Roombas – É um tipo de aspirador robô e uma famosa marca deste tipo de produto. (Nota de edição)
Recentemente, um grupo de amigos estava discutindo como dividem as tarefas domésticas. Uma delas comentou que, após comprar um Roomba, seu marido respondeu: “Ei, não é justo! Não posso comprar algo para automatizar minhas tarefas!” Todos rimos. Mas a conversa despertou em mim uma questão sobre o que nos leva a automatizar certas tarefas e o que isso diz sobre como enxergamos o trabalho e o tempo.
À medida que a IA permite que mais dispositivos se tornem mais capazes, sou levado a reconsiderar uma pergunta que costumo fazer ao público cristão: Que tecnologia você acha que estará — ou não estará — no céu? Mais especificamente, por que (ou por que não) haveria Roombas no céu? E o que nossa resposta revela sobre nossa relação atual com a tecnologia, o trabalho e o tempo?
Uma visão renovada do céu: nova criação
Deixando um pouco de lado a questão dos Roombas, vamos considerar nossa visão do “céu”.
Como muitos evangélicos, cresci ouvindo que meu pecado me destinava ao inferno, mas que, se eu acreditasse em Jesus, então iria para o céu. Evitar o inferno parecia ótimo, mas eu secretamente me perguntava sobre a parte do céu. O céu seria realmente um bom lugar, eu me perguntava, se algumas das minhas coisas favoritas (como meu Nintendo) não estivessem lá?
À medida que amadureci teologicamente, comecei a perceber que a imagem que eu tinha de um céu com nuvens e portões perolados não era particularmente bíblica. Quando aprendi que a história das Escrituras não termina com um “fim de jogo” para a Terra, mas com a ressurreição (Jó 19:25–27; Sl 71:20; 1 Co 15:12–22) e uma nova criação (Is 65:17; Rm 8:18–21), uma nova Terra com uma cidade celestial (Hb 11:16; Ap 21:2), isso me deu esperança de que Deus se importa com coisas humanas normais, como estradas, trombetas e portões que se abrem para mesas com comida e bebida (Ap 19:7–10). Talvez meu Nintendo 64 não seja o maior dos bens humanos, mas essa nova Terra seria um lugar profundamente humano, restaurando a bondade da criação original de Deus, bem como nossa tarefa de governá-la (Gn 1:28) por meio do cultivo e da manutenção dela (Gn 2:15).
Tecnologia celestial?
Quando percebi que nosso destino final não é subir ao céu, mas que uma cidade celestial desceria para uma criação renovada (ver Apocalipse 21:10), comecei a me perguntar que outras ferramentas, máquinas e dispositivos poderiam estar naquela nova cidade.
Devemos admitir que não sabemos exatamente como será a nova criação e nossos corpos ressuscitados. As Escrituras retratam consistentemente a nova criação com a imagem física de uma terra com uma cidade, repleta de uma maravilhosa variedade de materiais físicos (Ap 21:18–21), relembrando a lista de itens no jardim (Gn 2:11–12). Ao mesmo tempo, há indícios de que a nova criação será diferente de maneiras maravilhosas deste mundo. A glória do Cordeiro significa que não haverá necessidade de um sol (Ap 21:23), e nossos corpos fortalecidos pelo Espírito serão gloriosamente imperecíveis (1 Co 15:42), poderosos (1 Co 15:43) e imortais (1 Co 15:53–54).
Paulo promete que nossos corpos serão como o “corpo glorioso” de Cristo (Fp 3:21), que os Evangelhos retratam como capaz de aparecer dentro de um edifício (Jo 20:19, 26) e desaparecer (Lc 24:31) à vontade. Ao mesmo tempo, Maria confundiu seu corpo ressuscitado com o de um jardineiro (Jo 20:15), e os efeitos da crucificação em seu corpo puderam ser vistos e tocados (Jo 20:27). Talvez o mais interessante de tudo seja que o Jesus ressuscitado fez uma fogueira na qual cozinhou peixes (Jo 21:7–14).
As aparições e atividades de Jesus após a ressurreição parecem apontar para algo além do nosso mundo físico atual, mas não algo que o deixe totalmente para trás. Podemos chamar isso de uma renovação “sobrenatural” de todas as coisas (Rm 8:19–23), onde até mesmo as ferramentas criadas pelo homem não serão destruídas, mas transformadas para o florescimento humano (Is 2:4).
**Com essa nova criação sobrenatural em mente, às vezes peço aos alunos do seminário e ao público da igreja que imaginem quais tipos de ferramentas poderíamos usar lá. Muitos não têm problemas em conceber coisas como utensílios para comer ou casas para morar. Eles também não hesitam em dizer o que não estará lá. Por exemplo, se Deus promete enxugar toda lágrima e eliminar o aguilhão da morte (Ap 21:4), parece que o equipamento médico seria desnecessário. Aleluia, se assim for!
