1 Quando algum de vocês tem uma questão contra outro, como se atreve a submeter isso a juízo diante dos injustos e não diante dos santos?
2 Ou vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vocês, será que vocês não são competentes para julgar as coisas mínimas?
3 Por acaso vocês não sabem que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!
4 Portanto, quando precisam julgar negócios terrenos, por que vocês constituem como juízes aqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja?
5 Digo isso para a vergonha de vocês. Será que não existe nem ao menos um sábio entre vocês, que possa julgar entre seus irmãos?
6 Mas um irmão vai a juízo contra outro irmão, e isto diante de não crentes!
7 O simples fato de moverem ações uns contra os outros já é completa derrota para vocês. Por que não preferem sofrer a injustiça? Por que não preferem ficar com o prejuízo?
8 Mas vocês mesmos cometem injustiça e causam prejuízo, e isto aos próprios irmãos!
9 Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem homossexuais,
10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o Reino de Deus.
11 Alguns de vocês eram assim. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.
INTRODUÇÃO
Se nós queremos uma ilustração bíblica dessa passagem, em que alguns princípios desse texto são colocados em prática, basta lembramos de Atos 6.1–7. Logo no início da igreja cristã, aquela primeira igreja formada — a igreja de Jerusalém — já apresentava alguns problemas. Um desses problemas era a divisão entre irmãos em questões sociais.
Atos 6 narra acerca da murmuração dos “helenistas” contra os “hebreus”, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
Os helenistas não eram gentios, pois não havia gentios na igreja até esse ponto (como o próprio livro de Atos dá a entender mais tarde), mas trata de judeus simpatizantes às influências do helenismo (cultura grega) — provavelmente judeus da dispersão que tinham retornado à Jerusalém. Levavam nomes gregos e é de supor que além do aramaico da região, falavam também o grego.
A dispersão serviu aos propósitos divinos, pois foi durante aquele período que a Septuaginta (72 anciãos hebreus — Ptolomeu II) foi escrita e as sinagogas foram plantadas. A septuaginta seria a versão usada pelos autores do Novo Testamento e a que formou o pensamento dos cristãos do primeiro século. As sinagogas seriam estratégicas para o apóstolo Paulo mais tarde na propagação do evangelho.
Portanto nós vemos que logo em Atos 6, no início da igreja cristã, a igreja de Jerusalém já tinha que lidar com problemas internos.
Como aquela igreja resolveu aquele problema social?
Diz o texto que a igreja resolveu esse problema internamente, não levou ao sinédrio, nem à corte romana.
A igreja escolheu entre eles homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, para serem diáconos e resolverem esses conflitos internos.
Se de um lado Atos nos mostra que desde o seu início a igreja tinha conflitos, por outro lado Atos também nos mostra que Deus concede sabedoria à igreja local, dons ao seu povo, diáconos, para resolvermos os nossos conflitos internos.
Paulo faz a mesma coisa nesse texto:
– Ele não nega que há conflitos no meio da igreja. Não apela à uma visão utópica e somente positiva sobre a vida da igreja.
“1 Quando algum de vocês tem uma questão contra outro…”
Paulo sabe que essas “questões” existirão em nosso meio…
– Ao mesmo tempo ele exige sabedoria para tratarmos os problemas que envolvem o dia a dia da igreja.
Veja como a palavra chave nessa passagem é “julgar” – é disso que Paulo está tratando aqui, questões que a igreja local deveria tratar/julgar internamente…
DOIS CONTEXTOS: HISTÓRICO E LITERÁRIO
Histórico
. Em Corinto os magistrados locais eram claramente contra os pobres e os fracos.
. Esses magistrados eram escolhidos pela elite para arbitrar questões civis e financeiras e não criminais (isso pertencia ao governador)
. Os jurados tinham que ser ricos e eram os cidadãos preferidos do império romano.
. Ninguém poderia abrir um processo contra alguém que fosse de classe social mais elevada, mas somente o inverso.
. O sistema favorecia sempre os mais ricos e poderosos, que manipulavam os resultados por meio de suborno, pressão social, “amigos especiais” e influência naquela cidade.
