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O gambá é bonitinho, mas morde doído e te deixa fedido.

Gosto muito de ouvir músicas cristãs. Há alguns artistas cristãos que conseguem expressar em poucas palavras aquilo que o nosso coração sente ou o que um teólogo escreveria um livro para conseguir explicar. Algo que tem me incomodado, no entanto, é a ênfase exagerada das músicas cristãs populares no amor de Deus. É estranho falar isso pois, em certo sentido, é impossível exagerar o amor de Deus. Tudo o que falarmos sobre a sua grandeza ainda ficará aquém da verdade, afinal, Deus é amor (1Jo 4.8). O exagero, no entanto, ocorre quando se fala repetidamente sobre o amor de Deus, enquanto, ao mesmo tempo se ignora outros atributos tais como a santidade, a justiça e a ira. Deus também é luz (1Jo 1.5). Um Deus que é amor, mas não é luz é apenas uma caricatura do Deus da Bíblia.

Todo cristão se lembra do ato terrível do rei Davi, de adulterar com Bate-Seba, tentar esconder o seu feito trazendo o valente e honrado Urias da guerra, mandar matá-lo (o próprio carregando a sentença de morte) e tomá-la como esposa após a morte dele. Você provavelmente se lembra também da maneira que o sacerdote Natã contou uma parábola de como um homem rico cheio de ovelhas mandou matar a ovelhinha de estimação do outro para servir a um amigo que veio visitá-lo. O endurecimento de Davi durou meses e foram essas palavras de Natã que o fizeram retornar ao Senhor.

O que Davi encontrou da parte do Senhor? O próprio Davi conta que eventualmente encontrou perdão e alegria, pois Deus o perdoou (Salmo 32). Ele confessou o seu pecado e acertou as suas contas com o Deus todo amoroso e perdoador (Salmo 51). Mas não foi só isso. Houve consequências drásticas também, pois Deus é amor, mas também é luz (santidade, justiça, ira contra o pecado). Vejam o que Natã disse a Davi:

Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol. Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor. Disse Natã a Davi: Também o Senhor te perdoou o teu pecado; não morrerás. Mas, posto que com isto deste motivo a que blasfemassem os inimigos do Senhor, também o filho que te nasceu morrerá. (2Sm 12.10-14)

Deus disse que (1) a espada não se apartaria da casa de Davi, (2) Deus levantaria o mal contra Davi, (3) O próprio Deus tomaria as mulheres de Davi e daria a outro homem em público, (4) o filho que nasceu como fruto daquele adultério morreria. É assustador ver como Deus diz em primeira pessoa: eu farei isso contra você, Davi! Embora Deus tenha perdoado Davi, o pecado dele não foi simplesmente apagado e lançado no fundo do mar, mas teve consequências terríveis trazidas pelo próprio Deus, ainda que cada perpetrador de maldade tenha tido a sua responsabilidade moral e consequencias devidas.

Nos capítulos seguintes de 2 Samuel, o filho daquele adultério morre (2Sm 12.15-19); o filho de Davi, Amnon estupra a sua irmã, Tamar, e a despreza depois (2Sm 13); Absalão, irmão de Tamar, mata seu irmão Amnon aslim que tem oportunidade (2Sm 13.23ss); Absalão toma o reino de Davi e se deita com algumas das mulheres de seu pai à vista de todo o povo (2Sm 15—16); e, afinal, Absalão é morto pelo exército de Davi (2Sm 18).

Ou seja, Deus perdoou Davi, preservou a vida, o reino e as promessas que havia feito a Davi. Deus, em sua grande graça perdoadora até mesmo amou de maneira especial o segundo filho de Davi com Bate-Seba (2Sm 12.24-25), mas as consequências do pecado de Davi foram terríveis, hediondas e drásticas. Deus é amor, mas também é luz!

Para nós, a aplicação é evidente: não abuse do amor gracioso e perdoador de Deus. Não se esqueça de que o Deus que é amor também é santidade, justiça e ira contra o pecado. O nosso Deus é fogo consumidor (Hb 12.9). Lute contra o pecado, mesmo contra aqueles que parecem ser tão pequenos. O pecado terrível de Davi começa com um simples levantar tarde, deixar de ir à guerra quando deveria. Isso o levou a um olhar luxurioso sobre a mulher de outro homem (2Sm 11.1-2). Lute contra o pecado em suas formas mais “inofensivas” (mentirinha branca, inveja santa, olhar que todos olham, piadinhas sujas, conversas só um pouco picantes, preguiça, só um pouco de orgulho). Viva de forma santa para agradar o Deus que é Santo, Santo, Santo e cuja a glória enche a terra.

Assim como alguns pecados, o gambá parece bonitinho e inofensivo, mas morde doído e te deixa fedido por dias.

Criado por
João Paulo Thomaz de Aquino
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