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Sexo Santo e de Verdade: Um Passeio pelo Cântico dos Cânticos – Parte 2


No último post, vimos uma característica do sexo no livro de Cantares: “O sexo no contexto correto é puro e delicioso”. Hoje veremos mais algumas lições que esse precioso livro tem a nos ensinar.

 

2 O Sexo no Contexto Correto não é Machista nem Feminista

 

Não faltam perversões sexuais e mídias para divulgá-las. Tais perversões via de regra atribuem um papel de dominador e um papel de subjugado na relação sexual. Uma das belezas do Cântico dos Cânticos é notar que a mulher e o homem têm papéis iguais na relação sexual. Ambos elogiam, ambos seduzem, ambos se entregam, ambos buscam o prazer do outro e encontram o seu próprio prazer no prazer do outro. Em um escrito tão antigo, não há nem mesmo traços de opressão à mulher, mesmo em se tratando de uma figura masculina real. Na verdade, a realeza do noivo é vista na noiva e as características camponesas da noiva são elogiadas, valorizadas e emuladas pelo noivo.

Essa característica do livro de Cantares lembra a abordagem paulina sobre os direitos e deveres de marido e mulher em 1 Coríntios 7, onde tudo o que Paulo ordena ao marido, ordena-o também à esposa e vice-e-versa, pois “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher” (1Co 7.4).

 

3 O melhor dos casamentos enfrenta problemas

 

Ainda que seja bastante difícil fazer afirmações categóricas sobre textos específicos de Cântico dos Cânticos devido às suas figuras antigas, o acúmulo de certos temas nos permite extrair conclusões. Mesmo um livro tão romântico e festeiro apresenta certas tensões. Em Cantares 2.15 o noivo diz: “Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos,porque as nossas vinhas estão em flor”. A história de interpretação desse versículo mostra quantos problemas e diferentes interpretações o mesmo já recebeu. Apenas chamamos atenção aqui para uma tensão inegável no mesmo: as raposas que devastam os vinhedos precisam ser contidas.

No capítulo seguinte, lemos que a ausência do noivo fez com que a noiva saísse para procurá-lo: “Noites e noites, na minha cama, eu procurei o meu amado;procurei, porém não o encontrei. Então me levantei e andei por toda a cidade, pelas ruas e pelas praças. Eu procurei o meu amado; procurei, mas não o pude achar. Os guardas que patrulham a cidade me encontraram, e eu perguntei: “Vocês viram o meu amado?” E, logo que saí de perto deles, eu o encontrei. Eu abracei o meu amado e não o deixei ir embora” (Ct 3.1-4, NTLH).

Outra tensão é vista no capítulo 5: “Ela: Eu dormia, mas o meu coração estava acordado. Então ouvi o meu amado bater na porta. Ele: Deixe-me entrar, minha querida, meu amor, minha pombinha sem defeito. A minha cabeça está molhada de sereno, e o meu cabelo está úmido de orvalho. Ela: Eu já tirei a roupa; será que preciso me vestir de novo? Já lavei os pés; por que sujá-los outra vez? O meu amor passou a mão pela abertura da porta, e o meu coração estremeceu. Eu já estava pronta para deixar o meu querido entrar. As minhas mãos estavam cobertas de mirra, e os meus dedos também, e eu segurava o trinco da porta. Então abri a porta para o meu amor, mas ele já havia ido embora. Como eu queria ouvir a sua voz! Procurei-o, porém não o pude achar; chamei-o, mas ele não respondeu. Os guardas que patrulhavam a cidade me encontraram; eles me bateram e me machucaram; e os guardas das muralhas da cidade me arrancaram a capa. Prometam, mulheres de Jerusalém: se vocês encontrarem o meu amado, digam que estou morrendo de amor.” (Ct 5.2-8).