Mas e quanto aos dispositivos de comunicação? Acho que a maioria das pessoas estremece ao pensar em ter “telefones” na eternidade, por exemplo. Muitas vezes me pergunto se isso acontece porque os telefones são realmente banais e “naturais” (1 Co 15:46) demais para uma nova terra, ou se nos falta a vontade e a imaginação para usar nossos telefones hoje de uma forma que honre a Deus. Da mesma forma, para muitos de nós, é difícil imaginar um lugar na nova criação para a inteligência artificial, seja em uma tela ou na forma de um robô. Mais uma vez, isso se deve à falta de lugar para tais criações em um mundo sobrenatural ou ao nosso senso distorcido da bondade do trabalho?
Por que os Roombas existem?
Tudo isso nos permite, finalmente, perguntar por que a humanidade criou os Roombas em primeiro lugar. Na verdade, há duas perguntas aqui:
1. Qual é o problema que estamos tentando resolver?
2. Por que precisamos de um Roomba e não de outra coisa para resolver o problema?
Pode parecer óbvio demais para mencionar, mas o problema que estamos tentando resolver é a poeira indesejada e outras coisas que chamamos de “detritos” no chão. Essas várias partículas podem chegar lá por nossa própria negligência, ao deixarmos coisas caírem ao longo do dia, pelas leis básicas da gravidade e do atrito, e pela decomposição de coisas que não conseguem se renovar.
Alguém poderia responder à nossa pergunta sobre o Roomba (“Eles estarão no céu?”) apontando para versículos específicos, como a imagem mencionada anteriormente da nova cidade não necessitar de um sol (Ap 21:23), e argumentar que talvez não haja sujeira que precise ser limpa também. Acho que isso é possível. No entanto, é difícil saber se os retratos escatológicos devem ser interpretados tão literalmente ou se estão oferecendo uma impressão mais ampla da maravilha da nova criação. Mas mesmo se tomarmos a ideia de ausência de sujeira literalmente, lembramos, novamente, que o Jesus ressuscitado cozinhou peixe (João 21:9–13) e que nos é prometido um banquete maravilhoso na nova cidade (Ap 19:6–9), o que parece sugerir que alguma forma de limpeza seria necessária.
Nosso objetivo aqui não é fornecer uma interpretação exata de cada imagem escatológica, mas recapturar a bondade original de trabalhar com ferramentas e mostrar que, mesmo na nova cidade, pode ainda haver necessidade de itens que auxiliem no trabalho de limpeza.
Apresentando o trabalho
Isso nos leva à segunda pergunta: Por que queremos que os Roombas façam nossa limpeza?
Limpar com as mãos é praticamente impossível, então os humanos, há muito tempo, usam a criatividade que Deus nos deu para criar ferramentas como vassouras e pás de lixo e, mais recentemente, aspiradores de pó portáteis, que tornam a limpeza possível.
Por que, então, queremos um robô para limpar nossos pisos? Acho que há duas razões principais: trabalho e tempo.
O relato da criação em Gênesis retrata o trabalho como uma parte fundamental do design humano. O próprio Deus modela um padrão de trabalho e descanso nos seis dias da criação e um sétimo dia de descanso. Ele então pede aos humanos que “cultivem e guardem” o jardim que Ele nos deu (Gn 2:15).
No entanto, a queda mudou a experiência do trabalho (Gn 3:17–19), introduzindo esforço e dor em muito do que fazemos. Em nosso mundo caído, a Bíblia continua a afirmar a bondade e a necessidade do trabalho (Ec 5:12; Pv 19:15; Ef 4:28; 1 Ts 4:11). No entanto, agora experimentamos certas tarefas como desumanizantes, brutais ou simplesmente difíceis. Se você já foi picado por espinhos ao colher amoras, se queimou tentando consertar um motor ou trabalhou em uma função com uma tarefa repetitiva e monótona, você entende por que os humanos inventam máquinas que permitem evitar trabalhos dolorosos, perigosos ou tediosos.
Mas isso me faz pensar: varrer o chão deve ser considerado trabalho? Esse tipo de trabalho é tão servil e abaixo de mim que preciso delegá-lo
completamente a um robô? Trabalho perigoso nas profundezas de uma mina, turnos de dezoito horas em uma fazenda, edição manual de milhares de registros de banco de dados — tudo isso parece trabalho. Mas, quanto mais inteligentes nossos dispositivos se tornam, mais tendemos a ver qualquer tipo de esforço como trabalho.
Quanto mais inteligentes nossos dispositivos se tornam, mais tendemos a ver qualquer forma de esforço como trabalho. No entanto, às vezes, atividades desconfortáveis são justamente as que nos moldam para nos tornarmos o tipo de pessoa que queremos ser.
No entanto, atividades desconfortáveis, como correr, memorizar e perdoar, são muitas vezes as mesmas que nos transformam no tipo de pessoa que queremos ser. Ser capaz de correr uma maratona é algo muito diferente de saber apenas a distância de uma maratona, e ser paciente com uma pessoa difícil é diferente de apenas conhecer versículos sobre paciência.