. Um cristão mais humilde da igreja de Corinto, quando levado ao tribunal da cidade, nunca teria chance de um julgamento justo, mas seria sempre humilhada e defraudado.
Em Atenas
. Se houvesse uma disputa se recorria em primeiro lugar ao árbitro privado. Nessa ocasião cada parte elegia um árbitro, e logo se escolhia um terceiro de comum acordo, para que agisse como juiz imparcial.
. Caso não se conseguia resolver o assunto desta maneira, era encaminhado a um tribunal conhecido como “o dos Quarenta” (árbitro público, acusação que ocupavam todos os cidadãos de Atenas de sessenta anos de idade).
. Havia casos em que os tribunais podiam ter mais de mil membros e alguns chegavam até seis mil. Eram constituídos por cidadãos atenienses de mais de trinta anos de idade.
Os gregos eram em realidade famosos por sua afeição a recorrer aos tribunais judiciais.
Defraudar e prejudicar uma pessoa naquela cidade era algo comum! A motivação nem sempre era buscar a justiça, pelo contrário, cometer injustiça usando o próprio sistema legal!
Esses irmãos em Corinto entenderiam essas palavras de Paulo perfeitamente. Eles estavam acostumados com esse contexto de julgamentos públicos…
Literário
No capítulo 1–4, Paulo tratou das divisões partidárias: membros com preferências de líderes e se dividindo por causa disso.
No capítulo 5, Paulo tratou de uma imoralidade no meio da igreja — um homem possuindo a mulher do seu pai, madrasta. E a orientação de Paulo foi que a igreja deveria tratar esse caso, expulsando o imoral do meu deles!
No final do capítulo 6 e em todo o capítulo 7, Paulo volta a tratar da questão da imoralidade sexual.
Problemas teológicos e disciplinares, pertencem à igreja local!
Não acredito que Paulo enquadre todos os problemas que podem acontecer na vida da igreja nessa passagem — assassinato, abuso infantil, entre outros que cabem ao Estado resolver — mas que esteja tratando dos problemas menores (dentro desse contexto) que cabe à igreja resolver: doutrina, organização da igreja e ética.
Aplicação: veja a importância de uma igreja praticar a disciplina eclesiástica corretamente!
Se uma igreja não freia a imoralidade dentro dela através da disciplina, esses irmãos não têm a quem recorrer!
Mas Paulo só escrever o capítulo 6, se o capítulo 5 for uma prática na vida da igreja! Que esperança há para uma igreja local quando não há nenhum padrão de resolução de conflito dentro dela? Só restaria a esses irmãos recorrerem fora dela mesmo…
Igrejas que não realizam a disciplina bíblica forçam seus membros à exportem todo tipo de problema aos magistrados civis! Isso é uma grande vergonha para a igreja e o testemunho de Cristo! Veja a importância da ordem na vida da igreja…
O capítulo 6 pressupõe a disciplina eclesiástica!
Com isso em mente, vamos ao texto….
1. A VERGONHA DA IGREJA (6.1–7a)
Veja no verso 5 que Paulo diz o porque escrevia esse texto a eles:
5 Digo isso para a vergonha de vocês.
Paulo tinha dito em 1Co 4.14:
Não escrevo estas coisas para que vocês fiquem envergonhados; pelo contrário, para admoestá-los como meus filhos amados.
O que nós aprendemos aqui com Paulo é que existem momentos em que a igreja precisa ser fortalecida e encorajada com carinho vindo de um pai, mas outras vezes a igreja precisa de dura repreensão e se sentir envergonhada.
Comunidade pactual
O que choca aqui, é que embora somente “alguns” irmãos estivessem pecando, TODA a igreja foi repreendida! “Vergonha de vocês”!
1 Quando algum de vocês tem uma questão contra outro…
Vocês não sabem que um pouco de fermento faz toda a massa ficar fermentada?
1 Coríntios 5:6
Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele.
Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo.
1 Coríntios 12:26,27
Js 7 — Acã
Mais uma vez vemos esse conceito de comunidade pactual nessa passagem!
