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Você já se sentiu esquecido por Deus? Já sentiu como se suas orações não estivessem sendo ouvidas e seu alimento diário fosse tristeza e lágrimas? Já se sentiu como se estivesse para morrer sem ver claramente uma porta de esperança?

No cristianismo triunfalista de nossa época não há espaço para crise, tristeza e sentimento de abandono da parte de Deus. Mas esse não é o cristianismo bíblico. No cristianismo bíblico, mesmo com Deus, a vida continua tendo altos e baixos. No cristianismo bíblico, mesmo um cristão fiel pode enfrentar situações que beiram a sua capacidade de suportar. No cristianismo bíblico a desorientação do sofrimento nos faz perguntar “até quanto” e “por que” em vez de somente “para que”.

É esse cristianismo robusto que encontramos no Salmo 13 e na maioria dos primeiros 15 salmos do Saltério. São os chamados salmos de lamento, cantados por servos de Deus quando lhes parecia que a justiça divina os abandonou e os inimigos de Deus estavam prevalecendo.

 

Até quando, Senhor?

Esquecer-te-ás de mim para sempre?

Até quando ocultarás de mim o rosto?

Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma,

com tristeza no coração cada dia?

Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?

Atenta para mim, responde-me, Senhor, Deus meu!

Ilumina-me os olhos, para que eu não durma o sono da morte;

para que não diga o meu inimigo: Prevaleci contra ele;

e não se regozijem os meus adversários, vindo eu a vacilar. (Salmo 13.1-4)

Veja algumas frases dos salmos vizinhos do 13: “Por que, Senhor, te conservas longe? E te escondes nas horas de tribulação? … Levanta-te, Senhor! Ó Deus, ergue a mão! Não te esqueças dos pobres.” (Salmo 10.1, 12); “O Senhor põe à prova ao justo e ao ímpio” (Salmo 11.5); “Socorro, Senhor! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens”. (Salmo 12.1); “Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” (Salmo 14.2-3).

O Salmo 13, assim como outros salmos de lamento, nos ensina que temos liberdade de expressão em nossas orações. Extraiamos algumas lições práticas desse salmo. (1) Deus quer corações sinceros em vez de frases feitas e sorrisos falsos. (2) Deus quer ser real para nós em nosso desespero. Lutar com Deus em oração em meio ao desespero é reconhecer que ele é real e que confiamos que ele pode fazer alguma coisa. A indiferença e a procura de outros tantos recursos em vez de Deus são formas de ateísmo prático. (3) Haverá sofrimento, tragédias pessoais, sentimento de abandono e tantas outras experiências ruins em nossa caminhada nesse mundo amaldiçoado por Deus por causa da queda. E nós, cristãos, vamos passar por essas experiências. Evitar o sofrimento a todo custo é elevar o Eu à condição de Deus, é egolatria. Cristo sofreu para nos redimir e, enquanto estivermos nesse mundo, também sofreremos (1 Pedro 1). (4) Existem pessoas más que são inimigas de Deus e/ou minhas e vão fazer de tudo para nos prejudicar.

Provavelmente as últimas linhas do Salmo 13 foram escritas depois que Deus enviou a salvação ao salmista. Ou talvez todo o salmo foi escrito em retrospectiva da aflição e da salvação que Deus enviou:

 

No tocante a mim, confio na tua graça;

regozije-se o meu coração na tua salvação.

Cantarei ao Senhor,

porquanto me tem feito muito bem. (Salmo 13.5-6)

 

(5) Lembre-se que em meio a todo o sofrimento em um mundo atordoado, confuso e cheio de mentiras, existe um Deus que habita nos céus, cujo plano de transformação de todo o cosmos está em andamento. Esse Deus é fiel para com aqueles que o amam e nele confiam. Ele tem poder para transformar lamento em alegres cânticos de louvor. Ele não ficou apenas no céu, impassível e alheio às suas criaturinhas, mas se fez homem, viveu nossos problemas, sofreu nossas dores, enfrentou as nossas tentações e provações e morreu em uma cruz para nos salvar em meio ao sofrimento e a injustiça.

Deus ouve, vê, sabe e age em favor dos que são dele. (6) Mas lembre-se, ele o faz no tempo dele e da maneira dele. Até lá o teu papel será continuar reconhecendo que somente ele pode livrar, e elevar a ele o clamor de fé: “até quando, Senhor?” (7) E quando ele agir e te livrar, volte e diga a ele e aos teus conhecidos: “Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem”.

Criado por
João Paulo Thomaz de Aquino
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