Como eu disse no último post, neste e no(s) próximo(s) pretendo apresentar alguns pensamentos sobre textos que me saltaram a vista na leitura bíblica concluída em 2014 no Logos Bible Software. Neste post vou abordar Gênesis 37–50; Êxodo 2.23–3.18 e Êxodo 18.1-12.
“Seus irmãos lhe tinham ciúmes” (Gn 37.11)
Ao ler novamente a história de José, chamaram-me a atenção os paralelos que existem entre José e Jesus Cristo.
– Ambos foram vendidos
– Ambos foram traídos
– Ambos foram perseguidos por inveja e ciúmes
– Ambos foram para o Egito
– Ambos foram salvadores do povo e de todo mundo
– Ambos foram duramente tentados
– Ambos “voltam” para casa: os ossos de José são levados para Canaã, Jesus ressurge.
– Ambos perdoam seus traidores
– Ambos atuaram como reis, profetas e sacerdotes
– Ambos são o filho predileto
– Ambos são reverenciados pelos seus irmãos
José foi um tipo de Jesus Cristo. Com sua fidelidade a Deus (pela graça) ele foi um instrumento para a preservação da semente santa, alguém que preservou a vinda de Jesus Cristo. Neste último sentido, o José filho de Jacó representa também o José, pai de Jesus, como aquele que foi escolhido por Deus para proteger o filho encarnado de Deus.
Êxodo 2.23–3.18
Esse texto nos revela muito a respeito de Deus, sua obra e pessoa, bem como sobre um padrão reconhecível na Escritura sobre a vida do povo de Deus. O contexto é de sofrimento e opressão do povo de Deus pelos egípcios. Em meio ao sofrimento, o povo de Deus, clama ao Senhor. Deus ouve, vê, atenta e se lembra de que esse é o seu povo (aliança). Deus levanta um libertador. O resultado é uma maior revelação de Deus e a libertação do seu povo. Deus nesses versículos se revela como Yahweh, Deus, “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”, “Eu Sou o Que Sou”, “Deus dos Hebreus” e “Senhor, nosso Deus”.
Como disse, o padrão de sofrimento, clamor (salmos de lamento) e ação salvífica de Deus por meio de um mediador é repetido à exaustão na Bíblia. Com isso, Deus nos ensina que (1) nós vivemos em um mundo quebrado e amaldiçoado e, por isso, como povo de Deus nós inevitavelmente vamos sofrer. (2) Em meio ao sofrimento, temos o direito e o dever de clamar a Deus (e temos liberdade de expressão diante dele). (3) Ele, o Senhor da Aliança, o Deus de nossos pais, o Eu Sou o que Sou, nos ouvirá, verá e virá em nosso favor, como já fez, de maneira definitiva em Cristo Jesus.
A resposta do povo da aliança a esse padrão de sofrimento – clamor – ação salvífica de Deus é: Louvor! “E o povo creu; e, tendo ouvido que o Senhor havia visitado os filhos de Israel e lhes vira a aflição, inclinaram-se e o adoraram”. (Êxodo 5.31)
Não e exagero dizer que esse padrão pode ser encontrado no livro dos Salmos, na história de Israel (várias vezes) em diversos livros bíblicos e na história de Deus como um todo (eis a razão de Apocalipse ser um dos livros em que mais encotramos louvor na Bíblia).
Êxodo 18
Esse foi um dos textos que mais me chamou a atenção no ano passado e virou um sermão intitulado “A Conversão de Jetro”. Jetro, também chamado de Reuel, era o sogro de Moisés (veja Êx 2.16-22, 3.1 e 4.20). Ele é chamado de sacerdote de Midiã. Os midianitas eram descendentes de Abraão (Gn 25.1-4) e foram os compradores de José (Gn 37). O rei dos midianitas foi quem contratou Balaão para amaldiçoar o povo de Israel e guerreou contra Israel (Nm 22, 25 e 31). Os midianitas oprimiram os judeus na época dos juízes, e Gideão foi o libertador (Jz 6-8). Na época de Jetro, os midianitas provavelmente ainda tinham alguma noção do Deus de Abraão (500 anos depois), mas, ao mesmo tempo, estavam envolvidos em muita idolatria, o que coloca Jetro na posição de um sacerdote idólatra. Como Jetro de converteu a Yahweh?
O texto mostra os seguintes passos da conversão de Jetro. (1) Ainda em sua terra, ele ouviu falar dos atos de Deus (18.1). (2) Vindo encontrar-se com Moisés, e sendo muito respeitosamente tratado por esse, ele ouviu a narração dos atos salvíficos de Deus por parte de Moisés (18.8). (3) Ele se alegrou (18.9), (4) louvou a Yahweh (18.10), (5) constatou por experiência própria (18.11), (6) apresentou uma oferta (18.12) e comeu diante do Senhor (santa ceia, 18.12).
Em suma, mesmo no Antigo Testamento, Deus já tinha o objetivo de salvar pessoas de fora de Israel (Raabe, Rute, Naamã, Nabucodonosor, Ninivitas). Ainda hoje, Deus continua salvando pessoas e todos são convidados a encontrar a alegria que Jetro encontrou no Deus de Israel por meio de Cristo. Como cristãos, devemos ser o megafone de Deus na terra, aqueles que anunciam o que ele tem feito na história e em nossas vidas.