Paulo não está para brincadeira aqui, ele reconhece que esse problema era seríssimo na vida da igreja local…
Percebemos isso no próprio modo de argumentar do apóstolo. Ele usa:
. Perguntas retóricas (2–4, 5b-6, 7b)
. Sarcasmo (5)
. Ameaças (8–11)
Era um problema gravíssimo!
Qual era o problema?
1 Quando algum de vocês tem uma questão contra outro, como se atreve a submeter isso a juízo diante dos injustos e não diante dos santos?
O problema era que ao invés de tratarem os problemas internamente, esses irmãos estavam tornando essas questões públicas, recorrendo aos magistrados.
“uma questão”
O que Paulo tem em mente quando diz “uma questão contra o outro”?
2 Ou vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vocês, será que vocês não são competentes para julgar as coisas mínimas?
3 Por acaso vocês não sabem que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!
4 Portanto, quando precisam julgar negócios terrenos
Aparentemente são coisas que poderiam ser facilmente tratadas e resolvidas no meio da igreja — coisas mínimas — questões pequenas — no contexto próximo seria “divisão partidária” e “imoralidade sexual”.
Estava tudo invertido nessa igreja!
. Capítulo 4, eles estavam colocando o apóstolo Paulo em julgamento:
Pouco me importa ser julgado por vocês ou por qualquer tribunal humano; de fato, nem eu julgo a mim mesmo.
1 Coríntios 4:3
. Capítulo 5, eles estavam sendo negligentes com os pecados internos e julgando os de fora!
12 Pois, como haveria eu de julgar os de fora da igreja? Não devem vocês julgar os que estão dentro?
13 Deus julgará os de fora. “Expulsem esse perverso do meio de vocês”.
1 Coríntios 5:12,13
E agora, quando iam julgar os de dentro, julgavam com os magistrados de fora! Tudo invertido!
A mentalidade judaica de Paulo…
A mentalidade judaica de Paulo
Paulo como um bom judeu que era, está usando o mesmo padrão que era usado no judaísmo em que as questões legais eram sempre tratadas entre o povo e nunca recorriam aos gentios para isso.
Exemplo: Velho Testamento
O julgamento deveria ser levado perante os anciãos nos “portões” (Juízes 8:16; Rute 4:2; Jó 29: 7–8).
Enquanto isso, Boaz subiu à porta da cidade e sentou-se ali exatamente quando o resgatador que ele havia mencionado estava passando por ali. Boaz chamou-lhe e disse: “Meu amigo, venha cá e sente-se”. Ele foi e sentou-se.
Boaz reuniu dez líderes da cidade e disse: “Sentem-se aqui”. E eles se sentaram.
Rt 4.1–2
“Quando eu ia à porta da cidade e tomava assento na praça pública;
quando, ao me verem, os jovens saíam do caminho, e os idosos ficavam de pé;
os líderes se abstinham de falar e com a mão cobriam a boca.
Jó 29.7–9
Com base em Exod. 21: 1 os rabinos haviam concluído que era ilegal para os judeus levar seus casos perante os tribunais de justiça dos gentios:
“São estes os estatutos que você apresentará aos filhos de Israel…”
Um rabino uma vez disse: “Em qualquer lugar onde você encontra tribunais pagãos, mesmo que sua lei seja a mesma que a lei israelita, você não deve recorrer a eles, uma vez que diz: ‘Estes são os julgamentos que trarás diante deles’ isto é, ‘antes deles’ e não antes dos pagãos ”(Soncino).
Na época de Paulo, os romanos haviam concedido aos judeus a liberdade de resolver questões internas, pelo menos em Jerusalém (vemos isso em Atos): Exemplo Gálio, proconsul da Acaia (At 18.12–16).
15 Mas, visto que se trata de uma questão de palavras e nomes de sua própria lei, resolvam o problema vocês mesmos. Não serei juiz dessas coisas”.
16 E mandou expulsá-los do tribunal.
At 18.15–16
Para um Judeu que recebeu a lei divina como instrução para a vida, seria uma ofensa recorrer a um magistrado pagão…
Paulo tem isso em mente aqui — resolver questões mínimas fora da igreja era inaceitável!
como se atreve a submeter isso a juízo diante dos injustos e não diante dos santos?
