1 Reis 8.27, 30 Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei… Ouve, pois, a súplica do teu servo e do teu povo de Israel, quando orarem neste lugar; ouve no céu, lugar da tua habitação; ouve e perdoa.
Yuri Gagarin foi o primeiro homem a ir para o espaço. Atribui-se a ele (talvez erradamente) a frase: “Olhei para todos os lados, mas não vi Deus”. Contra todo o ceticismo, ateísmo (filosófico ou prático) e agnosticismo, a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos começa com a invocação: “Pai Nosso que estás nos céus”!
John MacArthur Jr, no livro Alone with God, afirma que os judeus viam cinco dimensões na paternidade de Deus: o Pai da nação (1Cr 29,10); o Pai que está próximo (Sl 68); o Pai gracioso (Sl 103.13), o Pai que guia (Jr 31.9) e o Pai que requer obediência (Dt 32.6).[1] Aqueles que foram adotados por Deus, tem um tipo de proximidade de Deus que possibilita a eles chamarem-no de “Meu Pai”. Mais especificamente, conscientes de que pertencem à família de Deus, juntamente com seus irmãos adotivos, e com o único Filho gerado, Jesus, eles podem invocar a Deus como “Pai Nosso”. Na teologia, essa característica de Deus de se dar a conhecer e se relacionar com os seres humanos é chamada de imanência. Por graça e amor, Deus quis se relacionar com os homens que ele mesmo criou à sua imagem e semelhança, mesmo depois que eles se rebelaram.
Esse “Pai Nosso”, entretanto, está nos céus. Nunca podemos nos esquecer que se, por um lado, Deus é o nosso “Papai”, por outro ele é o “Papai do Céu”. Leon Morris afirma que “Não podemos perder o balanço dessa abertura da oração. Nós chamamos a Deus intimamente como Pai, mas imediatamente reconhecemos a sua grandeza infinita com o acréscimo de que estas nos céus”.[2] J. I. Packer, nos relembra que “céu aqui não pode significar um lugar remoto de nós no qual ele habita”, mas aponta para a ideia de que Deus “existe em um plano [dimensão] diferente da nossa, em vez de um lugar diferente”.[3] Calvino, por sua vez, afirma que essa expressão “nos dá uma ideia sublime do poder de Deus”. Ele também diz:
Quando se diz que Deus está no céu, não devemos supor que ele habite somente ali; mas, ao contrário, devemos lembrar do que se diz em outra passagem que “o céu dos céus não te podem conter” (2Co 2.6). Esse modo de expressão o separa da categoria das criaturas e nos relembra que, quando pensamos sobre ele, não podemos formar nenhum concepção diminuta ou terrena: pois ele é maior do que o mundo inteiro.[4]
Quando oramos Pai nosso “que estás nos céus”, portanto, devemos nos lembrar de que o nosso Deus, embora graciosamente nos tenha adotado como filhos (aqueles que crêem em Cristo), continua sendo transcendente, grandioso e digno de temor. Vejamos alguns textos bíblicos que nos relembram da transcendência de Deus:
Isaías 63.15 Atenta do céu e olha da tua santa e gloriosa habitação. Onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura do teu coração e as tuas misericórdias se detêm para comigo!
Salmos 115.3 No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada.
Isaías 66.1 Assim diz o SENHOR: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso?
Salmos 103.19 Nos céus, estabeleceu o SENHOR o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo.
Salmos 2.4 Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles.
Deuteronômio 26.15 Olha desde a tua santa habitação, desde o céu, e abençoa o teu povo, a Israel, e a terra que nos deste, como juraste a nossos pais, terra que mana leite e mel.
Salmos 80.14 Ó Deus dos Exércitos, volta-te, nós te rogamos, olha do céu, e vê, e visita esta vinha…
Assim, ao orarmos “Pai Nosso que estás nos céus”, impressionados ante a grandeza e sublimidade desse Deus único e boquiabertos frente à sua glória, devemos nos lembrar da nossa pequenez e de que somos chamados para viver para a glória dele, refletindo os valores dele e buscando a expansão do reino dele.
Eclesiastes 5.2 Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.
Efésios 1.3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo,
Lamentações 3.41,49-50 Levantemos o coração, juntamente com as mãos, para Deus nos céus, dizendo: Os meus olhos choram, não cessam, e não há descanso, até que o SENHOR atenda e veja lá do céu.
Neemias 9.5-6 Levantai-vos, bendizei ao Senhor, vosso Deus, de eternidade em eternidade… Bendito seja o nome da tua glória, que ultrapassa todo bendizer e louvor. Só tu és SENHOR, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora.
Assim, ajuntando-nos ao exército dos céus e a toda a criação, digamos: Seja louvado, Pai nosso que estás nos céus!
[1]John MacArthur Jr, Alone with God [2]Leon Morris, The Gospel according to Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1992, p. 145 [3]J.I. Packer, Growing in Christ, p. 168 [4]Calvin, Commentary on a Harmony of the Evangelists Matthew, Mark, and Luke, p. 318.