Em Lucas 4.18-19, Jesus define o seu ministério usando Isaías 61.1-2. Vários estudiosos afirmam que Lucas 4 é fundamental para o resto do terceiro evangelho, pois realmente define os temas mais importantes que serão desenvolvidos ao longo da obra, como Espírito Santo, culto, Antigo Testamento, Evangelho, Jubileu e reversão, perseguição e a morte de Jesus, por exemplo.
Alguns fatos interessantes são que, embora os três evangelistas sinóticos narrem a ida de Jesus à sinagoga (Mt 13.54-58 e Mc 6.1-6) somente Lucas cita Isaías 61.1-2 nesse contexto. Lucas é dependente do texto grego da Septuaginta (LXX), mas faz uma pequena edição no mesmo, acrescentando uma linha de Isaías 58.6 e excluindo a cura dos quebrantados de coração e a pregação do dia da vingança e consolo a todos os que choram.
Veja tabela: Comparação de textos da citação de Isaías 61 em Lucas 4.18-19
Jesus foi ungido de maneira perfeita, “e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3.22). É essa unção com o próprio Espírito, além de sua identidade divina, que o torna o Cristo (o ungido).
Essa vinda do Espírito sobre Jesus teve dois objetivos: o Espírito ungiu Jesus e o Espírito enviou Jesus. A unção, Jesus define, foi para evangelizar os pobres (εὐαγγελίσασθαι πτωχοῖς). Lucas demonstra um cuidado especial pelos pobres em seu evangelho, sendo esse um tema mais pronunciado nesse evangelho do que nos demais.
A vinda do Espírito sobre Jesus também teve como consequência o fato de que Jesus foi enviado: (1) para proclamar libertação aos cativos e restauração de vista aos cegos; (2) para pôr em liberdade os oprimidos e para (3) pregar o ano aceitável do Senhor.
O ministério de Jesus, à luz de Lucas (à luz de Isaías) foi um ministério definido pela vinda do Espírito sobre ele; unção para pregar aos pobres e envio para agir libertar os que sofrem anunciando-lhes que chegou a hora de aceitar o Senhor.
Jesus é o nosso paradigma e, como o próprio Lucas mostra claramente em Atos dos Apóstolos, essas mesmas realidades são verdadeiras para a igreja de Cristo. Nós também recebemos o Espírito sobre nós (Atos 2). Cada um de nós recebeu poder para testemunhar (Atos 1.8) e responsabilidade de agir em prol de aliviar o sofrimento alheio.
Não podemos cair no erro de viver de forma egoísta, buscando sonhos e valores que tem prazo de validade. Somos chamados para, a exemplo de Jesus, pregar o evangelho aos pobres e aliviar as mazelas dos sofredores. Fazer e ensinar (Atos 1.1), esse foi o ministério de Jesus, da igreja em Atos e esse deve ser o nosso ministério também.