“Injustos (adikos)”
– Condição espiritual — situação do incrédulo perante Deus:
.Ele contrapõe com os “santos” (1)
.Ele os descreve simplesmente como “não crentes” (6) — Mas um irmão vai a juízo contra outro irmão, e isto diante de não crentes!
IMPORTANTE:
Paulo não era contra o governo ou contra qualquer ação legal que as vezes devemos recorrer, mas sim com o fato de as “coisas mínimas” serem levadas a público sendo que poderiam ser resolvidas na própria comunidade!
Calvino (estudou direito em duas universidades francesas antes de se tornar teólogo)
“Se o magistrado possui autoridade, porque somos impedidos de proteger nossos direitos em seus tribunais? Minha resposta é que Paulo, aqui, não condena os que, por força de circunstâncias, precisam entrar com processo legal perante os juízes incrédulos, por exemplo, a alguém que é intimado a comparecer em tribunal; mas ele acha danoso alguém, por sua própria conta, levar seus irmãos ali, e fazer-lhes injúrias, por assim dizer, às mãos de incrédulos, quando outro remédio lhes está disponível. Portanto, é grave tomar a iniciativa em instaurar processos contra irmãos num tribunal de incrédulos.”
Os coríntios estavam lavando sua roupa suja em público! Deveriam resolver de acordo com Mt 18 e 1Co 5!
MAS POR QUE ISSO ERA UM GRANDE PROBLEMA PARA PAULO?
Porque comprometia a própria natureza da igreja! Aquilo que ela é.
O lugar de destaque de Deus a conferiu!
2 Ou vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vocês, será que vocês não são competentes para julgar as coisas mínimas?
Ou vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo?
O próprio Jesus ensinou que seguidores agiriam como juízes no final dos tempos (Mt 19:28; Lc 22:30; veja também Ap 20:4).
Jesus lhes disse: “Digo-lhes a verdade: Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.
Mateus 19:28
Vi tronos em que se assentaram aqueles a quem havia sido dada autoridade para julgar. Vi as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus. Eles não tinham adorado a besta nem a sua imagem, e não tinham recebido a sua marca na testa nem nas mãos. Eles ressuscitaram e reinaram com Cristo durante mil anos.
Apocalipse 20:4
A linguagem do Antigo Testamento Grego (Septuaginta) também implica isso em Daniel 7:22, onde diz: “o julgamento foi dado aos santos do Altíssimo”.
se perseveramos, com ele também reinaremos
2 Timóteo 2:12
Aplicação: A linguagem positiva da bíblia quanto aos crentes para o último dia
Veja a segurança que os santos em Jesus têm para esse último dia. Veja como a linguagem é positiva a nosso favor.
Sempre que a bíblia fala do julgamento dos cristãos é com um tom positivo — aqui diz que nós não seremos condenados, pelo contrário, julgaremos o mundo!
O mandato cultural que foi dado à Adão e Eva de reinarem sobre a criação, agora é reestabelecido e cumprido fielmente por todos!
Deus nos convida a participar de um momento decisivo desse universo! É maravilhoso pensar nisso…!
Hoje, por causa do nosso pecado, tememos a justiça! Mas há de chegar um dia que contemplaremos o justo juiz perfeitamente e amaremos a sua justiça!
2 Ou vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vocês, será que vocês não são competentes para julgar as coisas mínimas?
A resposta aqui deveria ser um alto “SIM!”
A palavra “julgar” aqui é kritērion — Falatava discernimento e sabedoria entre eles para julgar as coisas pequenas — mínimas — triviais!
Paulo diz mais…
3 Por acaso vocês não sabem que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!
Por acaso vocês não sabem que havemos de julgar os próprios anjos?
. Anjos maus
Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo.
2Pe 2.4
E aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande Dia.
Jd 6
Quanto mais as coisas desta vida!
Paulo usa o argumento do “maior para o menor”. Vamos julgar o mundo e os anjos caídos, esse é o status conferido à igreja. Por que não viver a partir dessa realidade?
Aplicação: Escatologia para Paulo
O uso de escatologia para Paulo é mais do que curiosidade teológica, mas tem implicações práticas na nossa ética!
