Cristianismo é identificação com Jesus Cristo. Um discípulo não era um frequentador de igreja. Um discípulo não era alguém que simplesmente acreditava nas teorias do mestre. Discípulo no mundo antigo, era uma pessoa que passava a viver com o seu mestre, aprendendo constantemente dele, ouvindo as suas palavras e vendo as obras dele. O discípulo servia voluntariamente o seu mestre, tratando-o como seu senhor. Ser cristão é ser discípulo de Jesus, é andar atrás dele, imitando-o em suas palavras e obras, reproduzindo o caráter dele e assumindo os valores ensinados por ele.
Jesus era popular. Muitos queriam segui-lo, afinal, no mundo daquela época, ser discípulo de alguém famoso era como entrar numa universidade de renome em nossos dias. Era garantia de também se tornar importante no futuro. Mas os valores de Jesus eram diferentes. Em Lucas 9.23, a lição fundamental de discipulado é autonegação. O verdadeiro discípulo de Jesus nega suas vontades, planos, sonhos, tendência de buscar a própria honra e satisfação. Essa autonegação é tão radical, que Jesus a chamou de crucificação. Os ouvintes da época devem ter pensado que a metáfora era exagerada, até que viram o Senhor pendurado na cruz.
Sim, nós somos chamados a carregar a cruz, assim como os condenados, nus, desprovidos de qualquer honra própria carregavam sua cruz em direção à tortura mortal. Mas a cruz que nos é oferecida, não o é apenas para o final da vida, mas é uma cruz diária. É a morte diária das vontades pessoais, do desejo de ser servido em prol do servir ao outro. É a ânsia de receber trocada à duras penas pela atitude do dar. É o abandono violento do ‘eu’, do ‘meu’ e do ‘para mim’ a fim de servir a própria vida a Deus e ao próximo. É a disposição de assumir erros, pecados e fraquezas, arrepender-se e pedir perdão.
Aquele que tem nos punhos as marcas dos cravos e da lança no tronco, nos chama a tomar uma atitude de autocrucificação. Ele nos convida a colocarmos na cruz até mesmo o amor que temos por nossos familiares, à medida em que esse se transforma em idolatria e autopreservação (Lc 14.26). Pai, mãe, esposa, filhos, irmãos; todos devem estar abaixo do Senhor em nossa lista de amores. De maneira especial, a própria vida tem que ser colocada e tratada como algo de importância e valor secundários frente aos valores do céu. Se você não está disposto a suportar o peso da autonegação (cruz) não tem condições de ser discípulo dele. Jesus não está à procura de fãs, estudiosos, entusiastas ou amigos, Jesus nos convida a sermos seus discípulos e o seguirmos no caminho da autonegação e da cruz. Aquele que quiser preservar a própria vida, perdê-la-á. Aquele que ativamente perder a própria vida diariamente por Cristo, salvá-la-á. Jesus nos chama a segui-lo, mas ele quer seguidores que carreguem cruzes.
Tradução Própria e Estrutura
Lucas 9.23-24
9.23 Ἔλεγεν δὲ πρὸς πάντας, (o convite é para todos)
….Εἴ τις θέλει ὀπίσω μου ἔρχεσθαι, (a vontade aparece aqui é no v. 24)
……..ἀρνησάσθω ἑαυτὸν (imperativo aoristo)
……..καὶ ἀράτω τὸν σταυρὸν αὐτοῦ καθʼ ἡμέραν (imperativo aoristo)
……..καὶ ἀκολουθείτω μοι. (imperativo presente)
…………24 ὃς γὰρ ἂν θέλῃ τὴν ψυχὴν αὐτοῦ σῶσαι ἀπολέσει αὐτήν·
…………ὃς δʼ ἂν ἀπολέσῃ τὴν ψυχὴν αὐτοῦ ἕνεκεν ἐμοῦ οὗτος σώσει αὐτήν.
9.23 E ele disse a todos:
….”Se qualquer um está querendo atrás de mim vir,
……..negue a si mesmo
……..e pegue a cruz dele a cada dia
……..e esteja seguindo a mim.
…………9.24 Pois aquele que quiser a própria vida salvar, perdê-la-á.
…………Mas aquele, por outro lado, que perder a própria vida por minha causa, este a salvará”.
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Lucas 14.26-27
14.26 Εἴ τις ἔρχεται πρός με (dif. de 9.23, não fala da vontade de seguir, mas do seguir em si)
καὶ οὐ μισεῖ[1]
….τὸν πατέρα ἑαυτοῦ
….καὶ τὴν μητέρα
….καὶ τὴν γυναῖκα
….καὶ τὰ τέκνα
….καὶ τοὺς ἀδελφοὺς
….καὶ τὰς ἀδελφὰς
….ἔτι τε καὶ τὴν ψυχὴν ἑαυτοῦ, (existe uma introdução especial para falar sobre o ódio à própria alma)
……..οὐ δύναται εἶναί μου μαθητής.
14.27 ὅστις οὐ βαστάζει τὸν σταυρὸν ἑαυτοῦ (aqui temos uma estrutura de paralelismo com o v. anterior, cruz = “ódio”)
καὶ ἔρχεται ὀπίσω μου,
……..οὐ δύναται εἶναί μου μαθητής. (já segue, mas não leva a cruz, não pode continuar sendo discípulo!)
14.26 Se alguém vier atrás de mim
e não deixa de preferir [odeia]
….ao seu pai
….e a mãe,
….e a esposa,
….e os filhos
….e os irmãos,
….e as irmãs
….e até mesmo a sua própria vida,
……..não é capaz de ser meu discípulo.
14.27 Qualquer um que não suporta o peso de sua cruz
e vem após mim,
……..não é capaz de ser meu discípulo.
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[1] to be disinclined to, disfavor, disregard in contrast to preferential treatment. William Arndt, Frederick W. Danker, and Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (Chicago: University of Chicago Press, 2000), 653.