Espera-se que, no eschaton, o trabalho penoso desapareça, mas também que nossas atitudes e postura em relação ao trabalho sejam redimidas e reformadas de modo que nenhuma tarefa, por mais servil que pareça neste mundo, seja considerada abaixo de nós. Talvez ser conformado ao “corpo glorioso” do nosso Salvador (Fp 3:21) envolva uma maneira redimida de valorizar a servidão, trabalhando não para o progresso, mas para a glória de Deus e o amor ao próximo.
Tempo e morte
Alguns de nós gostamos de nossos Roombas não porque achamos que varrer o chão algumas vezes por semana é trabalhoso, mas porque acreditamos que ele faz algo para o qual nem sempre temos tempo. Em outras palavras, vemos o Roomba como algo que “economiza tempo”.
Embora o tempo em si seja parte da nossa condição de criatura, conceitos como “economizar tempo” estão mais profundamente conectados à queda do que podemos imaginar. O pecado introduziu a morte no mundo, e a morte é o que torna o tempo crucial. Deus nos deu um padrão de trabalho e descanso, mas antes do pecado e da morte, Adão e Eva tinham um número infinito de semanas, tornando o tempo que uma tarefa leva menos relevante do que é para nós hoje.
Em um mundo onde a morte paira no horizonte, as Escrituras frequentemente nos lembram da importância de usar bem o tempo. Os Provérbios alertam contra “um pouco de sono, um pouco de cochilo” (Pv 6:10), e Paulo nos diz para fazer “o melhor uso do tempo, porque os dias são maus” (Ef 5:16–17 NVI). Os jovens costumam sentir que têm “todo o tempo do mundo”, enquanto os de meia-idade experimentam uma urgência em realizar o máximo possível e evitar “perder tempo”. Dizemos aos pais jovens: “As noites são longas, mas os anos são curtos”, instando-os a não deixar esses momentos preciosos passarem.
Em resposta à natureza efêmera do tempo, criamos dispositivos que acreditamos que “nos darão mais tempo”. No entanto, embora nossos robôs e ferramentas de IA frequentemente reduzam o tempo de execução de uma tarefa, nem sempre fica claro o que fazemos com esse tempo extra. Realmente descansamos? Usamos esse tempo para cultivar uma habilidade que pode levar uma década para dominar? Ou preenchemos o vazio com mais realizações, entretenimento ou lazer que não satisfazem o que realmente ansiamos?
Agora, considere uma eternidade sem fim nos novos céus e nova terra — naquele universo onde o tempo é infinito, a ideia de “economizar tempo” se torna irrelevante. Se a varredura ainda precisa ser feita, o tempo que isso leva importa? Em termos maiores e mais imaginativos: se o comando de Deus para encher a terra se estender a todo o universo, quem se importa com quanto tempo leva para chegar a outra galáxia?
Trabalhar em um mundo de IA
Tentei argumentar que, no eschaton, o trabalho nunca será árduo e o tempo nunca será limitado, o que pode afetar os tipos de coisas que criamos e usamos. Se nenhum trabalho parecer penoso e nenhuma tarefa longa demais, talvez não desejemos criar máquinas para realizar o trabalho por nós. Ainda precisaremos de ferramentas que nos ajudem a realizar nossas tarefas, mas podemos considerar dispositivos que substituam completamente o trabalho como desnecessários ou até mesmo inadequados.
No entanto, nesta vida, o trabalho frequentemente é árduo, e o tempo sempre é limitado, então continuaremos criando ferramentas que esperamos que tornem a vida um pouco mais fácil e nos devolvam alguns momentos preciosos.
Ao mesmo tempo, também procurei mostrar que, em todo o nosso esforço para “economizar tempo”, às vezes desvalorizamos o próprio trabalho, incluindo tanto sua bondade inerente quanto sua capacidade de moldar positivamente nossos corpos e mentes. Também tendemos a resistir ao padrão de trabalho e descanso de Deus, preferindo realizar e acumular, muitas vezes nos privando da alegria e da conexão genuína. Em um mundo de IA e trabalhadores robóticos em rápido avanço, essa tentação e confusão só aumentarão, exigindo maior sabedoria e autocontrole.
No romance *Os Irmãos Karamazov*, o diabo é descrito como não tendo um relógio, porque Dostoiévski queria enfatizar que Satanás não tem um lugar real na história humana ou na era vindoura. Ele não tem trabalho a fazer nem corpo real no qual fazê-lo. Mas Deus escolheu nos colocar, portadores de Sua imagem, na criação e no fluxo do tempo.
Embora o pecado e a morte sejam realidades presentes, nos apegamos à esperança de que um dia a morte será derrotada (Is 25:8; 1 Co 15:26). Enquanto isso, oramos como o salmista para que Deus “nos ensine a contar os nossos dias” (Sl 90:12) e nos ajude a usar os “talentos” (Mt 25:14–30) que nos foram confiados. Vamos reconhecer o bom trabalho, fazer do verdadeiro descanso uma prioridade e criar e usar ferramentas que nos ajudem a alcançar isso com sabedoria.
Escrito originalmente por John Dyer: https://www.logos.com/grow/ai-technology-work-heaven/