aos seus valores e atitudes antagônicos ao Reino (Rm 12.1-3). Até mesmo dentro de você existe um inimigo terrível que faz com que você deseje o que Deus abomina (Rm 7.7-25). Em meio a tudo isso, você é chamado a peregrinar de maneira justa e santa em direção a pátria celestial. Haverá guerra e sofrimento, mas com o auxílio do alto você poderá chegar do outro lado. O mesmo que ensinou a orar o Pai Nosso também disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus 26.41). Ele é o Cordeiro que morreu para nos purificar dos nossos pecados e nos possibilitar uma vida de santidade na presença de Deus. Lute a batalha da santidade com as armas de Cristo. Tenha ódio do pecado (Judas 23) e quando pecar, volte correndo arrependido, confessando os seus pecados para o Grande Sumo Sacerdote que se compadece de nós.

 

Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna. (Hebreus 4.14-16)

 

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Criado por
João Paulo Thomaz de Aquino
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