Nós ficamos tão presos em “milênio” e os “períodos de tribulações” (pré-milenistas, amilenistas, pós-milenistas, pré-tribulacionistas, pós-tribulacionistas, dispensacionalistas, etc.)
Como que essas verdades impactam a nossa existência?
Veja que para Paulo, escatologia deveria moldar a nossa ética, a nossa maneira de viver! É assim que devemos estudar escatologia!
NÃO RESOLVER QUESTÕES INTERNAS CONTRADIZ COM A NATUREZA DA IGREJA!
4 Portanto, quando precisam julgar negócios terrenos, por que vocês constituem como juízes aqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja?
(NVI)
Portanto, se vocês têm questões relativas às coisas desta vida, designem para juízes os que são da igreja, mesmo que sejam os menos importantes.
1 Coríntios 6:4
Objeção: Qual seria a objeção dessa igreja?
Paulo, nós entendemos que devemos julgar as nossas questões internamente. Mas não temos nenhum advogado no nosso meio ou um juiz (exemplo). Não temos ninguém preparado para tal tarefa, por isso levamos ao tribunal público!
Como um bom professor e mestre que era, Paulo antecipa esse questionamento e diz: “Até o menos importante entre vocês podem ajuda-los nessas questões…”
Paulo está demonstrando a capacidade da família da fé nessas questões da vida da igreja!
5 Digo isso para a vergonha de vocês. Será que não existe nem ao menos um sábio entre vocês, que possa julgar entre seus irmãos?
Aqui Paulo toca na ferida deles agora…veja o que ele diz: Será que não existe nem ao menos um sábio entre vocês que possa julgar entre seus irmãos?
Qual era o dom que esses irmãos tanto valorizavam? “Sabedoria”!
14x “sabedoria” aparece nessa carta.
10x “sábio” apareceu até aqui. Essa é a ultima vez que “sábio” aparece!
Parece que Paulo agora provou seu ponto a eles: não são tão sábios quanto pensam ser.
Se sabedoria é o conhecimento aplicado à realidade, esses irmãos estavam provando exatamente o contrário!
A “sophia divina” que achavam que possuíam não condizia com a prática.
A sabedoria é comprovada pelas obras que a acompanham.
Mateus 11:19
Exemplo: sabedoria dos bodes — Lutero
No livro “Conversas à mesa de Lutero”, Lutero usa a metáfora de dois bodes que se encontram numa ponte estreita sobre águas profundas. Não há espaço para dois bodes passarem, só um.
Como eles se comportam, pergunta Lutero?
A natureza lhes ensinou que se um se abaixa e permite que o outro salte sobre ele, ambos permanecessem salvos.
Do mesmo modo as pessoas deveriam antes suportar a serem pisadas do que cair em debates e divergir entre si.
Como você se sente quando percebe que até os bodes resolvem suas questões melhores que a gente? Humilhado!
É isso que Paulo está fazendo aqui…
Vocês não são sábios? Lutero diria: até os bodes sabem como proceder!
6 Mas um irmão vai a juízo contra outro irmão, e isto diante de não crentes!
Mas os sábios, queriam julgar suas causas perante os descrentes!
Um dia os “irmãos” estarão julgando o mundo e os demônios, mas enquanto isso prosseguem julgando a si mesmo.
É uma completa incoerência! Uma completa derrota….
7 O simples fato de moverem ações uns contra os outros já é completa derrota para vocês.
Derrota
Para os corintios, ganhar a causa contra um irmão era uma vitória, mas para Paulo, uma completa derrota!
Para vocês
Se a vergonha era de toda a igreja, agora a derrota é de toda a igreja.
Mais uma vez, o pecado de alguns, implicou na derrota de todos!
É POSSÍVEL ESTARMOS EM CRISTO E VIVERMOS COMO DERROTADOS, QUANDO VIVEMOS ENVERGONHANDO NOSSOS IRMÃOS E A NOIVA DE CRISTO COM A CONDUTA MORAL!
2) A MOTIVAÇÃO CRISTÃ (7b-11)
Por que não preferem sofrer a injustiça? Por que não preferem ficar com o prejuízo?