Ainda que as imagens sejam estranhas para nós e não consigamos interpretar os detalhes, cada uma delas apresenta uma tensão no relacionamento entre o casal apaixonado apresentado no livro de Cantares. Ao mesmo tempo, cada uma dessas tensões é apresentada como tendo sido resolvida pelo casal, que permanece unido e apaixonado à despeito dos problemas que lhes aparecem ou que eles mesmo causam um ao outro.

 

4 O sexo tem hora certa para acontecer

 

Uma das lições principais do livro de Cantares, colocada especialmente na boca da mulher é que esse amor sensual e apaixonado tem hora certa para acontecer. Em Ct 2.7; 3.5 e 8.4 o refrão é repetido para as moças de Jerusalém: “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira.” Alguns estudiosos acham que esse texto está falando sobre o amor do casal que não deve ser atrapalhado.[1] No entanto, além da tradução ARA ser literal, ou seja, com uma referência ao amor em geral e não ao amor do casal em particular, parece que os versículos 8.8-9 confirmam que esse é um ensino para as moças de Jerusalém: “Temos uma irmãzinha que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que for pedida? Se ela for um muro,       edificaremos sobre ele uma torre de prata; se for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro”. Ou seja, a irmãzinha que ainda não tem “corpo de mulher” deve ser preservada.

Se essa interpretação estiver certa, então, o que temos no livro de Cantares é uma lição muito importante para a nossa época, em que as crianças recebem orientação sexual (oficial ou de colegas) antes de completarem os 10 anos. O sexo é uma bênção pura criada por Deus que visa não somente à reprodução, mas também a alegria de homens e mulheres casados. Por isso mesmo, a sexualidade não deve ser despertada antes da hora. Adolescentes, namorados e noivos são convocados a não despertar o amor até o momento e contexto corretos. Guardem-se. Não se permitam intimidades que devem ser reservadas para serem descobertas e usufruídas no contexto do casamento. Não profanem o corpo de vocês que é santuário do Espírito (1Co 6.12-20). Aqueles que são solteiros e viúvos, lembrem-se da advertência apostólica: “Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado” (1Co 7.9).

 

5 O sexo não é a base de um casamento, o amor é.

 

Esse amor apaixonado descrito em Cantares, embora dê um lugar de proeminência ao sexo, não o coloca como o centro de tudo. Mais do que sexo, existe uma profunda apreciação e admiração entre os cônjuges. Mais do que sexo, existe um anseio pela presença um do outro. Mais do que sexo, existe um desejo pela proximidade e intimidade. Os elogios exaltam as formas, mas também o caráter de cada um. Existem declarações de ambos de como o seu cônjuge é incomparavelmente melhor do que qualquer outro homem ou mulher que existam.

Sendo o coração no pensamento hebraico o centro da pessoa, o pedido da noiva é mais do que físico ou emocional: “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado.” (Ct 8.6-7, NVI).

O livro de Cantares não celebra apenas o sexo, mas celebra um casamento bem-sucedido entre dois jovens que estão apaixonados e se amam com um amor abençoado pelo próprio Deus. Onde está Deus em Cantares? Cantares é Palavra de Deus. O mesmo Deus que fez Adão e Eva para se completarem (Gn 2), que deu prazer à Sara mesmo já sendo idosa (Gn 18.12), que conduziu o servo de Abraão na busca por uma esposa para Isaque de forma que este fosse consolado pela morte de sua mãe (Gn 24.67), que abençoou o amor e o casamento de Jacó e Raquel (Gn 29.28-30) é o Deus que inspirou o Cântico de Salomão. Ele é quem criou homem e mulher para se completarem e, juntos, no contexto do casamento, fazerem tudo para a glória de Deus, até mesmo sexo.

 

[1] A tradução NTLH reflete essa interpretação: “Mulheres de Jerusalém, prometam e jurem, pelas gazelas e pelas corças selvagens, que vocês não vão perturbar o nosso amor.”

Criado por
João Paulo Thomaz de Aquino
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1 comentário
  • Excelente, JP! Eu não timha visto o anterior até que acessei este.

Criado por João Paulo Thomaz de Aquino