8 Mas vocês mesmos cometem injustiça e causam prejuízo, e isto aos próprios irmãos!
Paulo não só se preocupou em apontar o que caracterizava a vergonha daquela igreja, mas o porquê eles estavam agindo assim.
O que motivavam esses irmãos a irem aos tribunais públicos contra seus irmãos?
8 Mas vocês mesmos cometem injustiça e causam prejuízo, e isto aos próprios irmãos!
A motivação desses irmãos não era a justiça sendo cumprida de fato, pelo contrário, era humilhar e ver a injustiça sendo feita!
Esses irmãos sabiam que naqueles tribunais injustos, eles teriam vantagens sobre seus irmãos…
A motivação era a defraudação, a ganância, o orgulho!
Aplicação:
Você não conhece pessoas que agem assim?
Que em nome de “justiça” realizam “injustiça”?
Conhece pessoas que caem no papo de advogados imorais que propõe mais danos e perdas à outra parte acusada do que o que seria justo?
Deveríamos dar aos nossos advogados a “carta branca” de punir ao máximo os “nossos adversários”?
ESSES CRISTÃOS NÃO ESTAVAM EM BUSCA DE JUSTIÇA, MAS DE INJUSTIÇA EM TRIBUNAL HUMANO!
Qual deveria ser a nossa motivação então? Sofrer injustiça e prejuízo…
Por que não preferem sofrer a injustiça? Por que não preferem ficar com o prejuízo?
Jesus: “Se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa” (Mt 5.40 NVI; comparar com Lc 6.29,30).
Para Paulo a comunhão cristã deve ser levada tão à sério, que se for necessário, devemos ficar com o prejuízo, se isso resultar no bem do próximo e da igreja de Cristo.
Há uma tensão aqui…
De um lado nós entendemos que o Estado e a justiça são dádivas divinas que refreiam o mau e nós devemos fazer bom uso disso.
De outro lado nós não podemos usar a justiça com a motivação errada, mas motivados pelo amor ao próximo!
Se ao usarmos a justiça, estamos cometendo injustiça e defraudação, estamos errados no uso dessa justiça!
Aplicação:
Imaginem cristãos dispostos a perder…
Imaginem cristãos não agindo por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerando os outros superiores a si mesmos…Fp 2.3
Imagine cristãos que não somente cuidam dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros… Fp 2.4
Imaginem cristãos que entendem que há uma dívida a ser paga com o próximo, o amor — Rm 13.8
Imaginem cristãos que preferem dar honra um ao outro do que a si mesmos — Rm 12.10
Paulo está dizendo que…
Quando o Cristo for o nosso exemplo de conduta, nós trabalharemos para edificar o nosso irmão e faremos de tudo para que ele não seja prejudicado, mesmo que isso implique em prejuízo pessoal!
O viver cristão não é caracterizado pela busca do direito próprio em detrimento do irmão, mas em abrir mão até mesmo desse direito pelo bem do próximo — FOI ASSIM QUE CRISTO MORREU POR NÓS!
3. O ALERTA (9–11)
9 Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem homossexuais,
10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o Reino de Deus.
11 Alguns de vocês eram assim. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.
Por que Paulo trazer esse alerta aqui?
Porque se o estilo de vida desses crentes for caracterizada por cometer injustiça e causar prejuízo (verso 8) isso demonstra que eles são injustos (verso 9)!
Uma vida caracterizada por defraudar o irmão não é uma vida de um regenerado.
Paulo, portanto, traz um alerta para que eles analisem a fé que professam com a conduta prática — Não se enganem (9)
Exemplo: Aqueles que são caracterizados por esses pecados
Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer.
1 Coríntios 5:11
A LISTA DE PECADOS
Paulo cita 10 pecados muito conhecidos naquela cultura. Esses pecados são divididos praticamente em duas partes: 5 pecados sexuais e 5 pecados sociais.
Imorais (pornos)
Relações sexuais ilícitas ou entre uma pessoa casada e outra não casada, ou entre duas pessoas não casadas.
Idólatras
É curioso que Paulo coloque os idólatras entre “imorais” e “adúlteros”.
– Idolatria muitas vezes era fonte de perversão sexual (ver Rm 1.18–32). Exemplo: Templo de Afrodite!
Adúlteros (moichos)
Descreve o pecado sexual que uma pessoa casada comete com outra que está ou não está casada; resulta em quebrar o vínculo do casamento.
Afeminados (malakoi)
NVI — homossexuais passivos
É relacionada a homens e meninos que se permitem serem usados homossexualmente
No mundo romano o homossexual passivo era desprezado
O “homossexual” ativo não era reconhecido como tal, como homossexual ou gay… o ativo seja em relações hétero ou homo era aquele q tinha poder, e isso era não só tolerado, mas na verdade admirado na cultura romana.
Ao “passivo” destinava-se todo o deboche possível, como na cantiga q se cantava de Julio Cesar:
“Era homem de todas as mulheres de Roma, e mulher de todos os homens de Roma”
Homossexuais (arsenokoitai)
Em contraste, representa homens que iniciam práticas homossexuais (1Tm 1.10). São os parceiros ativos dessas práticas.
Quatorze dos primeiros quinze imperadores romanos praticavam este vício.
Ladrões
Era muito fácil entrar nas casas. Os ladrões frequentavam em especial dois lugares: os banheiros e os ginásios públicos nos quais roubavam as roupas dos que se estavam banhando ou fazendo exercícios. Roubavam escravos.
Avarentos
Buscava ganhar para poder gastar, obcecados por luxo e prazer.
Bêbados
methos — bebedores sem controle.
A inadequada provisão de água era a razão de que se bebesse tanto vinho.
Mas na luxuriosa Corinto abundava a embriaguez consuetudinária.
Maldizentes
Aqueles que falsamente acusam os outros, ou seja, fofoca!
Abuso verbal.
Roubadores/trapaceiros
Comunica a ideia de lobos vorazes para o âmbito do crime humano violento.
Associado a ganancia.
9 Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem homossexuais,
10 …nem roubadores herdarão o Reino de Deus. — ENFASE DE PAULO!
Se esses atos caracterizarem a vida de vocês, vocês não têm parte alguma no Reino de Deus!
Mas algo mudou na vida de vocês, diz Paulo…
Algo mudou quando vocês se arrependeram e colocaram fé em Cristo Jesus!
Brado de vitória!
11 Alguns de vocês eram assim…
A vida de vocês não é mais caracterizada por esses pecados!
Vocês foram transformados!
São novas criaturas…!
O que aconteceu?
“MAS” — 3X
foram lavados — o sangue de Cristo é considerado uma água pura que purifica todo pecado, cobre toda imundice! Dá conta de todos eles! Assim com um banho nos cobre por inteiro!
foram santificados — transforma a nossa natureza corrupta — há um novo princípio em nós!
foram justificados — apaga a lembrança de nossos pecados — temos o direito legal de estar perante Deus!
Tudo isso por causa do nome do Senhor Jesus Cristo…
Tudo o que precisamos está nele!
e no Espírito do nosso Deus.
Veja que a Trindade está envolvida na nossa salvação. Que amor recebemos — a Trindade fez a obra toda por nós.
O grande plano de salvação que Deus predestinou de tempos eternos, o Filho realizou na história e o Espírito aplica nas nossas vidas.
Pergunta:
Por que Paulo encerra seu argumento com o evangelho?
Para nos mostrar que não recebemos essas bênçãos por “direito”, mas por graça — o reino é uma herança que não conquistamos — “herdar”.
Sendo assim, se já estamos seguros, se recebemos tudo por graça, podemos suportar injúrias e prejuízos, pois já fomos ricamente abençoados!
A nossa herança não está no tribunal humano, mas no Reino de Deus!
APLICAÇÃO
Que possamos ser uma igreja sábia capaz de tratar seus problemas internamente.
Que nossas vidas sejam vividas a partir do evangelho, a ponto de honrarmos nossos irmãos e o testemunho da igreja local.
Que todos os pecadores dependam da obra de Cristo somente para sua salvação e transformação!
Amém!
Eu sou pastor Eduardo ,pastor da Igreja Filadelfia ,tenho gostado do seus estudos bíblicos.Deus te abençoe.